O PAN – Pessoas-Animais-Natureza considerou hoje um “crime desastroso contra a natureza” a eventual decisão de voltar a permitir a prática da caça na zona sul da Reserva Natural da Serra Malcata.
Em comunicado enviado à agência Lusa, o PAN refere que “a decisão do governo é um retrocesso civilizacional e carece de fundamentação científica e política”, defende que não há em Portugal necessidade de mais áreas cinegéticas e anuncia que quer ouvir no parlamento, com caráter de urgência, o ministro do Ambiente.
Em causa está a revogação de uma portaria com quase 23 anos, no dia 8, que interditava a prática cinegética na Reserva Natural da Serra da Malcata, decisão que na sexta-feira já tinha sido contestada pela Quercus, mas que é defendida pelo Governo.
Em comunicado, a associação ambientalista acusou o Governo de ceder a pressões, considerando que “a decisão pode pôr em causa a recuperação de espécies como o corço, o veado, o coelho, o lince, o lobo ou o abutre-preto”.
Na resposta às críticas, o Ministério referiu que são “inequívocas” as vantagens do ordenamento cinegético para conservação dos recursos naturais.
E diz que a promoção do ordenamento cinegético nas áreas onde tal prática se encontrava interditada, desde 1993, “constitui um instrumento fundamental” para promover a conservação da natureza e a biodiversidade, e “a articulação e a integração dos objetivos de conservação e de utilização sustentável dos recursos naturais na política de ordenamento do território e nas diferentes políticas setoriais”.
Argumentos que não são partilhados pelo deputado do PAN, André Silva, que, citado na nota de imprensa do partido, refere que a decisão do Governo foi “tomada à revelia da sociedade” e “carece de fundamentação científica e política”.
“Continuamos a agir como se fossemos donos do mundo, mas, em vez de nos responsabilizarmos pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar, atuamos como cruéis predadores indiferentes ao impacto nefasto que estas decisões têm em toda a fauna e flora da cadeia ecológica”, afirma André Silva.
O PAN sublinha ainda que a “caça é uma das atividades que mais perturba a vida selvagem” e lembra que “diversos estudos têm demonstrado que os distúrbios causados pela caça não só afetam as espécies-alvo, mas quase todas as espécies presentes no território de caça”.
“Neste caso, não existe qualquer necessidade ou fundamentação científica que justifique permitir a caça numa reserva natural, sobrepondo os interesses da caça aos da conservação da biodiversidade”, fundamenta.
Salientando que “o abate a tiro é uma das principais causas de morte não natural do lince ibérico e do lobo ibérico”, destaca que a área em causa constitui um “raro refúgio natural em território português possuindo interessantes valores botânicos e faunísticos”.
Segundo a nota de imprensa, André Silva apresentou hoje de manhã um requerimento a solicitar a audição do ministro, documento no qual destaca que a nova portaria “não tem sentido”.
“Só pode ser vista como um crime contra os seres que habitam a Reserva Natural da Serra da Malcata, contra a natureza e a biodiversidade, sem qualquer fundamentação científica e política que só favorece o lóbi cinegético numa área crucial para a conservação da biodiversidade”, acrescenta.
A Reserva Natural da Serra da Malcata tem como símbolo o lince-ibérico e estende-se ao longo de 16.348 hectares dos concelhos do Sabugal e de Penamacor, respetivamente nos distritos da Guarda e Castelo Branco.
PAN contra caça na Reserva Natural da Malcata
O PAN refere que “a decisão do governo é um retrocesso civilizacional e carece de fundamentação científica e política”.