Um grupo de investigadores está a desenvolver sensores para monitorizar as gravuras rupestres do Vale do Côa, para que depois estes dispositivos eletrónicos possam ser replicados pelo mundo em locais que tenham património associado.
“Estamos no terreno a desenvolver este projeto com a finalidade de desenvolver um sensor que ajude a monitorizar este património ‘sui generis´ como são as gravuras do Côa, porque são muito frágeis, já que se trata de um património que está inserido na natureza e não musealizável”, explicou hoje à Lusa Miguel Almeida, um investigadores envolvidos no projeto.
O projeto Kassandra@Côa é da responsabilidade da Fundação Côa Parque e conta com a colaboração de várias entidades académicas como o Instituto Politécnico da Guarda, Universidade de Coimbra, Junta de Castela e Leão e uma empresa privada de arqueologia.
Miguel Almeida indicou que este projeto é transfronteiriço, visto que terá igualmente impacto no sítio arqueológico de Siega Verde, que é uma extensão do Parque Arqueológico do Vale do Côa em território espanhol.
“Este projeto é financiado pela Fundação ‘la Caixa’, que visa a criação de um sistema de monitorização contínua em tempo real das gravuras rupestre do Côa, onde vamos desenvolver um sensor de baixo custo que vai monitorizar todos os parâmetros físicos desde a temperatura ambiente, humidade, insolação, entre outros”, explicou o investigador.
Outro do objetivos dos investigadores é associar o projeto Kassandra@Côa a um sistema de videovigilância que vai transmitir “em tempo real e sem fios” para que a monitorização dos sítios arqueológicos seja feita “de forma contínua e em tempo real” a partir do Museu do Côa.
“Pretendemos transferir para este património frágil um nível de vigilância e de monitorização que antes era impossível. Este projeto está literalmente em fase de arranque e estamos a ultimar os elementos preparatórios do Kassandra@Côa com os vários parceiros envolvidos e prevemos que o projeto esteja no terreno a partir de julho de 2022, indicou Miguel Almeida.
“Quando o protótipo estiver concluído será colocado na generalidade das rochas do Parque Arqueológico do Vale do Côa que estão em situação mais vulnerável”, frisou.
Para os investigadores, este tipo de protótipo é “inexistente” no mercado, porque receberam da equipa técnica da fundação um cadernos de encargos com parâmetros “específicos” para resolver os problemas destes sítios arqueológicos.
Segundo a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, o projeto tem um investimento de mais de 300 mil euros.
“Estamos a falar de tecnologia pioneira, porque é fundamental monitorizar todos os espaços arqueológicos que temos à nossa responsabilidade”, vincou à Lusa a responsável.
O projeto Kassandra@Côa está a ser desenvolvido numa altura em que apareceram “importantes” descobertas arqueológicas no PAVC.
Aida Carvalho disse ainda que o estudo do efeito potenciador das alterações antropogénicas nos processos de degradação das condições de preservação do património inscrito na Lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) estará igualmente em destaque.
“A melhoria das condições de proteção e preservação do património inscrito na lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla inglesa) é outros dos objetivos do projeto Kassandra@Côa”, vincou a responsável.
O parque arqueológico detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, cada vez mais expostas a adversidades climatéricas e geológicas.
O Parque Arqueológico do Vale do Côa foi criado em agosto de 1996. A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património Mundial pela UNESCO.