Os argumentos outorgados para o consumo dessa droga versam alguns efeitos como: o prazer; a satisfação; o decremento dos estados de ansiedade ou de stress; a diminuição da sensação de fome; a perda de peso corporal; e o aumento da ausência de sono. Será que estes efeitos não levam os indivíduos, mesmo sabendo dos riscos […]

Os argumentos outorgados para o consumo dessa droga versam alguns efeitos como: o prazer; a satisfação; o decremento dos estados de ansiedade ou de stress; a diminuição da sensação de fome; a perda de peso corporal; e o aumento da ausência de sono. Será que estes efeitos não levam os indivíduos, mesmo sabendo dos riscos para a saúde, a continuar a fumar? Qual é a predominância da dependência sobre a crítica? Será que os cidadãos não sabem que fumar é prejudicial para a saúde? Será que é simples estar preparado para abandonar o vício do tabaco?

A dependência, principalmente em relação à nicotina, compreende reacções ou manifestações físicas e psicológicas. As reacções psicológicas reclamam o consumo da substância para que os indivíduos aquartelem a sensação de excelsa actividade e estabilidade corporal. Será que a esmagadora maioria dos fumadores não demonstra preocupação apenas com o futuro? Será que os fumadores não saboreiam esse futuro como bastante longínquo? Será que os mesmos admitem, num cenário contemporâneo, que são passíveis ou susceptíveis de contraírem doenças originadas pelo tabaco? Será que os fumadores procuram ou desejam encarar a realidade? Será que os mesmos não preferem ignorar os factos?

Infelizmente as campanhas publicitárias antitabágicas acabam por disseminar a mensagem, ainda que de uma forma subliminar, de que os efeitos danosos do cigarro somente sucedem a longo prazo. Vulgariza-se, deste modo, a desafinada sensação ou ideia de que a nicotina acarreta efeitos maléficos unicamente quando é consumida de forma constante e duradoura. Realçar que os autênticos malefícios inerentes à acção de fumar podem revelar-se tanto no presente, como no futuro. Será que algumas campanhas antitabágicas não induzem em erro os cidadãos fumadores e os cidadãos não fumadores? Será que não desfilam elevadas doses de indiferença e de impassibilidade em relação às imagens aversivas gravadas nos maços de tabaco? Quantas vezes já ouvimos as expressões: “eu não vou deixar de fumar por causa da figura”; e “as imagens para mim não produzem impacto absolutamente nenhum”? Será que esta condição não é extremamente preocupante?

As imagens estampadas nos maços de tabaco intensificam o conhecimento e a extensão dos riscos adjacentes ao tabagismo, devendo, e analogamente, provocar no fumador configurações de meditação cada vez que ascendesse um cigarro. Será que as imagens não perdem “pigmentação” pelo facto de serem repetitivas? Será que com o decorrer do tempo, essa conjuntura não metamorfoseia as imagens em menos impactantes?

A população jovem assume mais celeremente práticas de resistência, de relutância e de objecção às dissertações e comunicações oficiais propagadas. Na realidade, as pedagogias culturais acabam por ser parte integrante e importante das superfícies de peleja, nas quais existem sentidos, práticas e significados que podem ser reestruturados, concebendo, desse modo, modernos formatos de identidade com a mercadoria veiculada. Qual é o grau de dissociação entre a aparência simbólica e o conteúdo do maço de cigarros? Será que esse grau de dissociação não pode ser “mutante”? Será que os fumadores não têm a tendência de agruparem simbolicamente o cigarro a situações que provocam prazer? Será que os mesmos não “debandam” dos contextos que lhes originam repulsão ao uso do cigarro?

Na realidade, os sujeitos optam por não inventariar o factor ou o agente que promove os índices de satisfação ou de tranquilidade pessoal, provocada pelo tabaco, à condição capaz de os colocar próximo de uma realidade pardacenta e possível, ou seja a do padecimento causado por doenças extraordinariamente graves e complexas. Será que a acção de dissociar ou de encobrir as figuras que desfilam nos maços de tabaco não desagua numa atitude “evasiva” em relação à desconfortável e desagradável veracidade dos factos?

