O bispo da Guarda, Manuel Felício, assegurou hoje, 20 de outubro, que “sempre comunicou a quem de direito todas as denúncias, mesmo as anónimas, que lhe chegaram”, por alegados abusos sexuais de menores na sua diocese.
“Tomando conhecimento de notícias colocadas a circular por um jornal ‘online’, o bispo diocesano deseja esclarecer que sempre comunicou a quem de direito todas as denúncias, mesmo as anónimas, que lhe chegaram”, referiu o Gabinete Episcopal de Comunicação e Relações Públicas da Diocese da Guarda, em comunicado enviado à agência Lusa.
Este esclarecimento surgiu na sequência de uma notícia do Observador, que avançou que, “ao contrário do que está a acontecer noutras dioceses do país, o bispo da Guarda mantém à frente de várias paróquias um padre que está a ser investigado por abusos”.
Segundo aquele jornal, o padre em causa está relacionado com “um dos quatro inquéritos que se mantêm abertos pelo Ministério Público após a análise dos 17 casos respeitantes a padres ainda no ativo” que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica Portuguesa fez chegar à Procuradoria-Geral da República (PGR).
A diocese da Guarda acrescentou que o bispo Manuel Felício, “em caso algum, deseja contribuir para transformar qualquer notícia, declaração ou até acusação sem investigação, em condenação direta e sumária na praça pública”.
“É tempo de confiar na justiça”, sublinhou.
A diocese aproveitou, ainda, para manifestar a sua gratidão “pelo serviço que a Comissão de Proteção de Menores tem prestado à Igreja e à sociedade”.
Segundo o Observador, um padre da diocese da Guarda está a ser investigado por suspeitas de abusos sexuais de menores, mas o bispo Manuel Felício “continua a mantê-lo em funções num conjunto de paróquias da diocese, onde tem a seu cargo várias comunidades e serviços que lidam com crianças e jovens”.
A opção do bispo de manter o padre em funções após uma denúncia “contrasta com o que tem acontecido noutras dioceses portuguesas, como Lisboa, Vila Real ou Évora, em situações semelhantes”, acrescentou aquele jornal.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu 424 testemunhos, revelou, no dia 11, o coordenador da estrutura, Pedro Strecht, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
“Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas formas englobadas no trabalho da Comissão. O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa”, afirmou o pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Na segunda-feira, a PGR adiantou que o MP já arquivou seis dos 10 inquéritos instaurados a partir das 17 denúncias remetidas pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica.
“Dos inquéritos instaurados, quatro encontram-se em investigação e seis (instaurados na sequência de oito situações denunciadas) conheceram despacho final de arquivamento”, referiu a PGR num esclarecimento enviado à Lusa.