Segundo informação oficial do Município de Gouveia, “após a deteção dos vestígios durante o acompanhamento arqueológico da escavação mecânica definido no caderno de encargos, foi comunicado à tutela, no caso à Direção Regional da Cultura do Centro, que conjuntamente com todos os envolvidos, e nos parâmetros legais em vigor no país, decidiu a escavação integral da área afetada pela empreitada, com as estruturas a serem salvaguardadas pelo registo arqueológico, para proceder à normal instalação dos equipamentos.”
“A escavação identificou diversas estruturas, cujo valor se retira da obtenção de dados, informação e conhecimento passível de ser apropriado. Para além do conhecimento, este tipo de ações reveste-se de um elevado grau de importância para gerir o património cultural e as intervenções futuras na cidade com mais e melhor informação arqueológica, minimizando assim os impactos no subsolo arqueológico urbano. Apesar de ainda ser necessário aguardar pelo relatório final aprovado pela tutela, é possível avançar com a descrição, genérica, dos vestígios”, acrescenta o Município.
Na Praça Dr. Alípio de Melo foram identificadas duas estruturas. Um muro de grandes dimensões, composto na base por silhares perfeitamente aparelhados. É provável que esta estrutura desse origem ao conhecido muro do “lameiro do Conde” de Vinhó, cujo solar se situava no atual Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta. Deixa-se em aberto a possibilidade de os silhares terem sido trazidos para este local dada a qualidade do trabalho de cantaria e às dimensões dos silhares. A outra estrutura corresponde a um sistema de encanamento de águas, anterior à construção desse grande muro, que poderá estar relacionado com o fontanário do “Tinoco”, pela direção que a estrutura assumia, ou integrar o sistema de regadio antigo. Somente após a análise estratigráfica e material será possível avançar com uma cronologia para estas estruturas, sendo que não serão anteriores ao século XVIII.
Na confluência norte da Rua da República com a Travessa da Biqueira, os vestígios revelaram-se bem mais complexos, muito graças às ações que afetaram as estruturas arqueológicas, irremediavelmente, no último século. As estruturas identificadas encontravam-se já cortadas e destruídas a espaços, pela instalação de estruturas de saneamento, sendo perfeitamente visíveis estas ações. Surgiu assim um nível pétreo perfeitamente regularizado em plano, que encostava a um alinhamento pétreo a norte. Se piso de habitação ou calçada do tipo via pública, é ainda prematuro afirmar. Estas estruturas estavam assentes num depósito de tipo saibroso, que por sua vez preenchia uma fossa com dimensões consideráveis, disposta no sentido norte/sul, cuja função ainda desconhecemos. Apesar da identificação de uma boa quantidade de materiais arqueológicos, nomeadamente, cerâmicas medievais, modernas e contemporâneas, um dormente de mó manual e metade de uma mó de rodízio, é impossível, nesta fase, avançar com propostas cronológicas para a estrutura, sendo, uma vez mais necessário, esperar pelo relatório final dos trabalhos. É, no entanto, um achado relevante, pois vai contribuir para conhecer a realidade histórica deste típico bairro local, que apesar de identificado na historiografia local, como arrabalde medieval (fora da muralha que cercava o Bairro do Castelo) nunca foi comprovado com dados arqueológicos. A toponímia (Rua da Carreira Velha) leva-nos a considerar a possibilidade desta estrutura estar associada ao acesso à zona muralhada medieval e à existência de estruturas urbanas complexas no período medieval/moderno, de habitação e/ou económicas.
“Terminadas as diligências e o trabalho de laboratório da equipa da arqueologia, e o relatório entregue e aprovado, irão ser posteriormente publicados os resultados finais destes trabalhos”, refere a autarquia.