“Temos a responsabilidade desta nova descoberta e de todo o seu conhecimento junto do público em geral. Para o efeito, temos em fase de construção um cais palafítico para atracagem de embarcação eletrossolar que fará a ligação com o sítio arqueológico da Ribeira de Piscos”, disse à agência Lusa a presidente da Fundação do Côa, Aida Carvalho.
A responsável pela FCP, que tem a tutela do Museu do Côa e do Parque Arqueológico, indicou que a data de anúncio do início das visitas não foi escolhida ao acaso, porque a data de 09 de outubro foi declarada Dia Europeu da Arte Rupestre, pelo Itinerário Cultural do Conselho da Europa – Caminhos Pré-Históricos.
“Pretendemos assinalar este Dia Europeu da Arte Rupestre com [o anúncio da] abertura ao público desta grande descoberta, que é muito importante para este projeto cultural do Vale do Côa”, indicou Aida Carvalho.
A pintura recém-descoberta, que aparenta representar elementos femininos, está enquadrada na visita ao núcleo de arte rupestre da Ribeira de Piscos, um dos mais importantes do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC).
“Trata-se de uma visita que requer mais tempo, porque se trata de um núcleo de gravuras e pinturas mais disperso. Desta feita, combinamos num só sítio dois tipos de arte rupestre de períodos diferentes. Estamos a falar de um trajeto pedonal que pode levar três horas para ser percorrido”, vincou Aida Carvalho.
A recém-descoberta Rocha 60 da Ribeira de Piscos, no Vale do Côa, com pinturas a ocre do período pós-paleolítico, revelou que a chamada Arte do Côa se prolonga por milénios, constituindo essa continuidade o interesse da investigação arqueológica que é permanentemente efetuada no PAVC.
A ‘nova’ forma de arte agora identificada, utilizada pelos habitantes pré-históricos do Vale do Côa, tem unicamente pinturas a ocre datadas do período pós-paleolítico, características da sua arte naturalista e esquemática, e surge num contexto de 30 mil anos, em que, até agora, no mesmo território, eram apenas conhecidos testemunhos da técnica do picotado ou de abrasão das rochas.
O Vale do Côa, um dos maiores santuários mundiais de arte rupestre ao ar livre, com esta descoberta recente, preenche assim um espaço temporal de cerca de cinco mil anos, através da pintura, abrindo perspetivas na investigação e levantando questões sobre a conservação deste património recém-descoberto.
No terreno está o projeto LandCRAFT.5, liderado pelo Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, que teve início em 2020 e permitiu, pela primeira vez, colocar a descoberto pinturas da chamada arte levantina da pré-história pós-paleolítica, ou seja do período mesolítico.