A palavra de ordem é olhar para o futuro, disse sexta-feira o Presidente da República, durante a visita a Seia, um dos concelhos afetados pelos incêndios do último fim de semana.
No caminho, ouviu um homem que “salvou” 200 pessoas, um empresário que perdeu o seu investimento e as anciãs de uma aldeia votada à “miséria”.
Marcelo Rebelo de Sousa chegou sob forte chuva ao edifício da Câmara Municipal de Seia, o que não demoveu os habitantes, que aguentarem firmes e depois o rodearam para um cumprimento.
No edifício da autarquia e com o presidente da Câmara ao lado, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que, para além de querer expressar solidariedade e gratidão naquela visita, pretendia também deixar uma “palavra virada para o futuro”.
“Nota-se uma capacidade de resistência durante aqueles dias e noites, mas agora também de reconstrução. As pessoas já estão viradas para o futuro”, notou, sublinhando que o que importa é “olhar para o futuro” e “arrancar para o futuro aquilo que não começou já a arrancar”.
Depois de passar pela Câmara e dar uma palavra aos bombeiros de Seia, no seu quartel, Marcelo Rebelo de Sousa seguiu com a sua visita, marcada “às 01:50” da manhã com o presidente da Câmara.
Antes, nas escadas da autarquia, já tinha dado “força” a dois irmãos com uma empresa de reparação e comércio de automóveis que tinha sido afetada pelas chamas.
“Pediu para não desanimarmos”, contou à agência Lusa Pedro Pais, um dos irmãos proprietários da firma que ficou “completamente destruída”.
Nas mesmas escadas, Marcelo ouviu Hugo Nereu, de 35 anos, que viveu nos Estados Unidos e tinha regressado ao concelho onde tinha nascido para investir “meio milhão de euros num aviário”.
O investimento estava pronto – “prestes a receber os pintos” e com inauguração marcada para este mês -, mas desapareceu tudo.
“Fiquei sem nada. Todas as minhas poupanças estavam lá investidas”, disse à Lusa o empresário.
Depois de visitar uma empresa de pneus, em Tourais, também destruída, seguiu-se o caminho até Vide onde pôde ouvir uma história mais feliz.
Pergunta atrás de pergunta, Marcelo foi percebendo a história de António Luís, empresário da construção civil, que tinha conseguido salvar 200 pessoas.
O empresário ligado à construção civil andou com a sua carrinha 4×4, seguido de um amigo com uma viatura de nove lugares, de lugarejo em lugarejo, por estradas sinuosas, a acordar as pessoas, a pô-las na estrada e a garantir que eram evacuadas para Vide, a localidade principal da zona.
“Foi um herói”, disse o Presidente da República, classificação que António Luís rejeitou prontamente.
“Não, não fui. Fiz aquilo que pude. Se não fôssemos nós, as pessoas ficavam lá nas casas e, depois, vendo o fogo, não fugiam. Se não morresse ninguém, eu sentia-me orgulhoso. Desta maneira, é difícil”, contou o empresário, que fez 70 ou 80 quilómetros para ir alertando as pessoas para a aproximação das chamas.
A visita do Presidente da República a Seia terminou em Cide, uma pequena aldeia isolada onde morreu um casal.
Depois de falar com os familiares das vítimas e já a abandonar a localidade, aproveitou para dar dois beijinhos às duas “anciãs” da aldeia, com 88 e 90 anos, sendo que a mais velha nem se apercebeu que tinha cumprimentado o chefe de Estado.
“Era aquele?”, perguntou, dirigindo-se para a comadre Maria da Conceição, de 88 anos, que confirmou.
“Ardeu-nos tudo. Ficou a casinha. É uma miséria. Ficámos sem nada. Tudo ardido, uma miséria”, resume à Lusa Maria da Conceição, considerando que a visita veio dar “alguma alegria” e “amparo”, mas falta o resto – “alguma coisinha” para amparar a reforma “pequena”.