Número de jovens “nem-nem” cai para 400 mil no final de 2013

Dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que os inativos têm vindo a ganhar peso no total de jovens que não trabalham, não estudam nem estão em formação.

O número de jovens que, no final de 2013, não trabalhavam, não estudavam, nem estavam em formação caiu 13% face ao ano anterior. Ao todo, havia 400 mil “nem-nem”, ou seja, jovens entre os 15 e os 30 anos que não estão na escola e também não encontram lugar no mercado de trabalho.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao último trimestre de 2013, mostram que havia menos 59 mil jovens nesta situação em comparação com o período homólogo. Depois de o número de “nem-nem” ter atingido o pico no terceiro trimestre de 2012 (468 mil) e no primeiro trimestre de 2013 (464 mil), a partir da segunda metade do ano, este número começou a reduzir-se, acompanhando a trajetória de descida trimestral do desemprego.

Nuno Almeida Alves, investigador do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, onde se dedica à temática do desemprego juvenil, alerta que esta descida pode ser o resultado da convergência de vários fatores: a emigração, a extensão da escolaridade obrigatória até ao 12º ano e os programas de estágios e formação dirigidos aos jovens. Mas de uma coisa tem a certeza: “O que é facto é que não há emprego a ser criado nestes escalões etários no período em análise. Não é por ação do mercado de emprego que está a baixar o número de nem-nem”.

A faixa etária entre os 25 e os 34 anos continua a ter o maior peso no total (64,4%) de “nem-nem”. Liliana Vieira, 27 anos, e António (nome fictício), de 25 anos, eram dois dos jovens que no final do ano passado ajudavam a engrossar a lista dos que procuravam uma oportunidade para sair do vazio. Agora, passados quatro meses, pouco mudou na sua vida.

Liliana, com o 10º ano incompleto, inscreveu-se na Garantia Jovem em janeiro e está à espera de uma resposta. O último trabalho que teve foi em novembro, três dias à experiência num café, e os currículos que entregou desde então ficaram sem resposta. Desde a última vez que falou com o PÚBLICO, em novembro, tem aumentado o sentimento de que não “há uma saída”, conta pelo telefone.

António, com um mestrado em Engenharia Civil, continua na mesma ou, como diz, “pior, mais que não seja pelo acumular do tempo”. Em julho, faz dois anos que está desempregado e o desespero começa a instalar-se.

“Verifico um pequeníssimo aumento das ofertas que aparecem nos sites de emprego”, nota, mas todas “exigem admissibilidade para estágio financiado pelo IEFP”. António já usufruiu desse apoio e só poderia voltar a fazer um estágio apoiado se fizesse uma formação ou mudasse de área de formação. Enquanto isso, conta, a empresa onde estagiou, recrutou mais dois estagiários.

Os dados do INE dão também conta de que o peso dos jovens desempregados no total de “nem-nem” tem vindo a cair, enquanto os inativos vêem a sua representatividade aumentar. No último trimestre de 2013, 67,4% dos “nem-nem” eram considerados desempregados, percentagem que compara com os 71,4% do mesmo período de 2012.

Esta queda tem-se verificado desde o início do ano passado, acompanhando a redução trimestral do desemprego jovem.

Pelo contrário, os inativos – embora em menor número – têm vindo a ganhar peso no total. No final de 2012, eram 32,6%, valor que compara com os 28,7% verificados no período homólogo.

Olhando para as médias anuais, 2012 foi o ano em que se verificou o maior número de jovens fora do mercado de trabalho e dos percursos escolar ou formativo, 435 mil, seguindo-se 2013, altura em que o INE deu conta de 432 mil “nem-nem”. Nestes dois anos, ultrapassou-se a barreira dos 400 mil, algo que nunca tinha sucedido.

A preocupação com os “nem-nem” não é de agora, mas ganhou expressão com a crise económica e financeira. Este indicador é uma forma alternativa de analisar o problema do desemprego entre os jovens e transição entre a escola o mercado de trabalho. Enquanto o indicador tradicional corresponde à relação entre os jovens desempregados (estudantes e não estudantes) e a população activa jovem. A taxa de jovens “nem-nem” contabiliza os jovens que estão efetivamente desocupados (não estudam, não estão em formação e não estão a trabalhar), tendo como denominador o total da população jovem (ativa e inativa). Os resultados são bastante diferentes. No último trimestre de 2013, a taxa de desemprego jovem oficial (dos 15 aos 25 anos) era de 35,7%, mas se olharmos para o grupo dos 15 aos 34 anos era de 22,8%. A taxa de “nem-nem” não foi além de 16,3%.


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