Foi seguramente um “elemento” valoroso para a superfície dos encadeamentos de consumo e de marcas. Em Portugal, a adesão à Convenção-Quadro para Controle do Tabaco ocorreu em 9 de Janeiro de 2004, todavia a aprovação somente sobreveio através do decreto n.º 25-A/200 de 8 de Novembro de 2005, altura em que o País se comprometeu a “reforçar as suas políticas e medidas de protecção de gerações presentes e futuras dos efeitos devastadores não só em termos de saúde, mas também em termos sociais, ambientais e económicos, causados pelo consumo e pela exposição ao fumo do tabaco”. Será que o uso das “embalagens”, com a finalidade de difundir as perniciosidades do tabaco, não é controverso? Será que o mesmo não pode ser saboreado como uma espécie de invasão de privacidade? Será que o uso dessas embalagens não aconchega algumas fragrâncias inventariadas com a violação de propriedade intelectual? Será que as embalagens do tabaco são inofensivas e inócuas?
A aplicação de avisos ou de advertências nos maços de tabaco acabou por contestar as estratégias de marketing requisitadas pela indústria tabaqueira. Será que não é elementar identificar, investigar e explanar o impacto comunicativo concebido pelas mensagens antitabagistas vulgarizadas nos maços de cigarros? Será que as mensagens estão efectivamente a tolher o desejo de fumar? Será que as mesmas entusiasmam os fumadores a procurar ajuda no sentido de abandonar o vício?
Existe um antagonismo de prioridades entre a comunicação de massa e a comunicação no campo da saúde. A comunicação de massa, escoltada pelo marketing e pela publicidade, agasalha uma indumentária altamente comercial. Por sua vez, a comunicação no cabimento da saúde hospeda sobretudo uma inquietação ou vertente social. A primeira espelha simplesmente o comportamento da sociedade, tendo como propósitos o entretenimento, a persuasão e o lucro. A segunda comunicação ambiciona doutrinar e metamorfosear algumas condutas e procedimentos que desfilam na sociedade, tendo sempre como pano de fundo ou como objectivo principal o aperfeiçoamento da saúde pública. A publicidade, em diversas circunstâncias, é utilizada num reduzido espaço de tempo devido às características não só do seu conteúdo, como também das suas finalidades comerciais. A comunicação na área da saúde acaba por exigir e requisitar campanhas de longa duração para que a informação seja reiterada e objectivamente assimilada de modo a subsistir no pensamento dos cidadãos, ou seja do público-alvo. Será que durante um longo período de tempo, o consumo do tabaco não esteve conectado a contextos de prazer, de deleite, de estatuto e de sedução? Será que esse consumo não simbolizou texturas de rebeldia, de independência, de emancipação e de êxito? Será que essa imagem construída em redor do tabaco não surgiu da própria publicidade? Será que a publicidade não vendia um produto capaz de abreviar o stresse provocado pela segunda guerra mundial? Será que o acto de fumar não oferecia aos fumadores a mesma elegância e graciosidade dos actores de cinema? Será que, e apesar de múltiplas limitações legislativas aplicadas à indústria do tabaco, esta não tem descoberto várias configurações que permitem disseminar a sua mensagem? Será que a publicidade, de uma forma “subliminar”, não vai incentivando o consumo de tabaco? Será que o público jovem não é o mais desprotegido face aos fundamentos persuasivos da mesma?
É certamente oportuno referir que a nicotina assume a configuração de droga e as embalagens são parte integrante das estratégias de marketing para atrair, empolgar, prender e fascinar os consumidores. As embalagens de tabaco, principalmente devido ao facto de não serem descartadas depois de abertas, são degustadas como um ponto estratégico pelos fabricantes de cigarros ou empresas tabagistas. Na realidade, os maços de tabaco permanecem com os fumadores, escoltando-os ininterruptamente. Também funcionam como uma montra que exibe a marca para todos aqueles que estão em seu redor. Será que ao comunicar a marca que consome, o fumador não expressa o seu estilo, a sua imagem e até um pouco da sua personalidade? Será que não é por esta razão que os adolescentes são tão “sensíveis” ao chamamento das embalagens de tabaco? Será que em determinadas conjunturas, o estilo real não é ofuscado pelo estilo ideal que os fumadores desejam projectar entre os indivíduos do seu meio social? Será que não deveria existir uma rigorosa mensuração acerca do consumo de tabaco anterior à regulamentação das mensagens sanitárias de modo a ser exequível a avaliação do comportamento antes e depois da implementação das mesmas? Será que a linguagem textual que desfila nos maços de cigarros não é bastante impessoal, subjectiva e genérica? Será que em termos gerais não é uma linguagem pouco corajosa e arrojada?