Com o passar do tempo, os fumadores distanciam-se, tanto no cabimento visual, como no psicológico, da inquietação e da intranquilidade motivadas pelas figuras gravadas nos maços de tabaco, assumindo o consumo do produto na sua extensão prazerosa e na sua configuração liberta de sentimentos de culpa. Será que não existem numerosas polémicas e controvérsias no que respeita aos impactos produzidos pelas imagens estampadas nos maços de cigarro? Será que a significação impactante das imagens sobre os fumadores não é franzina? Será que não estamos extraordinariamente afastados da extinção do tabaquismo?

Apesar de o conhecimento e a consciencialização dos malefícios do tabaco serem uma realidade, o automatismo de fumar atingiu uma colossal persistência e robustez. Esta conjuntura está ligada a dissemelhantes delineamentos que são influenciados por conjunções fisiológicas, psicológicas e sociais. Porém, é seguramente pertinente asseverar e salientar que as campanhas e as mensagens, que elevem os contextos de sensibilização e de conscientização dos fumadores ou dos potenciais fumadores, e difundidas por qualquer meio de comunicação, são de enorme importância e de avultado interesse. Será que não é fundamental a promoção de contextos de aproximação entre os autores dessas campanhas e os próprios fumadores? Será que esses contextos de aproximação não impulsionariam os índices de compreensão sobre quais as configurações psicológicas e as particularidades que estão embrulhadas com a percepção e o encadeamento dos fumadores em relação às mensagens veiculadas? Será que o uso da fotografia na publicidade não é cada vez mais comum? Como se qualificam ou descrevem as fotografias de contrapropaganda ao fumo? Será que os estudos sobre esta temática não são bastante heterogéneos e inconclusivos? Será que não existe um género de subestimação ou de subvalorização em relação à função das fotografias nas campanhas? Será que o publicitário, ao estruturar uma campanha, não tem que outorgar enfase a todos os contextos, como por exemplo ao enquadramento e à iluminação? Será que em determinadas circunstâncias não contemplamos a passagem de uma imagem representativa para uma imagem camuflada? Será que esta conjuntura não reflecte uma ausência de transparência quanto ao uso do vigor da fotografia?

A acoplagem de sentido de algumas imagens com o consumo de tabaco acabou por ser estabelecida a partir da embalagem. Neste entrecho, podemos seguramente afirmar que é impossível computar a capacidade de assimilação de uma mensagem fotográfica simplesmente pelos componentes icónicos, devendo outorgar-se e respeitar-se a merecida importância ao enquadramento da emissão da informação, bem como ao cenário de recepção pelos espectadores. As imagens somente são impressionantes e perturbantes por fazerem parte de uma estrutura planeada e construída, e não por configurarem ou caracterizarem uma disposição do real. Será que não é precisamente neste antagonismo que se devem colocar as possíveis metamorfoses a implementar no caminho e no âmago das campanhas? Será que muitos fumadores não contemplam as imagens como um epigrama do real? Será que algumas campanhas não empregam um painel de imagens quase lúdico ou recreativo? Será que não é unicamente na fase inicial que ocorre o vigoroso impacto resultante da saturação de cor; da inclusão de alguns elementos impactantes; e da introdução de outros recursos criativos de composição e de produção? Será que a simulação não é explícita? Será que os fumadores capturam as imagens como sendo reprodução íntegra e fiel da realidade? Será que não devemos ter em conta o carácter polissémico da imagem?

