O consumo de ketamina, substância utilizada pelos veterinários como anestésico, por exemplo, em cavalos, levou ao internamento de oito reclusos do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco. Correm todos perigo de vida, de acordo com o diretor clínico do Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, e estão nos cuidados intensivos, com “cinco mais instáveis, mas todos em estado crítico”.
Este produto terá entrado na prisão durante a manhã no horário em que os reclusos receberam visitas. Para já, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) não comenta a situação, tendo anunciado, em comunicado, que vai aguardar pelas averiguações que serão conduzidas pelo Ministério Público para apuramento do tipo e modo de entrada na prisão desta substância.
A DGRSP adiantou em comunicado que os oito presos – com idades entre os 24 e os 53 anos – apresentavam sinais de doença súbita, resultante do consumo de, presumivelmente, ketamina, uma substância psicadélica dissociativa usada medicinalmente como anestésico veterinário e humano. A droga terá entrado no período de visitas da manhã e sido entregue a um dos reclusos. Este terá ingerido esta substância com mais sete presos da mesma ala, cinco deles da mesma cela.
Os guardas prisionais foram alertados pelas 13.00 para os sintomas de mal-estar apresentados pelo grupo e deram o alarme. Pelas 13h25, chegaram ao estabelecimento prisional oito veículos e 15 elementos do corpo local de bombeiros, agentes da PSP e uma equipa do hospital albicastrense, com uma viatura médica de emergência e reanimação (VMER), para transportar para o hospital oito reclusos. Todos estavam na mesma ala e apresentavam convulsões e paragem cardiorrespiratória.
Sintomas “compatíveis com algo estranho que não podemos agora identificar. Foi feita colheita de sangue, mas efetivamente seria uma substância que juntamente com alguns medicamentos que estariam a tomar trouxe-lhes uma série de sintomas desagradáveis e estranhos que alertou os guardas prisionais”, referiu Vieira Pires, presidente da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB), em conferência de imprensa.
Quatro dos reclusos estão internados numa sala que o hospital abriu no Serviço de Cirurgia, pelo facto de a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), onde a equipa foi reforçada, estar lotada. “A situação dos oito reclusos, que estão ao cuidado da UCI e ventilados, é grave, sendo imprevisível o seu desenvolvimento durante algumas horas”, acrescentou Vieira Pires.
Os serviços do hospital tiveram dificuldades em entubar alguns dos presos, o que significa, explicou o médico, “que havia espasmos, contrações musculares, o que é compatível com algumas substâncias que habitualmente este tipo de pessoas ingerem ou inalam. Estão com comportamentos estranhos, compatíveis com uma ingestão abusiva de neurolépticos ou de relaxantes”.
Rui Filipe, diretor clínico da ULSCB, adiantou que o hospital não tem comprovação bioquímica de que a substância que os reclusos ingeriram foi a Ketamina, contudo, “a sintomatologia deles enquadra-se nesse tipo de intoxicação e as medidas que estão a ser tomadas seguem essa situação. Mas não podemos excluir que possam estar outro tipo de drogas associadas”.
Este responsável adiantou que foram feitas análises no laboratório do hospital, cujo resultado foi “positivo para canábis e benzodiazepinas”. “O resto foi para os laboratórios competentes”, concluiu.
Este é mais um caso que põe a prisão de Castelo Branco no centro das atenções. Recentemente, cerca de uma dezena de viaturas de funcionários e guardas prisionais foram vandalizados à porta de casa dos proprietários. A PSP confirmou que quatro queixas foram apresentadas sobre atos de vandalismo, sobretudo, pneus furados. Na mesma semana, nas fechaduras dos gabinetes administrativos da prisão foi introduzida supercola. A porta do gabinete da diretora da prisão – Fátima Jerónimo, no cargo desde outubro de 2009 – teve mesmo de ser substituída. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais comunicou o caso à Polícia de Segurança Pública.