Muitas vezes a solução para essas dificuldades reside numa alimentação mais contrabalançada, de forma a garantir ao organismo os nutrientes imprescindíveis para suportar a incómoda bagagem das actividades diárias. O leite é o alimento mais completo e, por essa razão, o mais elementar para o homem. Podemos definir leite como o produto proveniente da ordenha, em condições de higiene, de vacas saudáveis e bem nutridas.
O leite, com o passar do tempo, vai permanecendo na alimentação do homem, contudo em quantidades significativamente inferiores. Será certamente por esse motivo que o leite é um produto alvo de sucessivas campanhas de propaganda e de publicidade. Obviamente que a finalidade dessas acções passa por estimular o consumo de leite e de produtos lácteos, salientado constantemente os benefícios do leite para a saúde. O mais relevante desses benefícios associa o leite ao cálcio, ou seja o leite é uma valiosíssima fonte de cálcio, sendo este elemento indispensável à sadia constituição óssea. Será oportuno altear a diferença entre propaganda e publicidade, a primeira é quando se “apregoa” um determinado produto, sem ter adjacente a marca do mesmo, enquanto a segunda para além de engrandecer o produto, também acomoda sempre uma ocasionada marca. A indústria acabou por desenvolver nichos de mercado no seio deste segmento, com uma enorme diversidade de produtos para todo e qualquer tipo de necessidade específica.
A indústria investe avultadas importâncias monetárias para fantasiar o seu produto, coligando-o aos mais diversos animais, às mais dissemelhantes músicas e a inúmeras passagens da infância. A verdade é que acabamos, todos os dias e mais do que uma vez por dia, por beber essa “homilia” através dos nossos sentidos.
Uma alimentação equilibrada é aquela que agasalha os nutrientes adequados para cada indivíduo. Ou seja, quantidades ponderadas de fibras, proteínas, gorduras, sais minerais e vitaminas. O funcionamento eficaz do organismo reclama a deglutição apropriada de nutrientes.
O homem tem o hábito de beber leite, pois desde pequeno que foi habituado à presença desse alimento na sua “sequência” quotidiana. O cálcio é o principal constituinte do “volume” ósseo, hospedando uma função capital na tela da saúde pública, uma vez que encerra diversas “funcionalidades” no corpo humano como sejam a formação da estrutura óssea e dentária. Portanto, o cálcio é um elemento imprescindível para o aperfeiçoamento ósseo durante o crescimento, assim como para a conservação da integridade do esqueleto durante a vida adulta. Quem é que nunca ouviu dizer que as crianças precisam de beber muito leite para evitar debilidades físicas e os adultos devem ingerir muito leite para afastar a osteoporose?
Por uma questão de perspicuidade, será congruente também referir que existem colossais diferenças entre o leite puro e o leite de supermercado, uma vez que o último é pasteurizado, centrifugado ou homogeneizado.
O leite de pacote vendido nos hipermercados é etiquetado, por a maioria dos médicos, nutricionistas e indivíduos indumentados de autoridade em saúde, como um alimento quase completo, hospedando portanto uma composição bastante rica e diversificada. Infelizmente existem algumas marcas, mesmo sendo brancas não deixam de ser marcas, que vendem leite, e produtos derivados do leite, sem cálcio. Ou seja, no rótulo nutricional desses produtos não está escrito esse elemento mineral tão importante, de nome cálcio. Como pode isto acontecer? Terá a ciência modificado o conceito sobre o leite? Será que o cálcio somente faz falta à classe média e à classe alta? Será que o leite se transformou de tal maneira que de repente deixou de ter cálcio? Será que a indústria retira cálcio de alguns leites para colocar nos leites “ricos em cálcio”? Será que o dinheiro asfixia tudo, inclusive a saúde? Será que não há milhões de cidadãos a serem completamente enganados? Será que não devia existir legislação e fiscalização específica para esta espécie de crime? Será que o ser humano vale alguma coisa? Será que a indústria do leite não está somente interessada na parte financeira? Será que a cor é a única semelhança que existe entre o leite de algumas marcas brancas e o leite das marcas “consagradas”? Será aceitável, como acontece em alguns casos, a mesma marca branca vender leite com cálcio e leite sem cálcio? A que conveniências acode o consumo de leite industrializado? Não será esta “aldrabice” uma verdadeira vergonha? Quantos milhares de conselhos e preceitos médicos foram já “desrespeitados”? Será que os responsáveis por algumas marcas brancas, no que respeita ao leite e seus derivados, por estas serem substancialmente mais baratas do que as marcas dos produtores têm o direito de retirar desses produtos o seu maior bem que é o cálcio?
Desafortunadamente a crise e alguma falta de atenção têm contribuído para que os portugueses coloquem a “condição” preço no pináculo das suas prioridades. Na realidade as marcas que vendem leite sem cálcio, também não colocam esse elemento no rótulo nutricional, contudo a esmagadora maioria dos cidadãos nem sequer dá muita relevância ao rótulo de um pacote de leite, porque para eles o leite tem na sua essência cálcio. Ou seja, se é leite, ou produto derivado do leite, tem de certeza cálcio. Puro engano.
