O Parque Natural da Serra da Estrela recebe, até setembro, um projeto de pesquisa, reflexão e criação artística, intitulado “à escuta: Casa Floresta”, que envolve os habitantes de quatro aldeias dos concelhos de Seia e de Gouveia.
O projeto, que começou em junho e decorre até setembro, está centrado na Casa da Guarda de Covões, uma antiga casa de guarda-florestal situada perto da aldeia de Balocas (Seia), que foi cedida para a iniciativa que envolve encontros com especialistas de várias áreas, a criação de um mapa virtual, uma instalação e um espetáculo que será apresentado em teatros por todo o país.
Joana Sá, Luís J Martins, Corinna Lawrenz e Nik Völker são os criadores do projeto “à escuta: Casa Floresta”, que surge na continuidade do anterior, “à escuta: catálogo poético”, realizado em 2021 na aldeia de Frádigas (Seia).
Até setembro, a Casa da Guarda de Covões acolhe o projeto de “pesquisa, reflexão e criação artística focado no tema da floresta e na sua relação com as comunidades envolventes”.
O projeto “propõe falar com a população local e gravar em áudio e vídeo as suas histórias e memórias como forma de analisar as questões dos incêndios e das alterações climáticas e o que pode ser feito para preveni-los”, segundo os promotores.
“Num território ameaçado pelos incêndios florestais que assolam o país nos meses de verão, e onde os efeitos das alterações climáticas, da monocultura do pinheiro e da desertificação se fazem sentir diariamente, ‘à escuta: Casa Floresta’ procura formas de lidar com estes problemas a nível local para criar perspetivas a nível global e vice-versa”, salientam.
A iniciativa envolve as populações de Vide, Frádigas e Balocas (Seia) e Figueiró da Serra (Gouveia), na Serra da Estrela.
“Estes dois vales – Vide e Figueiró da Serra – em lados opostos do Parque Natural da Serra da Estrela, são caracterizados por práticas distintas em torno da floresta. De um lado, um território que preserva alguma floresta autóctone e inverte a tendência de desertificação (Figueiró, Gouveia), do outro um território de floresta mais marcado pela monocultura e com desertificação elevada (Vide, Seia)”, é salientado.
Nik Völker disse à agência Lusa que o projeto inclui a recolha de depoimentos de habitantes e a realização de jornadas de reflexão com historiadores, biólogos, ativistas climáticos, arquitetos, entre outros, “à volta da questão do passado da floresta, do presente e de opções futuras”.
“A Joana Sá e o Luís J Martins estão a trabalhar no lado de Seia com recolhas áudio e nós [Corinna Lawrenz e Nik Völker] no lado de Gouveia. Depois, o realizador Lucas Tavares faz recolhas em vídeo e acompanha as práticas das pessoas à volta da floresta, nos dois lados da serra”, contou, por sua vez, Corinna Lawrenz.
O objetivo é recolher as memórias das pessoas sobre a floresta “e o que é que essas memórias podem fazer sobre o presente e o futuro”, disse.
No dia 03 de setembro realiza-se um encontro caminhada, entre a Casa da Guarda de Covões e o “antiteatro” de Frádigas (instalação-palco criada no âmbito de ‘à escuta: catálogo poético’)”.
Nesse dia, serão apresentados o “anti-mapa” virtual e a instalação “anti-mapa: floresta”, seguindo-se uma assembleia com a comunidade local.
O programa será recriado em Figueiró da Serra no dia 10 de setembro.
A fase final de “à escuta: Casa Floresta” consiste na apresentação de uma performance musical em teatros por todo o país porque, segundo Corinna Lawrenz, “as questões à volta da floresta, não são só questões do interior, dizem respeito à sociedade e ao país como um todo”.
O projeto conta com apoios da Direção-Geral das Artes e dos municípios de Seia e Gouveia, entre outros.