O esforço por catalogar o uso do cigarro com a publicidade, tendo como pano de fundo as fotografias publicitárias, acaba por constituir um exemplo de como ainda é possante o encadeamento entre a fotografia e a realidade, não só para comprovar a veracidade de um determinado facto, como também para censurar o distanciamento do real. Actualmente a fotografia ainda constitui matéria de investigação, sobretudo acerca dos seus impactos na sociedade. Será que não estamos longe de uma resposta que demonstre categoricamente a eficácia ou a ineficácia das campanhas e das mensagens para persuadir os fumadores a deixarem o vício? Será que a temática do tabaco não espelha o imortalizado antagonismo entre público e privado? Será que a indústria do tabaco não continua a utilizar, de forma indirecta e para alcançar as suas finalidades, a propaganda comercial e as acções de marketing, bem como outros arquétipos de comunicação? Será que estamos próximo de destapar os segredos e os enigmas da vida? Será que a rejeição ou a negação da morte não constitui uma característica da contemporaneidade?

Como é do conhecimento comum, a conexão entre o domínio público e o domínio privado é altamente franzina, discordante e antagónica. A esfera pública é representada pela “comensuração” de cidadania, enquanto a esfera privada encontra aconchego nos agentes publicitários seduzidos pela comercialização de marcas de tabaco. Será que o sector publicitário reconhece, como verdadeiros e eficientes, os contextos de interdição e de regulamentação aplicados aos produtos tabágicos? Será que o dilema da propaganda de cigarros não se encaixa no desacordo entre a esfera pública e a esfera privada? Será que os sectores públicos e sociais, alicerçados em questões de saúde pública, em investigações científicas e em “jurisdições” médicas, não pretendem a própria supressão do tabaco? Quais são os passos que se consideram necessários dar para a efectividade das campanhas de saúde? Será que os sectores públicos e sociais não conseguem apenas a delimitação de alguns formatos de propaganda? Será que o uso do tabaco não é importante para a saúde dos cofres dos Estados e das indústrias farmacêuticas?

As organizações económicas privadas actuam no mercado perspectivando, de forma ininterrupta, o lucro. No cabimento público, os Estados foram adoptando um papel cada vez mais intervencionista e procurando políticas de controlo da actividade económica. Salientar que os indivíduos também se associaram de modo a estruturar e a edificar organizações e grupos de pressão com a finalidade de influenciar a política governamental. A indústria do tabaco pretende, a todo o custo, manter os lucros, embora se vá deparando com grupos organizados que contestam e repudiam a sua actividade. O Estado, no seio desta superfície, agasalha uma função indefinida, uma vez que estatui a propaganda que adverte sobre os malefícios do cigarro e não interdita a actividade económica interligada ao tabaquismo. Será que a embalagem não assume uma forte influência na escolha da marca de cigarros? Será que a estandardização da embalagem não é uma estratégia que já devia ter sido implementada?

As grandes empresas de tabaco, mesmo aquelas que ocupam os primeiros lugares em matéria de poluição, colocaram a questão do ambiente na sua agenda. Cenário muitíssimo contraditório à própria actividade das plantações de tabaco, pois nessas plantações são aplicados, de modo intensivo, imoderado e agressivo, inúmeros e perigosos produtos químicos. O propósito destas indústrias passa por edificar uma imagem positiva na sociedade, abandonando ou ocultando os algarismos aterradores sobre os gastos originados pelas consequências do fumo na sociedade e sobre os óbitos. Os actuais padrões de consumo indicam que o número de mortes irá aumentar significativamente, sendo neste quadro tão assolador que a comunicação social preenche um papel capital para granjear importantes metas de saúde, bem como para delinear actividades que propaguem a prevenção e o efectivo controlo do tabagismo. Será que uma profícua estratégia de comunicação, no espaço da saúde, não envolve o desenvolvimento de um penetrante conhecimento das necessidades; dos estilos de vida; dos modelos sociais; e dos públicos-alvo? Será que falar ou escrever em proibição de publicidade de cigarros não origina uma discussão ou uma controvérsia que invade as fronteiras entre o interesse público e o interesse privado? No âmago dessa discussão, em que lugar ou patamar colocávamos a “liberdade de expressão” e o “direito à informação”?