Utentes da Guarda aceitam protesto alegando que “não se consegue nada sem luta”

Segundo Honorato Robalo, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), no distrito da Guarda a adesão global à greve é de cerca de 61%.

Alguns utentes do hospital da Guarda mostraram-se hoje compreensivos com a greve dos enfermeiros, referindo que concordam com o protesto porque no país “não se consegue nada sem luta”.

“Eu concordo com a greve. Cada um puxa a brasa à sua sardinha e os enfermeiros fazem bem em reclamar por melhorias. Se a greve for para melhorar, é preciso esquecer os contratempos”, disse à agência Lusa Benvinda Nogueira, de 72 anos, de Gouveia, que hoje, pelas 09:00 acompanhou um familiar ao hospital da Guarda, para um tratamento oncológico.

O casal Joaquim Trindade e Electa Paula, de 77 e 72 anos, da Guarda, deslocou-se hoje ao hospital para uma consulta externa.

“A minha mulher tem uma consulta da tiroide que já está marcada há três meses”, disse o homem, que desconhecia a marcação da greve.

Pelas 09:00, a mulher esperava realizar a consulta, mas, se tal não acontecesse, não se mostrou preocupada: “Se não tiver consulta vamos para casa e temos de voltar outro dia”.

O casal não sabia do protesto dos enfermeiros, mas disse compreender já que “infelizmente, neste país, não se consegue nada sem luta”.

Já a utente Maria José, de 63 anos, também da Guarda, deslocou-se hoje de manhã ao hospital Sousa Martins onde realizou análises e disse que não deu “conta” da greve.

“Esteve tudo normal, não notei nada. Até achei que me atenderam mais rápido do que algumas vezes em que já aqui vim. Se [a greve] é para o bem dos enfermeiros e para o nosso bem, eu compreendo”, afirmou.

Segundo Honorato Robalo, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), no distrito da Guarda a adesão global à greve é de cerca de 61% (dos enfermeiros escalados, 95 aderiram), o que “supera a média da greve anterior, que foi de 45%”.

Fonte da ULS da Guarda contactada pela Lusa faz uma leitura diferente dos dados, indicando que dos 231 escalados estão em greve 81, o que “dá uma adesão na ordem dos 35%”.

Segundo o SEP, no hospital da Guarda, aderiram 53 dos 105 enfermeiros escalados, estando cinco serviços com adesão a 100% (Urgência Médico-Cirúrgico, AVC, Ginecologia, Pediatria e Ortopedia).

Em Seia, no hospital aderiram 24,83% dos 29 profissionais escalados para o serviço, e fechou a extensão de saúde de Tourais e o Centro de Saúde.

No Centro de Saúde do Sabugal, aderiram cinco dos sete enfermeiros e no SAP (Serviço de Atendimento Permanente) a adesão foi de 100%, disse o SEP.

Os enfermeiros iniciaram às 08:00 de hoje uma greve de dois dias pela “valorização e dignificação” destes profissionais e que ficou agendada apesar da marcação de um calendário de negociações com o Governo sobre as suas 15 reivindicações.

A greve, marcada pelo SEP, começou no turno da manhã e termina às 24:00 de sexta-feira.

Segundo o SEP, os objetivos desta greve prendem-se essencialmente pela valorização e dignificação dos enfermeiros.

No caso da ULS da Guarda, o sindicato exige da tutela “soluções imediatas para a resolução da grave carência de enfermeiros”, reclamando a “contratação imediata” de 25 profissionais.

“Além de [as entidades responsáveis] não autorizarem os 25 enfermeiros, dos atuais 33 contratos de substituição, hoje terminou o contrato de uma enfermeira e vão terminar mais meia dúzia em abril”, disse à Lusa o sindicalista Honorato Robalo.


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