Um sistema de transportes sustentável deve permitir: a possibilidade de selecção do transporte; o “ingresso” seguro e maciço dos cidadãos e empresas nas suas próprias necessidades capitais; o apreço pelos ecossistemas; o incentivo à integridade e inclusão social; a promoção da competitividade da economia; a legitimação de um progresso local mais contrabalançado; a diminuição da produção de ruído; e o decrescimento das telas de poluição.
Devemos seguramente acrescentar a estes “itens” que o transporte colectivo de passageiros contribui para a segurança rodoviária, democratização da mobilidade, diminuição de despesas, inferior congestionamento, redução do consumo de energia e sinistralidade, ocupações mais coerentes de utilização dos espaços físicos das cidades e decrescimento das necessidades de investimento em infra-estruturas rodoviárias.
Importa também mencionar que na maioria das cidades os transportes públicos são defeituosamente coordenados e pouco magnéticos, uma vez que os veículos são de duvidosa qualidade e não possibilitam o transporte de cargas; a fiscalização não inspecciona a sobrelotação dos mesmos; os equipamentos que os complementam muitas das vezes não existem ou têm múltiplas deficiências; a inflexibilidade dos horários mantém-se; as assiduidades não existem; os transbordos são uma constante; e as viagens demoram bastante mais tempo e são indigestas.
Existe a necessidade de se definir um conjunto de finalidades e princípios específicos em relação ao sector dos transportes. Somente desta forma se conseguirão nortear as políticas e projectos de desenvolvimento sustentável.
Será que o Governo e os responsáveis pelo sector dos transportes públicos ponderam, de modo cristalino, os impactos que esse sector provoca noutros sectores? Será que os transportes desfilam num sistema isolado? Será que o sector dos transportes não deve albergar um cunho evolutivo? Será que o mesmo não deve laborar de modo integrado com outros sectores?
As condições fundamentais que qualificam e influenciam a utilização dos transportes públicos são: a acessibilidade; o tempo necessário dentro dos veículos para percorrer o percurso; a confiança nos horários; a frequência com que passam nas paragens; a quantidade de passageiros que transportam; os actos de violência que muitas vezes ocorrem; a tecnologia e estado dos veículos; os planos de informação; e os equipamentos intrínsecos aos transportes públicos.
O sucesso da civilização requer um novo planeamento das cidades, bem como uma renovada consideração pelos espaços públicos. Os transportes representam somente uma prova de que há a obrigatoriedade de abraçar a mudança.
A Administração Central deve apoiar as autarquias com a finalidade de as mesmas promoverem, de modo eficiente, a utilização dos transportes colectivos tanto numa perspectiva de exploração directa, como de concessão.
Será que os transportes públicos não fazem parte de uma conferência pública? Será que os problemas que estão associados aos transportes públicos devem ser examinados de maneira individualizada?
Será que os problemas se resolvem unicamente com a motivação das pessoas para a utilização mais frequente dos mesmos?
Será que esses índices de motivação não se dissipam rapidamente por não possuírem alicerces sólidos? Será que a questão é simplesmente ética? Será que as campanhas de conscientização são uma solução eficaz?
Será que não é preciso instituir princípios e regulamentos que possibilitem o bem comum, assim como o alargamento das liberdades e emancipações de toda a população?
Existe uma sucessão de serviços públicos vinculados com o atendimento aos cidadãos. Quando públicos, os serviços não são inevitavelmente grátis, mas são habitualmente financiados pelos impostos cobrados aos cidadãos.
Neste entrecho, é salutar consignar que o Estado agasalha a obrigação de promover maiores taxas de imparcialidade no apoio financeiro concedido, uma vez que a disseminação do uso do transporte colectivo assume-se como algo muito importante.
O Estado não pode amamentar as disparidades, que contemporaneamente existem, nos parâmetros da qualidade de oferta.
Esta abordagem pouco democrática sobrevém não só da desigualdade do tratamento existente, como também da ausência de mecanismos financeiros disponíveis nas autarquias para perfectibilizar os serviços de transporte público.