Descobertas mais gravuras rupestres no Vale do Côa

A gravura recém-descoberta numa rocha no sítio arqueológico de Penascosa, em Vila Nova de Foz Côa, é uma cabra.

José Monteiro é pastor, conhece como ninguém o sítio da Penascosa, no Vale do Côa, que percorre há mais de 35 anos, e está seguro ao afirmar que o recente achado arqueológico é uma cabra na pedra de xisto.

“Para mim, o que está ali gravado é uma cabra. Mas só com boa luz é que se poderá ver melhor e sempre à medida que o sol vai rodando. Acredito que poderá haver mais gravuras debaixo da terra, porque o nível do terreno foi crescendo devido às cheias do rio Côa”, justificou o pastor.

O pastor que orienta os seus rebanhos, por estas terras, há quase quatro décadas, sempre foi dizendo que conhece as gravuras do Côa desde criança, e que ouviu muitas histórias a elas associadas.

“Para mim, as gravuras são todas iguais. O que é certo é que, por estas paragens, ao longo dos anos, não se via ninguém. Agora vem muita gente de todos os lados, para ver estas gravuras”, observou José Monteiro.

Diariamente passam pela Penascosa, visitantes vindos dos quatro cantos do mundo, para conhecer as gravuras rupestres do Vale do Côa, a “Arte do Côa”, e esta nova descoberta está a deixar muita gente “encantada”, apesar de o percurso entre Castelo Melhor e o sitio arqueológico se fazer apenas com recurso a viaturas-todo-o-terreno.

Se para o pastor José Monteiro é mais uma gravura, para a comunidade científica, por seu lado, trata-se de um verdadeiro achado, desde a classificação do Parque Arqueológico do Vale do Côa como Património da Humanidade.

A agora designada “rocha 37” do sítio arqueológico da Penascosa, nas proximidades de Castelo Melhor, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, continua assim a ser objeto de estudo por parte dos investigadores do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) e, ao mesmo tempo, desperta a curiosidade a quem a ali passa.

“No espaço de uma semana muito trabalho foi feito, após esta descoberta. Temos de escavar mais para perceber o que ainda temos pela frente”, explicou o arqueólogo Thierry Aubry.

Esta rocha está localizada a escassos 50 metros de uma das margens do rio Côa, encaixada nas proximidades de rochas que foram gravadas num período cronológico que vai desde os 25 mil até aos 30 mil anos, o que deixa ainda mais intrigados os arqueólogos que estão no terreno.

As gravuras que se podem observar, na sua maioria, no Vale do Côa, são essencialmente de animais de diversas espécies.

Contudo, e apesar de o achado ainda não estar complemente decifrado cientificamente, os arqueólogos mostraram à Lusa os contornos do picotado da figura e tudo indica que seja um exemplar de uma cabra que ali foi gravada num período entre os 15 mil e os 18 mil anos.

Para o arqueólogo, as condições naturais de todo o Vale do Côa ajudaram a fixação de diversas comunidades de caçadores-recolectores, ao longo de milhares de anos, e esta descoberta vai além daquilo que se imaginava.

Na passada semana, foi colocada a descoberto uma nova rocha com gravuras rupestres, no sítio da Penascosa, no PAVC.

Segundo os especialistas, os motivos desta nova rocha apresentam um estilo que é mais característico de fases mais recentes do Paleolítico Superior, com uma idade em redor dos 15 mil a 18 mil anos, do que a maioria das rochas do sítio, com 25 mil a 28 mil anos.

“Há cerca de 20 anos que não eram feitas sondagens no sítio na Penascosa, que é um dos mais emblemáticos do Vale do Côa”, vincou o investigador da Fundação Côa Parque.

O PACV tem uma extensão de 20 mil hectares em todo o seu território e mais de meio milhar de rochas identificadas no período do paleolítico, dos 25 mil aos 30 mil anos.

Segundo os especialistas, ali se encontra o maior museu ao ar livre do Paleolítico de todo o mundo, que, em 1998, recebeu a classificação de Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.


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