Vítor Abrantes, conhecido como Vitinho, posa para a fotografia com o mesmo à-vontade com que, daí a nada, está a chamar as cabras, soltas num cenário idílico. Há árvores e água límpida no Vale Glaciar do Zêzere, em Manteigas, onde encontramos o pastor, de 34 anos, de tronco nu, segurando o cajado. Está em plena sessão fotográfica para o calendário solidário que reúne “os pastores mais belos da serra da Estrela”, uma iniciativa do jornal “Notícias de Gouveia”.
O objetivo é valorizar os pastores e o pastoreio extensivo (ao ar livre), que está “em vias de extinção”, explica Liliana Carona, diretora do “Notícias de Gouveia”. A ideia de fazer um calendário solidário para 2018, como “elogio aos pastores” da serra da Estrela, partiu dela, que também é correspondente da Rádio Renascença na região. Sabe que levam vidas duras e tendem a ser “desvalorizados”, por isso, quis enaltecê-los.
Vitinho corre a serra com os seus 200 animais, num sobe e desce que se reflete no corpo musculado, pronto a erguer um pesado fardo de feno. Esse lado sensual dos pastores existe, independentemente da idade ou da aparência, e vai ser mostrado. “É uma lição contra o preconceito”, afirma Liliana Carona. Para ela, “não há pastores feios” e não pretende excluir nenhum dos fotografados – sete, até ver, dos 22 aos 80 anos.
O fotojornalista Miguel Pereira da Silva, colaborador da Global Imagens e da Lusa no distrito da Guarda, que aceitou fotografar os pastores a título voluntário, diz que este trabalho fica “a meio caminho entre a fotografia de moda e a fotografia documental”. Nota-se que está a gostar de “descobrir um bocadinho do rock”n”roll que eles têm”.
Em Nabais, Gouveia, o modelo é António Duarte, de 37 anos, que tem cerca de mil animais. Despe a T-shirt, com a inscrição “rei do gado”, deita-se no feno e vai para o meio das cabras e ovelhas. “Os animais têm muita coisa para nos transmitir”, conta, sem esconder o amor por eles. Recíproco, parece. Alguns até vão lamber-lhe as mãos.