A Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) está indignada com o “criminoso atentado” contra uma gravura rupestre no Parque Arqueológico do Vale do Coa, em Vila Nova de Foz Coa, descoberta no final de abril.
Num comunicado divulgado na sequência de uma reunião de emergência sobre esta situação, a associação “condena com veemência e manifesta a sua mais viva indignação” pelo vandalismo de um dos mais significativos núcleos de Arte Rupestre do Vale do Coa.
A direção da AAP, que assina o comunicado, recorda que o núcleo em causa está classificado pela UNESCO, como Património da Humanidade, e exige “uma punição exemplar dos seus autores materiais”.
A Fundação Coa Parque denunciou, no final de abril, um “inqualificável” atentado contra uma das rochas do parque arqueológico, na qual está representada uma figura humana com mais de dez mil anos.
“Fomos surpreendidos com a descoberta de novíssimas gravações de uma bicicleta, um humano esquemático e a palavra ‘BIK’ diretamente sobre o conhecidíssimo conjunto de sobreposições incisas do setor esquerdo daquele painel, onde, como é universalmente sabido, está o famoso ‘Homem de Piscos’, a mais notável das representações antropomórficas paleolíticas identificadas no Vale do Coa”, disse à Lusa, na altura, o diretor do parque arqueológico, António Baptista.
A direção da AAP reclama ainda, no comunicado, a intervenção direta do Ministério da Cultura na gestão do Parque Arqueológico do Coa, “de modo a assegurar a reposição imediata, e até o reforço do dispositivo de vigilância e segurança dos vários núcleos de arte rupestre que o integram”.
José Morais Arnaud, presidente da direção, acrescenta, no comunicado, que “o ministro da Cultura [Luís Filipe Castro Mendes] foi, há já mais de um ano, alertado para a grave situação do Museu e do Parque Arqueológico do Coa, pela AAP e por outras entidades, sem que ações efetivas tenham sido tomadas no terreno”.
Por outro lado, o dirigente espera que “o Governo não se limite a lamentar uma situação de que, em última instância, é o responsável político, e tome as medidas conjunturais e estruturais adequadas para assegurar uma efetiva proteção e valorização de um património de excecional valor arqueológico, histórico e artístico”.
Na altura, a Lusa questionou o ministro sobre a falta de segurança do parque, tendo Luís Filipe Castro Mendes referido que “toda a gente” se queixa de falta de vigilância, e admitiu que, se dissesse que está tudo bem, estaria a ser “incorreto”.
“Vivemos anos de cortes brutais em todas as estruturas da Cultura, seria impossível que num ano estivesse tudo remediado”, considerou.
“Isto mostra a vantagem de termos uma nova estrutura que está praticamente pronta, a fundação está constituída, os estatutos estão aprovados, estão nomeados os representantes dos vários ministérios e, agora, vamos entrar a trabalhar muito seriamente a partir do fim deste mês”, salientou.
Com esta alteração, Luís Filipe Castro Mendes sustentou que estarão a trabalhar no terreno de “outra maneira” e com a cooperação dos trabalhadores de Foz Coa que, na sua opinião, têm tido uma “resistência notável”.
No começo de abril, o Conselho de Ministros aprovou o decreto-lei que altera os estatutos da Coa Parque – Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Coa, que abrange o Museu e o Parque Arqueológico.
De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, a ação do Governo é “fortalecida, passando a área da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a estar representada no conselho diretivo em estreita articulação com os representantes da Cultura, do Turismo, do Ambiente, da autarquia local e da Associação de Municípios do Vale do Coa”.
Em novembro, o Governo já havia aprovado uma resolução com vista à viabilização da Coa Parque – Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Coa, sediada em Vila Nova de Foz Coa, no distrito da Guarda.