A Confraria da Urtiga de Fornos de Algodres, no distrito da Guarda, anunciou hoje que produziu com sucesso queijo de ovelha com a utilização de urtiga como coagulante do leite, em vez do tradicional cardo.
O grão-mestre da confraria, Manuel Paraíso, disse hoje à agência Lusa que foi feita a experiência de utilizar urtiga como coagulante do leite de ovelha da Serra da Estrela e que o produto final “tem potencial”.
Foram confecionados dois pequenos queijos, cujo processo de cura demorou “cerca de dois meses”, que foram divulgados durante a Feira do Queijo Serra da Estrela de Fornos de Algodres, realizada no fim de semana, indicou.
Segundo o responsável, a avaliação dos provadores “é a de um queijo de textura dura, sabor intenso, derivado da combinação do leite de ovelha com a urtiga”.
O processo de cura do queijo com urtiga é mais moroso do que aquele que utiliza cardo, “porque a coagulação leva cerca de 24 horas” a concretizar-se, explicou Manuel Paraíso.
A coagulação do leite é feita “por acidificação, há um abaixamento do pH do leite e o leite coagula”, o que “exige algum tempo”.
“Enquanto no processo tradicional o cardo é amassado com o sal e o líquido que resulta é introduzido no leite, aqui a urtiga é metida diretamente no leite e fica 24 horas a uma temperatura de 35 a 37 graus e, a partir daí, temos uma massa cremosa, com a consistência do iogurte grego que depois transformamos em queijo”, disse.
Os queijos são envolvidos em pó de urtiga triturada e ficam com uma textura de cor verde.
Segundo o grão-mestre, a experiência, que surgiu por ter conhecimento que a urtiga “já tinha sido utilizada como coagulante do leite em tempos que já lá vão”, permite criar um produto diferenciado com utilização do leite de ovelha da Serra da Estrela.
“Se calhar, para as nossas queijeiras não terá utilidade, mas para nós é uma forma de provar mais uma das utilidades da urtiga”, observa Manuel Paraíso.
A Confraria da Urtiga também já produz dois queijos de ovelha com a base do Serra da Estrela, sendo que num caso é introduzida urtiga seca no seu interior e, no outro, a planta cozida.
Os dois produtos “ficam com texturas diferentes e com aspetos diferentes”, disse o responsável, referindo que os mesmos apenas são confecionados por uma queijeira do concelho de Fornos de Algodres para degustação em iniciativas da congregação.
Os queijos com urtiga juntam-se a outros produtos produzidos pela coletividade que foi criada em maio de 2009 para incentivar a utilização daquela planta na gastronomia local. Alheira, pão, queijada, licor, bombons de chocolate com recheio de urtiga e azeite aromatizado com a planta, são alguns dos produtos gastronómicos criados pela Confraria da Urtiga.
Segundo o grão-mestre Manuel Paraíso, a queijada está em processo de certificação e dois produtores de enchidos de Fornos de Algodres estão a produzir “alheira de urtiga” e “urtigueira” (semelhante à alheira), sendo que um deles “já exporta para a Holanda”.
A urtiga, que tem o nome científico de “urtica dioica”, é uma planta selvagem que cresce nos campos de forma espontânea.