Os rótulos constituem componentes fundamentais de comunicação e informação entre consumidores, produtos e produtores, possibilitando também a comparação dos alimentos. Logo, é indispensável que as informações sejam transparentes e adequadas, de forma a facilitar a escolha dos alimentos.
O rótulo nutricional não é mais do que toda a especificação destinada a comunicar ao consumidor os “temperamentos” nutricionais de um determinado produto. A utilidade dos rótulos nutricionais está visceralmente interligada com a promoção da alimentação salutar. Para bem das populações, os rótulos nutricionais deviam manifestar sempre correspondência directa com as características físicas e originais do leite.
Apesar da existência de alguns vácuos legislativos no que respeita aos rótulos dos alimentos, será relevante evidenciar que todos os alimentos possuem o rótulo geral, que constitui a totalidade do rótulo, e o nutricional, que tal como o nome indica alberga a informação nutricional. O profissional que “desenvolve” o rótulo nutricional deverá conhecer de forma pormenorizada o produto, tanto as especificidades, como as origens do mesmo. Esses profissionais também devem representar um “contexto” de ligação entre as empresas que concebem o produto e os consumidores, assim como compreender as carências desses consumidores, direccionando constantemente os fabricantes para a supressão das mesmas.
Em abono da verdade a leitura dos rótulos deve passar a fazer parte da rotina das populações. Todavia, apesar da sua incontestável importância, podemos afirmar que é uma empreitada algo difícil, uma vez que boa parte dos consumidores não conhece, nem tão pouco “compreende”, a denominação não só dos ingredientes, como também das suas origens.
O marketing, que como sabemos pode persuadir os compradores nas suas adquirições de alimentos, e naturalmente nas suas rotinas de consumo, também se tem mostrado preocupado com as comunicações nutricionais, apesar de nem sempre essa inquietação ter adjacente o propósito de aperfeiçoar os índices de qualidade do próprio consumo.
O consumo alimentar constitui um importante “decreto de lei” da saúde, no qual a chancela favorável ou desfavorável está sujeita às telas da informação e da comunicação. Portanto, é essencial que se adoptem medidas interventivas de semblante pedagógico com a finalidade de as mesmas elucidarem os cidadãos aquando das suas escolhas alimentares. Esta conjuntura tem forçosamente que ser uma estratégia fundamental das políticas públicas de saúde, tanto do ponto de vista nacional, como internacional. Torna-se necessário que cada pessoa tenha a capacidade de confeccionar o seu próprio programa de alimentação, tendo em conta as suas necessidades nutricionais, automatismos alimentares e desenhos económicos.
As marcas brancas apareceram no nosso país na década de 90 do século passado. No início estavam ligadas a produtos de baixa qualidade, justificando, esse motivo, o preço mais franzino a que eram vendidas. Todavia, ao longo dos tempos essas marcas foram conquistando a confiança dos compradores. Contemporaneamente, os consumidores já agasalham forte afeição pelas marcas brancas, uma vez que algumas delas, em certos produtos, desfrutam de bastante qualidade. A confirmação disso é o facto de alguns estabelecimentos já terem colocado o seu próprio nome como marca.
Os hipermercados estão sucessivamente a tirar espaço aos produtos de marca “consagrada”, pois preferem que os produtos de marca própria, que são os seus, desfilem cada vez em maior número nas prateleiras, nos corredores e nos carrinhos de compras. Esta situação e a crise económica que atravessamos acabaram por promover o crescimento do consumo de marcas brancas, que são habitualmente mais em conta. Desta forma, as cadeias optaram por metamorfosear a intimação da crise numa oportunidade alicerçada nos parcos recursos económicos dos consumidores. As marcas brancas crescem, enquanto as marcas “aclamadas” vão enfraquecendo não só nas vendas, como também em relevância. Neste contexto, não será seguramente inoportuno asseverar que as marcas brancas vieram de alguma forma revolucionar os hábitos de consumo, sendo as “cadeias distribuidoras” que as abrigam, as mais favorecidas.
Porque sou um homem de causas, e porque quero ser transparente em tudo aquilo que escrevo, acredito que existam no mercado, para além daquelas que detectei, mais marcas de leite, e de produtos derivados do leite, que não contêm cálcio, contudo não será certamente a mim que me compete fazer essa “investigação”. Estimados leitores, sempre que comprarem leite, ou produtos derivados do leite, não se esqueçam de analisar o rótulo nutricional, pois no mesmo está descrito a quantidade, se é que existe alguma, de cálcio que esse leite oferece. No acto de compra, é fundamental que os consumidores sejam cautelosos, um pouco mais preconceituosos e menos racionais. A leitura dos rótulos nutricionais deverá constituir uma “tarefa” quotidiana como o vestir, o sorrir, o comer, o respirar, o calçar ou o beber leite com cálcio.