As unidades hoteleiras da região Centro estão a retomar a atividade após a pandemia, mas há situações “preocupantes” e algumas podem não reabrir as portas, alertou ontem o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria.
O dirigente sindical Afonso Figueiredo disse à agência Lusa, na Guarda, que a retoma no setor “está a acontecer” e que este mês, por ocasião dos feriados, “as unidades hoteleiras já registaram valores de ocupação bastante significativos face àquilo que era expectável”.
“Ao contrário do que dizem muitas associações patronais, as ocupações foram bastante significativas, a grande maioria delas ultrapassaram os 50%. Isto é um sinal de que a retoma está ai e vai estar. Estamos otimistas em relação a isso”, disse.
Afonso Figueiredo alertou, no entanto, para “muitas situações preocupantes” na região Centro, onde existem “muitos trabalhadores que ainda não receberam os salários de março”.
“Temos muitas unidades em que não temos sequer a garantia de que elas voltam a reabrir. [A pandemia da covid-19] vai deixar marcas bastantes evidentes e não sabemos como vai ser o dia de amanhã”, afirmou.
Afonso Figueiredo falava na cidade da Guarda, à margem de uma conferência de imprensa realizada após uma reunião com a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), no dia em que os trabalhadores do hotel de Manteigas da Fundação INATEL estão em greve.
No encontro com os jornalistas, o sindicalista denunciou os “sucessivos atropelos levados a cabo pela administração da Fundação Inatel face ao que determina o Acordo de Empresa e que tem penalizado os trabalhadores ao serviço nas unidades hoteleiras da Fundação Inatel, bem como a demora na intervenção por parte da ACT face às denúncias dos incumprimentos denunciados”.
Deu também conta do descontentamento dos trabalhadores por a administração “não honrar os compromissos que assumiu no que respeita à matéria salarial para 2019”.
Segundo Afonso Figueiredo, nos últimos dez anos, os trabalhadores da Fundação INATEL “tiveram apenas um aumento salarial” no ano de 2019 e, “até hoje”, aquela entidade “não apresentou sequer uma contraproposta” à proposta de aumentos salariais.
O dirigente sindical denunciou ainda que aquela entidade não cumpre com o pagamento do subsídio noturno aos trabalhadores e decidiu, “de forma unilateral”, alterar os horários.
O presidente do conselho de administração da Fundação INATEL, Francisco Madelino, disse à Lusa que a instituição “cumpriu todas as matérias do acordo”.
“A Fundação cumpriu todas as matérias do acordo, está a pagar subsídio noturno a todos os trabalhadores, fez um aumento salarial e verificou todas as normas que estavam no Acordo de Empresa e, sobretudo, manteve os rendimentos [dos trabalhadores] num ano em que 80% da indústria hoteleira entrou em ‘lay-off'”, explicou.
O responsável acrescentou que o horário foi regido pelos requisitos legais e “foi levado à mesa das negociações”, mas os trabalhadores “não querem cumprir e fazer o horário entre as 16:00 e as 24:00”.
Segundo Francisco Madelino, a INATEL “tem cerca de mil trabalhadores e estão cinco em greve”, sendo quatro rececionistas no hotel de Manteigas e um dirigente sindical.