Renda de nó tradicional ajuda a fintar desemprego em Pinhel

Após anos a trabalhar numa fábrica de calçado, uma mulher de 54 anos, residente em Alverca da Beira, Pinhel, agarrou-se à tradicional renda de nó para poder sobreviver e contornar a falta de emprego na região.

Ana Frias, depois de 16 anos na multinacional de calçado Rhode, em Pinhel, foi uma das 370 pessoas lançadas para o desemprego quando a unidade fechou, em 2006, mas assumiu-se como uma exemplo de quem não se resigna perante a falta de trabalho. Como as alternativas não surgiram, em 2009, começou a dedicar-se à renda típica da sua terra, para contribuir para o orçamento familiar. A decisão de ser rendilheira foi facilitada pelo facto de já ter aprendido a arte, há 25 anos, durante a frequência de um curso, patrocinado pela Câmara Municipal de Pinhel. “Ainda estive três anos no Fundo de Desemprego, mas depois dediquei-me às rendas”, disse Ana Frias à agência Lusa. Das suas mãos saem panos, toalhas, cortinados, centros de mesa e lençóis, entre outros artigos artesanais feitos em renda. A rendilheira “vai vendendo” peças ao longo do ano, na feira anual de Pinhel (Feira das Tradições), a pessoas do concelho e a emigrantes em França que conhecem o seu labor. A renda de nó “dá muito trabalho, porque é tudo feito à mão”, mas a mulher já não se imagina a exercer outra atividade. “Gosto de fazer de tudo, mas leva muito tempo, porque para fazer um jogo [de panos] para um quarto, que são três peças [vendidas por 200 euros], demoro um mês e meio”, indicou. O processo é demorado e minucioso e começa com a execução de uma espécie de “rede para os peixes” em linha, que depois é colocada “num quadro de madeira, onde se faz o bordado”. A rendilheira de Alverca da Beira lamenta que as mulheres jovens não se interessem pela arte: “Não gostam. Eu tenho uma filha e ela gosta disto, mas se eu lho der [feito]. Se eu lhe disser para aprender, não quer”. “Aqui na terra ainda há umas quatro ou cinco mulheres que sabem fazer renda, mas só para elas. Eu sou a única que faço para fora”, disse, com satisfação. Das mãos das rendilheiras desta aldeia de Pinhel já saíram toalhas para Cavaco Silva (quando foi primeiro-ministro) e para Mário Soares (quando desempenhou as funções de Presidente da República). “Eu também sempre ouvi dizer – a pessoas que já morreram – que o enxoval da rainha Dona Amélia, em renda de nó, foi todo feito em Alverca da Beira”, disse Ana Frias. A mulher aprendeu a fazer renda com Maria Alves, de 79 anos, que se orgulha de a ter ensinado.”Aprendeu muito bem. Ela é perfeita”, disse à Lusa a septuagenária, que ficou “contente” por a conterrânea se ter dedicado inteiramente ao ofício tradicional. Aurora Feio, de 79 anos, que tem “pena” por não saber fazer renda, lembrou que antigamente todo o enxoval de noiva incluía obrigatoriamente lençóis de renda, que eram utilizados na noite do casamento. Naquele tempo “quase todas as mulheres da terra sabiam fazer renda de nó”, rematou.


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