António Guterres foi hoje homenageado por há 25 anos ter decidido parar a construção da barragem do Côa e preservado as gravuras património da Humanidade, que usou como exemplo para falar dos conflitos sociais no mundo.
O antigo primeiro-ministro português aproveitou a oportunidade para fazer uma reflexão sobre a identidade, uma palavra que considerou “tem sido muito mal usada, recentemente, por alguns líderes políticos de várias partes do mundo, como um fator de divisão e de discriminação”.
“Em nome da identidade têm-se manifestado formas irracionais de nacionalismo, por vezes mesmo de xenofobia e de racismo”, sustentou.
António Guterres defendeu que a identidade está na “diversidade” e as gravuras (do Côa) são uma componente dessa diversidade.
Tal como as gravuras testemunham outra cultura, António Guterres, entende que a história da Humanidade mostra que a identidade “sempre foi feita num encontro de culturas, de civilizações e é uma identidade baseada na diversidade e a diversidade não é uma ameaça, é uma riqueza”.
“E todos os responsáveis políticos têm de saber valorizar essa riqueza, em vez de usarem a identidade como fator de divisão, particularmente em períodos tão difíceis como aqueles que hoje o mundo atravessa com a covid-19”, vincou.
É também nestes momentos difíceis que António Guterres observa “com alguma tristeza, que há uma tendência em períodos de austeridades para começar por sacrificar áreas como a Ciência e a Cultura.
“É um erro”, considerou, defendendo que são áreas que “deviam ter uma prioridade nas políticas e afetação de recurso”.
“Pensar que, em período de austeridade, se poupa dinheiro poupando na Ciência ou na Cultura é um erro grave e espero que em Portugal esse erro nunca mais seja cometido e é importante que isso se verifique também por toda a parte”, declarou.
Lamentou ainda que “numa fase tão difícil” como a que atravessa atualmente o mundo, “infelizmente se verifica que alguns dos valores essenciais com que a Europa contribuiu para a civilização universal, estão a ser postos em causa”.
“Há uma emergência da irracionalidade, dos populismos, dos nacionalismos estéreis, há uma emergência de formas de divisão que se caracterizam à escala global e que explicam porque é que o covid-19 está a ser combatido de uma forma tão lamentável com uma total desagregação dos esforços que deviam existir”, afirmou.
António Guterres foi hoje homenageado com a atribuição do ser nome ao auditório do Museu do Côa, equipamento que é a montra do parque arqueológico com as gravuras rupestres com mais de 25 mil anos.
Na entrada do auditório foi descerrada uma placa com o nome e o perfil do homenageado, gravado em xisto, como as gravuras do Côa.
Pela luta por este património “único na história da Humanidade”, Guterres prestou homenagem “a todos que se mobilizaram para defender as gravuras e a todos os que têm trabalhado para valorizar, preservar e permanentemente investigar este extraordinário património”.