Os valores de referência dos apoios para a construção de coberturas nos pomares de cereja têm de ser alterados, de modo que os produtores tenham capacidade financeira para fazer o investimento, alertou o presidente da Câmara do Fundão.
Segundo Paulo Fernandes, que já expôs a preocupação ao ministro da Agricultura, os valores dos programas criados para os túneis que podem proteger parte da produção de condições meteorológicas adversas, no caso da cereja, estão “mal desenhados, subdimensionados, suborçamentados”.
“Os programas de apoio são eventualmente interessantes para outro tipo de fruta, por exemplo, a maçã, mas para a cereja estão completamente subdimensionados, suborçamentados e a taxa de esforço é de tal maneira grande, como o apoio tem uma base tão pequena, que o produtor não consegue lá chegar”, frisou à agência Lusa o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes.
O autarca salientou que, para os agricultores estarem mais defendidos e não tão dependentes das condições meteorológicas, 25% dos pomares deviam estar cobertos, o equivalente a 250 hectares, como acontece atualmente com cerca de 20 hectares, que dão para “perceber a vantagem”.
“O programa foi criado de igual maneira para várias fileiras mais fustigadas, nomeadamente pelo granizo, só que há uma diferença muito grande entre os sistemas de túnel para a maçã e para a cereja”, explicou à Lusa Paulo Fernandes, que acentuou serem necessárias estruturas mais robustas, que protejam também da chuva forte.
O valor de referência do apoio tem atualmente um teto de 15 mil euros por hectare, com uma comparticipação de 50%, mas, no caso da cereja, o custo por hectare nas coberturas situa-se entre os 40 a 50 mil euros, o que significa uma ajuda a fundo perdido de “pouco mais de 10%”.
“Chegou-se à conclusão de que os valores associados à cereja, relativamente à tipologia de túnel, eram necessariamente superiores aos da maçã, e isso levou a que o programa, no caso da fileira da cereja, não tivesse eficácia”, realçou o presidente da Câmara do Fundão, que destacou o esforço financeiro necessário para fazer o investimento e a incapacidade em aderir ao programa por parte dos produtores, que se deparam com dois anos consecutivos de perdas muito acentuadas na produção.
De acordo com Paulo Fernandes, o ministro da tutela “percebeu a questão” e disse que vai analisar.
Agora, espera-se que “essa questão possa vir a ser corrigida”.
O presidente da Câmara do Fundão adiantou que a cobertura de 25% dos pomares de cereja representaria um investimento global de cerca de 20 milhões de euros, o valor que representa anualmente a fileira no concelho do distrito de Castelo Branco.
“Se tivéssemos um apoio para esses 20 milhões de euros de cerca de dez milhões de euros, a fileira da cereja estava garantida para os próximos anos sem estar tão dependente das alterações climatéricas”, referiu Paulo Fernandes.
Dependendo das variedades, aponta-se para uma quebra de produção em relação a anos normais na ordem dos 70% e, apesar do reajustamento dos preços, a diferença “não consegue cobrir o rendimento necessário para que possa ser um ano equilibrado e sustentável para os agricultores”.
O presidente da Câmara do Fundão informou ter também pedido à tutela que possa haver algumas linhas de apoio, como “antecipação de ajudas, alguma reconversão de empréstimos que os produtores eventualmente têm e ajudas de cariz mais direto, que possam ajudar a diminuir este impacto de dois anos com perdas muito grandes”.