Os cidadãos não se identificam com essas mensagens pelo facto de as mesmas estarem afastadas da sua realidade. Geralmente as pessoas somente se desassossegam com as texturas que efectivamente lhe dizem respeito. Será que as embalagens de cigarro não comunicam verdadeiramente? Será que os cidadãos não são egoístas por natureza? Será que as pessoas não têm uma atracção ou uma inclinação quase insuperável por tudo aquilo que é grotesco ou excêntrico? Será que os jovens têm medo da morte? Será que os mesmos não contemplam a morte como uma realidade muitíssimo afastada de si? Será que os jovens sentem os resultados dos malefícios do tabaco? Será que os adultos não vão “sentido na pele” esses mesmos malefícios? Será que não é preciso ver para crer? Será que o delineamento devia ser esse? Será que não é pertinente e importante dissecar o papel das advertências sanitárias nas embalagens de cigarro em Portugal?
Ninguém aprecia a visualização de um corpo dilacerado, contudo quando passamos por um determinado acidente manifestamos necessidade de contemplar o mesmo. Na verdade, e apesar de essas imagens nos incomodarem, precisamos de as ver e de as testemunhar. Como se classificam as estratégias empregues contemporaneamente no combate ao consumo de tabaco no nosso País? Quais são os progressos para a sociedade que a legislação antitabágica, recentemente implementada, acarretou? Será que o acto de raciocinar não é essencial para os cidadãos e consequentemente para as comunidades? Será que as mensagens nos maços de tabaco não devem ser mais pessoais? Será que as mesmas não necessitam de gerar algum tipo de identificação, para não serem saboreadas como um problema apenas dos outros? Será que a Direcção Geral de Saúde, entidade responsável pelas campanhas antitabágicas, não tem funcionado com pouca pujança comunicativa? Será que comunicação, na superfície da saúde, não compreende a relação interpessoal entre o médico e o doente, bem como as acções comunitárias e a comunicação “mediática”?
A indústria do tabaco, durante um longo período de tempo, informou as populações sobre os prazeres do cigarro, disseminando paralelamente uma imagem de elevado estatuto e requinte social. Os fabricantes de cigarros acabaram por investir, numa perspectiva universal, avultadas quantias de dinheiro para impedir ou para depauperar as estratégias de prevenção e de controlo perfilhadas pelos Países, disseminando dados e informações que desmentem estudos e pesquisas científicas com o propósito de baralhar os consumidores. Será que o tabagismo, também denominado por nicotinismo, não pode ser considerado como uma enfermidade transmissível que emprega medidas intrincadas, pérfidas e desleais? Será que essa enfermidade transmissível não é conduzida por conveniências económicas? Será que as embalagens de cigarros não constituem um meio ou um mecanismo auspicioso para a propagação de mensagens? Será que as mesmas não fazem parte da estratégia comercial dos produtos? Será que fumar não é uma escolha individual, mas visceralmente influenciada pelo grupo, pela publicidade e pelo marketing? Será que não era importante disseminar mensagens, numa perspectiva de complementaridade, que “publicitem” os malefícios do tabagismo passivo?
Salientar que o conhecimento cognitivo não garante, por si mesmo, automatismos saudáveis, havendo fragmentação entre as imagens aversivas, difundidas nos maços de tabaco, e o seu conteúdo, não cumprindo completamente o seu propósito. As mortes por doenças provocadas pelo tabagismo, assim como as mortes motivadas pela utilização de outras substâncias psicoactivas, podem ser evitáveis ou minoradas. Será que os conhecimentos, mesmo entre os profissionais de saúde, sobre a dependência de nicotina e as práticas de cessação de fumar não são ainda bastante franzinos? Será que esta conjuntura não origina obstáculos ao controlo e ao balizamento do tabagismo? Será que a rotina de fumar e a sua supressão não ultrapassam o puro saber ou a “cristalina” acção cognitiva?
O tabagismo, num cenário social, acaba por ser uma doença muitíssimo manipulada pela publicidade e inventariada aos benefícios económicos, aproveitando e aplicando estratégias dissemelhantes e emaranhadas para conduzir a tal conduta. Essa conjuntura de dependência tem forçosamente de ser pelejada através: de difusões desafogadas, pertinazes e ininterruptas acerca dos malefícios do tabaco e dos impactos negativos não só para os indivíduos, como também para a sociedade; e da implementação de processos educativos de longo prazo que agasalhem um robusto e abrangente arquétipo preventivo. Será que Portugal não enfrenta enormes reptos contra a indústria do tabaco? Será que a indústria do tabaco não procura incessantemente analisar e perscrutar as debilidades individuais com a finalidade de instigar os adolescentes a aderirem prematuramente ao tabaco? Será que a mesma, e de forma análoga, não procura explorar as fragilidades colectivas de modo a impedir a vulgarização do conhecimento científico sobre os malefícios do tabaco?