Em meados dos séculos XVII, 23 judeus de origem portuguesa fundaram em Nova Amesterdão, agora Nova Iorque, a primeira comunidade judaica nos Estados Unidos, um país que este ano é um dos palcos das comemorações do Dia de Portugal.
Na verdade, uma família de portugueses oriundos de Celorico da Beira, que passou por Londres e emigrou para Nova Iorque, esteve na base de algumas das principais instituições americanas, como a Bolsa de Nova Iorque ou a Reserva Federal Americana.
Paulo Mendes Pinto, coordenador da Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, conta, em declarações à agência Lusa, parte desta história da comunidade sefardita portuguesa nos Estados Unidos, país onde hoje vivem 1,4 milhões de portugueses.
“Nova Iorque é um centro de cultura sefardita de origem portuguesa extremamente importante”, explicou Paulo Mendes Pinto, que é também investigador da cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» da Universidade de Lisboa, e membro da comissão executiva da Rede de Judiarias de Portugal.
A história remete para o período em que parte do nordeste do Brasil foi conquistado por tropas holandesas e, face à tolerância religiosa existente, ali se desenvolve uma comunidade judaica, relatou o responsável.
Quando se dá a reconquista portuguesa do Recife, no Brasil, a chamada Insurreição Pernambucana (expulsão dos holandeses do Brasil), um grupo de 23 judeus fugiu e fundou a comunidade judaica da Nova Amesterdão, que é hoje a cidade de Nova Iorque.
A congregação adquiriu um terreno em Lower Manhattan para construir a primeira sinagoga, existindo ainda hoje, na parte mais meridional da ilha, uma imponente “Spanish and Portuguese Synagogue”.
Segundo Paulo Mendes Pinto, em algumas destas sinagogas fundadas na sequência da fuga à perseguição existente em Portugal, ainda hoje se declamam orações em português.
“A portugalidade apresenta-se de forma muito consistente no caso judaico. O ser judeu sefardita de origem portuguesa é uma identidade cultural muito acarinhada por quem a tem”, frisou.
Esta comunidade, explicou Paulo Mendes Pinto, tinha relações comerciais com Londres e foi desta cidade que partiu Isac Mendes Seixas, o patriarca de uma das famílias mais importantes nos Estados Unidos durante à época da revolução.
Originário de Celorico da Beira, Isac Mendes Seixas chegou a Nova Iorque no século XVIII e vários membros desta família estiveram empenhados no desenvolvimento da comunidade judaica naquela cidade, em Filadélfia e também na consolidação do novo projeto de um Estado completamente livre.
Segundo o investigador, um descendente de Isac, Moisés Mendes Seixas, esteve na criação da Reserva Federal americana, enquanto o filho, Benjamim Mendes Seixas, foi um dos fundadores da Bolsa e da Universidade de Nova Iorque.
Já Abraão Mendes Seixas foi um dos 14 religiosos que esteve presente quando George Washington tomou posse enquanto Presidente dos Estados Unidos, em abril de 1789.
Um século depois, Emma Lazarus, descendente dos judeus sefarditas portugueses, ficou conhecida por escrever The New Colossus (“O Novo Colosso”), um soneto de 1883, gravado em 1912 numa placa de bronze no pedestal da Estátua da Liberdade.
É uma descendente de portugueses que deixa gravado num dos maiores símbolos dos EUA, palavras que falam de liberdade, de refúgio e de acolhimento.