Os Verdes dizem que caça na Malcata é um erro

Os Verdes afirmaram, esta terça-feira, que permitir a caça na Serra da Malcata é um erro e manifestaram “enorme preocupação” pela decisão de revogar a portaria que interditava a prática da caça na zona Sul daquela reserva.

“Esta decisão poderá agravar ainda mais os problemas que têm afetado a conservação da natureza no nosso país”, afirma o partido ecologista Os Verdes em comunicado enviado à agência Lusa.

Os Verdes destacam que a Reserva Natural da Serra da Malcata (RNSM) é “habitat para muitas espécies emblemáticas da fauna selvagem portuguesa, como o lince-ibérico, o abutre-negro, a cegonha-negra ou o bufo-real”, destacando o lince-ibérico por ser uma “espécie prioritária de conservação e estar classificada como criticamente em perigo”.

“É um dos mamíferos mais ameaçados do mundo e ultimamente têm sido investidos vários milhões de euros num programa nacional para a recuperação da espécie no nosso território. Também por essa razão é incompreensível que se venha agora permitir a caça em plena Reserva Natural, o que certamente constituirá mais uma ameaça à possibilidade de recuperação desta espécie”, acrescentam.

Os Verdes adiantam que irão “desenvolver esforços no sentido de perceber as razões por trás desta decisão e, assim, envidar esforços para a suspender”, tendo já questionado o Governo sobre esta matéria.

O partido ecologista adianta ainda que irá efetuar diligências no “sentido de suspender ou revogar esta decisão”.

Além disso, o Partido Democrático Republicano (PDR) de Castelo Branco também manifestou esta terça-feira “sérias reservas” à revogação da portaria e apelou “a todas as forças políticas democráticas e organizações ambientalistas no sentido de unirem esforços para que seja, ainda, possível reverter a situação”.

O Ministério do Ambiente revogou no dia 08 de fevereiro a dita portaria que existia há quase 23 anos, decisão que já foi contestada pela Quercus e pelo PAN que, em diferentes comunicados, acusam o Governo de ceder a pressões, considerando que a decisão pode pôr em causa a preservação de determinadas espécies e a recuperação de outras, tais como o lince-ibérico.

Em resposta enviada à Lusa na sexta-feira, o Ministério do Ambiente já tinha referido que são “inequívocas” as vantagens do ordenamento cinegético para conservação dos recursos naturais.

E disse que a promoção do ordenamento cinegético nas áreas onde tal prática se encontrava interditada, desde 1993, “constitui um instrumento fundamental” para promover a conservação da natureza e a biodiversidade, e “a articulação e a integração dos objetivos de conservação e de utilização sustentável dos recursos naturais na política de ordenamento do território e nas diferentes políticas setoriais”.

Igualmente favorável à decisão, está o presidente da Câmara de Penamacor (concelho que é afetado pela medida), entidade que ficará a gerir a zona de caça que foi simultaneamente criada.

Em declarações à agência Lusa, António Luís Beites atribuiu as críticas ao desconhecimento, explicou que a zona de caça será baseada num plano cinegético que visa a caça grossa e que ajudará a preservar a biodiversidade.

Sublinhou ainda que a existência de uma zona de caça não é incompatível com a reintrodução dos linces no território e revelou que a RNSM foi excluída do Plano Nacional de Reintrodução de Linces há cerca de um ano, decisão que classificou como “vergonhosa e lamentável”.

A RNSM tem como símbolo o lince-ibérico e estende-se ao longo de 16.348 hectares dos concelhos do Sabugal e de Penamacor, respetivamente nos distritos da Guarda e Castelo Branco.


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