“Ao longo deste ano foi possível monitorizar a colónia de abutres-pretos [Aegypius monachus] no Douro Internacional e confirmamos três casais que iniciaram a reprodução. Destes três casais, houve dois com sucesso que fizeram todo o ciclo de criação dos filhos e há cerca de 10 dias estas crias saíram do ninho e exploram a área do PNDI”, explicou à Lusa o biólogo José Pereira.
De acordo com o especialista em avifauna rupícola, em Portugal, existem apenas quatro colónias reprodutivas de abutre-preto: no Douro Internacional, na Serra da Malcata, no Tejo Internacional e na Herdade da Contenda, sendo a primeira a mais pequena e frágil.
“Entre janeiro e agosto deste ano, a equipa da organização não-governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, em colaboração com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), esteve no terreno a realizar a monitorização da época de reprodução desta espécie no PNDI, uma ação fundamental para avaliar o seu sucesso reprodutor e tendência populacional, indicou José Pereira.
Até 2027, O projeto “LIFE Aegypius return” quer devolver à natureza na área do Douro Internacional 20 abutres-pretos, com o objetivo de aumentar a colónia destas aves naquele território.
“Neste âmbito, está a ser construída uma estrutura de aclimatação na zona da colónia. Nesta estrutura, de grandes dimensões e com todas as condições de segurança, os indivíduos da espécie recuperados irão passar por um período de readaptação ao meio natural e de habituação à região para que a sua fixação nesta colónia, depois da devolução à natureza, seja facilitada”, explicou José Pereira.
Estas aves foram também anilhadas e equipadas com dispositivo GPS, que permite a sua monitorização à distância.
“A equipa do projeto está agora a realizar o seguimento continuado das crias, a partir dos dados fornecidos pelo GPS, para obter informações essenciais para a sua conservação, nomeadamente sobre os seus movimentos, comportamento, longevidade, ameaças e dieta”, indicou o biólogo.
Ao contrário da maioria dos abutres, que nidificam em alcantilados rochosos em montanhas e arribas, o abutre-preto normalmente constrói o seu ninho em árvores de grande porte.
“É o caso dos dois casais que nidificam no Douro Internacional. Ambos construíram os seus ninhos em zimbros. Em homenagem a este comportamento da espécie, as duas crias nascidas este ano receberam os nomes de árvores nativas da região: freixo e juniperus”, frisou o biólogo da Palombar.
Segundo José Pereira, o abutre-preto extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70 do século passado e só em 2010 voltou a nidificar em Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional.
O PNDI acolhe a colónia mais recente e delicada desta espécie, sendo que foi em 2012 que se registou o primeiro casal nidificante e, em 2019, o segundo.
O projeto “LIFE Aegypius return” iniciou-se em setembro de 2022 e tem como objetivos principais aumentar a população de abutre-preto e melhorar o seu estado de conservação em Portugal.
A iniciativa, de acordo com os técnicos da Palombar, pretende num prazo de seis anos (2022-2027) duplicar a sua população reprodutora em Portugal para que passe dos atuais 40 casais reprodutores para 80, bem como aumentar as colónias de quatro para cinco.
Este projeto ambiental tem uma dotação financeira de 3,7 milhões de euros, comparticipados em 75% pelo Programa LIFE da União Europeia e com cofinanciamento da Viridia — Conservation in Action e pela MAVA — Foundation pour la Nature. Envolve várias entidades nacionais e internacionais ligadas à proteção da natureza e vai continuar no terreno até 2027.