Símbolo em pedra serve de prova da presença judaica em Viseu

Investigadores acreditam que gravura encontrada numa pedra simboliza a “menorah”, o que poderá ser o primeiro testemunho físico da presença de judeus em Viseu. Director do Museu Judaico de Belmonte atestou autenticidade. Académicos dizem ser prematuro tirar conclusões.

Uma pedra com um símbolo do que se supõe ser uma “menorah” (candelabro com sete braços) foi encontrado na parede de uma casa em Viseu e está a ser dado como o primeiro vestígio material da existência de uma comuna judaica na cidade.

O achado foi feito durante obras de requalificação de um imóvel, no âmbito do programa “Reabilitar para Arrendar” da responsabilidade da autarquia viseense.

“Foi encontrado, no seu interior, aquele que é considerado pelos especialistas o primeiro achado relativo à presença da comunidade judaica na cidade de Viseu”, anunciou a Câmara em comunicado. O achado foi feito há cerca de meio ano pelo arqueólogo Pedro Sobral, responsável pelo projecto de arqueologia do edifício, mas só agora divulgado.

A sua autenticidade, revelou a mesma fonte, foi confirmada pelo director do Museu Judaico de Belmonte. José Domingos revelou ao jornal PÚBLICO tratar-se de “uma manifestação cripto-judaica”. “Na minha óptica, a gravura a tudo se assemelha a um símbolo da comunidade judaica”, disse. O investigador explicou que se pode tratar de um símbolo do tempo “em que os judeus tinham de estar escondidos”, frisando ter encontrado mais sinais típicos de uma comuna judaica na rua e outras adjacentes ao imóvel.

A pedra com o símbolo, previsivelmente com origem no século XVII, terá estado originalmente numa casa algures nas imediações da rua Direita antes de ser empregue na construção da fachada do edifício onde se encontra actualmente.

“Assemelha-se em tudo a um candelabro, apesar de estar deitado e não na posição vertical, mas porque a pedra foi reaproveitada”, sustentou o director do Museu de Belmonte que anunciou que imagens do símbolo foram enviadas para Israel.

No seio da academia de Viseu, há quem afirme ainda ser “prematuro” dizer-se que se trata de uma “menorah” e que a gravura necessita de um estudo “mais aprofundado”.

Comunidade judaica em Viseu
O estudo da presença da comunidade judaica em Viseu tem sido feito essencialmente com recurso a documentos produzidos ou recolhidos pelo cabido da Sé Catedral.

“Não havia até agora nenhum elemento físico que atestasse a presença da comunidade em Viseu e estou convencido que mais haverá espalhados por esta zona”, disse o arqueólogo Pedro Sobral, a propósito da descoberta do símbolo.

Vários investigadores, por exemplo, colocam a hipótese de ter existido uma sinagoga entre a Rua Senhora da Boa Morte e a Sé, mas até à data ainda não foram encontrados elementos que atestem esta suposição.

O que se sabe é que a primeira comuna judaica estava agrupada fora das muralhas da cidade. Segundo uma publicação na revista Medievalista, o historiador Anísio Saraiva atesta que remontam  ao ano de 1284 os primeiros testemunhos da presença hebraica em Viseu (cidadão de nome Abraão), “cuja comuna se desenvolveu e prosperou sobretudo a partir dos inícios do século XV, no preciso momento em que, por um lado, o país recebia um numeroso contingente judaico oriundo de Castela e, por outro, a cidade dava início a um amplo e exigente processo de reconstrução do seu tecido urbano, após os saques e as destruições que resultaram da guerra travada durante décadas com o reino vizinho”.

“A história dos judeus em Viseu não está estudada, apesar de algum trabalho já feito neste campo, e é uma pena porque esta comunidade, ao que tudo indica, teve uma grande importância na cidade”, sublinhou o director do Museu Judaico de Belmonte.


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