O Comboio Presidencial, património nacional, regressa à atividade durante alguns dias, num projeto que “junta os melhores ‘chefs’ Michelin do mundo aos melhores vinhos e produtos locais, servidos a bordo do mais bonito comboio da história portuguesa, ao longo da linha do Douro”, segundo a organização.
O comboio é composto por três antigas carruagens do Comboio Real, que foi mandado construir pelo rei Luís I, no século XIX, além de outras carruagens que foram acrescentadas após a implantação da primeira República.
Em 1940, o comboio foi alvo de uma remodelação e continuou a servir até 1970, o último serviço oficial foi o funeral de António de Oliveira Salazar.
A antiga composição regressa à via-férrea este mês: até 07 de maio, a equipa do ?chef’ dinamarquês Esben Holmboe Bang (restaurante Maaemo, Oslo, três estrelas Michelin) assume os comandos da cozinha, “improvisada” no antigo furgão de bagagens e correios e de onde diariamente saem 64 refeições, sem recurso a fumo, fogo ou gás.
“Nem todos os ‘chefs’ conseguem cozinhar nesta cozinha. É um desafio. É preciso uma determinada mentalidade, é um ato de coragem”, considerou o responsável da organização, Gonçalo Castel-Branco.
Esben Bang, o mais jovem cozinheiro a conquistar três estrelas do guia Michelin para o restaurante Maaemo, em Oslo, Noruega, pretende enaltecer “os maravilhosos ingredientes que há em Portugal”, como a cavala, os espargos ou o pombo, “mas com o toque” da cozinha nórdica, descreveu o seu ‘sous-chef’, Halaigh Whelan-McManus. O ‘chef’ de origem dinamarquesa sofreu uma lesão, que o impediu de viajar para Portugal.
No Maaemo, a cozinha é inspirada na “etimologia, história e regionalismo da Noruega”, caracterizando-se por ser “sazonal, local e simples”, disse o número dois de Esben Bang.
Depois de uma primeira edição de dez dias no ano passado, o Comboio Presidencial sai do Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, para percorrer a linha do Douro entre a estação de São Bento (Porto) e a Quinta do Vesúvio (Vila Nova de Foz Coa).
O objetivo, explicou o mentor da iniciativa, Gonçalo Castel-Branco, é “selecionar o melhor que Portugal tem e pô-lo dentro deste comboio”.
Ontem, primeiro dia da edição deste ano, seguiam a bordo responsáveis institucionais e jornalistas, mas também dois clientes.
José Santos, técnico de construção civil, de 39 anos, e a mulher, Cláudia Jorge, arquiteta de 32 anos, participaram na viagem pela primeira vez.
O casal, que vive em Angola, confessa-se adepto “deste tipo de experiências” relacionadas com as estrelas Michelin e foi atraído pela conjugação de gastronomia, história e cultura que a viagem a bordo do Comboio Presidencial proporciona.
No final, o resultado não foi consensual: José considerou que “valeu a pena”, enquanto Cláudia ficou desiludida com o menu.
Para o outono está prevista uma nova edição, na altura das vindimas, quando o Douro tem “novas cores e cheiros”, adiantou Gonçalo Castel-Branco. O objetivo é oferecer mais 20 dias, mas o responsável reconhece que será o comboio a ditar o fututo.
“O comboio é antigo, é uma peça histórica e de viagem para viagem é avaliado para ver se ele aguenta continuar”, referiu.
Sobre a procura, Castel-Branco adiantou que se divide “metade-metade” entre turistas nacionais e estrangeiros, principalmente espanhóis, brasileiros, ingleses, franceses e norte-americanos.
A seguir, serão cozinheiros portugueses a garantir as refeições: nos dias 10 e 11 de maio, Pedro Lemos, com um restaurante com o mesmo nome no Porto, com uma estrela Michelin, e entre 12 e 14 de maio o ‘chef’ será João Rodrigues (Feitoria, uma estrela Michelin, em Lisboa).
Quanto à seleção de cozinheiros para participar nesta iniciativa – em que todos são distinguidos pelo guia Michelin -, o promotor adiantou que o objetivo é “celebrar os portugueses”, mas “também é motivo de orgulho o facto de um ‘chef’ internacional cozinhar num comboio mágico e apaixonar-se por Portugal”.