Preços dos jornais podem vir a aumentar até ao final do ano

O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, admitiu esta segunda-feira, em declarações à Lusa, que se nada for feito é possível que “o preço do jornal tenha de aumentar uma ou duas vezes”.

Na semana passada, alguns jornais aumentaram o preço de capa pela segunda vez este ano.

“Até fim do ano é possível que, se nada for feito, o preço do jornal tenha que aumentar ainda uma ou duas vezes”, tal depende da política de cada publicação, acrescentou o responsável.

João Palmeiro recordou que a situação já vem de algum tempo, apontando que no segundo ano do primeiro governo do Partido Socialista (PS) a associação avisou de que iria haver um aumento do preço do papel e que era “preciso encontrar uma solução”.

Na altura, disse, “nem sequer era qualquer tipo de apoio do Estado, era o Estado a encontrar fornecedores e modos de negociação internacional, alguns até ao abrigo de tratados internacionais, que permitissem encontrar não só melhores preços, mas sobretudo maior segurança de fornecimento”, contou.

“Infelizmente, na altura, o governo ligou pouco” e logo em seguida assistiu-se a uma baixa do preço do papel resultante de muitas fábricas de papel de jornal terem começado a fechar as máquinas e a esgotar as matérias-primas, o que levou a uma maior produção.

Essa baixa de preço “durou até há ano e meio” e, quando os ‘stocks’ se esgotaram, o preço “começou a cavalgar” porque passou a haver poucos fornecedores, explicou João Palmeiro.

Esta situação “agravou-se no verão passado”, como consequência direta da pandemia e, sobretudo, no início deste ano, com a guerra na Ucrânia.

“A guerra era a única coisa que não era prevista”, apontou, salientando que o preço dos combustíveis e da energia têm impacto no preço do papel.

“Apresentámos no verão passado um projeto — eu próprio falei com o ministro da Economia duas vezes no segundo semestre — e agora quando começou a guerra entregámos um projeto também” sobre o tema ao Governo, disse.

Por isso, “a não haver qualquer alteração haverá mais aumento do papel e vão ter que aumentar mais vezes à medida que o papel vai chegando mais caro”, sublinhou.

“Há uma medida que é muito lesiva do interesse de todos, que é diminuir o número de páginas e a dimensão das publicações”, referiu, salientando que a única vez que isso foi feito foi durante a II Guerra Mundial.

João Palmeiro classificou a situação de “muito complicada” e referiu que no caso das publicações que são vendidas essencialmente por assinatura será difícil aumentar o preço, porque estas são pagas por avanço, pelo que o que resta é “diminuir o número de páginas”, o que representará “menos pluralismo e diversidade”.

“É uma situação dramática e, sobretudo, insensibilidade política à volta disto”, criticou, apontando que até agora o Presidente da República “tem sido a única pessoa a preocupar-se com isto”.

Entre 03 de maio e 07 de junho irá decorrer um ciclo de conferências sobre os media, sob o patrocínio do Presidente da República.

Além do preço do papel, disse, há também a quantidade de papel disponível, tema que não tem sido muito abordado até agora.

Enquanto associação, “temos projetos, propostas que já fizemos sobre esta matéria, o Governo pode ajudar como tem ajudado outras indústrias” e o que “está em causa são quantidades relativamente pequenas, infelizmente os jornais estão a perder alguma circulação”, referiu.

João Palmeiro adiantou que a Associação Portuguesa de Imprensa, em colaboração com a Universidade da Beira Interior, está a desenvolver um estudo denominado “O deserto de notícias”, que mostra que “40% do território português já não tem qualquer jornal e rádio local sediada no território”.

A somar a isso, cerca de 18% do território não tem qualquer ponto de venda.

Ou seja, “parte substancial da população portuguesa está dependente apenas do que vê na televisão e nas rádios nacionais”, apontou.

“Agora estamos com a mesma universidade a fazer um estudo sobre a ligação de ‘o deserto de notícias’ e a abstenção eleitoral”, avançou.


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