Depois do pódio, Mário Patrão quer lutar pela vitória nos ‘originais’ no Rally Dakar

O piloto espreita, agora, a possibilidade de o Dakar incorporar uma categoria específica para motas elétricas, modelos de que é pioneiro a utilizar em competição em Portugal.

O motociclista português Mário Patrão (KTM), que este ano terminou em terceiro na categoria ‘Original by Motul’ do rali Dakar de todo-o-terreno, ambiciona poder vir a lutar pela vitória na classe em que os pilotos correm sem assistência exterior.


Numa conferência de imprensa que decorreu durante a tarde de ontem, dia 23 de janeiro, na sede do principal patrocinador do motociclista, a Caixa de Crédito Agrícola, em Lisboa, Mário Patrão fez “um balanço positivo” da participação na 45.ª edição da prova, que terminou no dia 15, na Arábia Saudita.


Patrão, de 46 anos, concluiu as duas semanas de corrida na 34.ª posição da geral das motas, terceiro entre os que correram sem assistência externa.


“No ano passado tinha sido sexto. Este ano fui terceiro e, agora, gostava de poder lutar pela vitória”, admitiu o piloto natural de Seia (Guarda), que já foi sete vezes campeão nacional de todo-o-terreno.


Para isso, sabe que terá de praticamente “duplicar” os cerca de 40 mil euros que custou o projeto deste ano, pois será necessário “adquirir uma mota nova, pois esta já fez dois ‘Dakares’”, o que implica, só por si, um custo acima dos 35 mil euros.


O facto de residir no interior do território nacional é uma dificuldade acrescida, num país em que o mercado de motas não é dos mais expressivos.


“É mais difícil chegar às grandes empresas e às televisões. As reuniões têm de ser em Lisboa ou no Porto”, admitiu.


Patrão sabe que “voltar ao Dakar” não depende apenas da sua vontade.


“Mas o objetivo é ir na mesma categoria e tentar melhorar o resultado deste ano. Para isso, tenho de fazer uma boa época, fazer alguns ralis, ter a sorte e fazer um bom Dakar”, frisou o piloto que, em 2022, foi campeão mundial de veteranos.


Esta foi a oitava participação do piloto natural de Seia na mais mediática prova de todo-o-terreno, que pelo quarto ano consecutivo se realizou na Arábia Saudita, contando o 13.º lugar de 2016 como o melhor resultado individual.


Desde 2022, no entanto, Mário Patrão decidiu apostar na categoria ‘Original by Motul’, a antiga Malle Moto, em que os pilotos não recebem assistência exterior e só podem usar as ferramentas que viajam numa mala da organização.


“Esta categoria é mais dura, porque não temos os mecânicos. Temos menos tempo de descanso, menos tempo para nos alimentarmos. E o dia não estica. Quando estava nas equipas tinha sempre uma hora ou duas em que podia relaxar depois de terminar a etapa. Agora não, é comer qualquer coisa e tratar da mota para o dia seguinte”, descreveu.


A manutenção diária da mota após as etapas demorava-lhe “quatro a cinco horas”, o que deixava outro tanto para dormir.


“Nem é bem dormir, pois nós temos de ficar em tendas e há sempre geradores a trabalhar, mecânicos a testarem motas, carros, gente a soldar, rebarbadoras a trabalhar… mesmo com tampões nos ouvidos, ouve-se sempre barulho”, explicou.


Este ano, a chuva que se abateu a meio da prova obrigou os pilotos desta categoria a dormir num dos escritórios da organização, “pois as tendas ficaram cheias de lama”.


Outro dos problemas provocados pela chuva foi a água que entrou para a gasolina fornecida pela organização e quase deixava Mário Patrão apeado.


“Tive duas vezes água no combustível e tive de trocar a bomba de gasolina. Houve um dia em que tive de desmanchar a mota duas vezes para mudar a gasolina dos depósitos de trás para os da frente. Foi o maior problema que enfrentei nesta edição, para além de algumas quedas”, frisou Mário Patrão.


O piloto espreita, agora, a possibilidade de o Dakar incorporar uma categoria específica para motas elétricas, modelos de que é pioneiro a utilizar em competição em Portugal.


“O objetivo para este ano é fazer oito a 10 corridas com motas elétricas, para as pessoas perceberem que é possível competir com essas motas amigas do ambiente”, sublinhou.


Quando à possibilidade de fazer um Dakar com uma mota sem motor de combustão, deixa a porta aberta.


“Há projetos em cima da mesa para começar com alguma mota elétrica mas é preciso ajustar, primeiro, os regulamentos. Em 2024 já deve haver classe de motas elétricas. Mas é preciso perceber primeiro como será o regulamento. Se surgir essa oportunidade, vou estudá-la”, concluiu.


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