Em declarações à Lusa, a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, disse que a exposição parte de uma discussão alargada em torno da parede como lugar privilegiado para a intervenção no espaço público, propondo os artistas questionar o espaço arquitetónico em que as obras são apresentadas.
“Considerando, simultaneamente, o espaço social, histórico, cultural e político em que os equipamentos museológicos se inserem, as obras promoverão um diálogo frutífero sobre o papel da arte junto das comunidades locais em que se apresentam”, disse a responsável.
A exposição “Contra–Parede” sucederá à exposição de João Cutileiro, “Gravuras recentes e outros riscos”, que recebeu cerca de 17.000 visitantes entre abril e setembro.
Por seu lado, o curador da exposição, Hugo Dinis, referiu que o início do projeto curatorial data de abril de 2019: “Nessa particular ocasião, conjuntamente com os artistas, pensámos num projeto que fosse itinerante e que pudesse alcançar parte do território nacional e em lugares, que de algum modo, se poderiam ajustar ao projeto curatorial”.
Hugo Dinis indicou que, através da sensação de clausura do confinamento, foi possível pensar que o espaço público, nomeadamente a parede, seria um lugar ideal para realizar projetos artísticos.
“Estes espaços passaram a ser predominantemente políticos e pensámos que seria pertinente confrontar os espaços arquitetónicos das instituições museológicas acolhedoras. Neste sentido, tanto as gravuras rupestres como o Museu do Côa tornaram-se muito especiais ao projeto que gostaríamos de concretizar”, enfatizou.
Para além da exposição, está prevista a realização de um projeto educativo que irá ser desenvolvido com alunos de diversas faixas etárias.
Em Vila Nova de Foz Côa, o artista Pedro Gomes irá desenvolver com o serviço educativo do museu um projeto em que os alunos irão intervir na imagem do cartaz que o artista criou.
“A ideia será depois colar num espaço público como forma de marcar a presença da exposição e da visibilidade artística e individual de cada interveniente”, disse Hugo Dinis.
De acordo com o curador, adicionando o prefixo “contra” a “parede” recorreu-se ironicamente à contradição para infringir um confronto com as instituições que se erguem através das estruturas arquitetónicas e dos seus significados de poder.
“De facto, ao cobrir a parede e ao ocupar a quase totalidade do espaço expositivo, as obras apresentadas no projeto ‘Contra-Parede’ conquistam espaço de visibilidade que, através da intervenção ativa dos artistas e do público como espectadores informados, se revelam espaços subvertidos de contra-poder”, disse.
“Contra-Parede” será, posteriormente, apresentado nas Caldas da Rainha e em Abrantes, ainda em datas a confirmar em 2022.