O Arquivo Nacional da Torre do Tombo e a Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas estão a disponibilizar “online”, e gratuitamente, documentos inéditos relacionados com o escritor Vergílio Ferreira, foi hoje anunciado.
O diretor de ambos os serviços, Silvestre Lacerda, anunciou hoje, em Gouveia, que o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e a Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas iniciou, na quinta-feira, a disponibilização de um conjunto de manuscritos relacionados com Vergílio Ferreira, que estavam integrados “no fundo dos Serviços de Censura e também da PIDE/DGS”, a polícia política da ditadura.
Segundo o responsável, alguns dos documentos incluem “a parte relativa à censura do livro que conhecemos como Manhã Submersa, mas que não era esse o título original, era Cavalo Degolado”. O diretor explicou à agência Lusa que estão acessíveis “os apontamentos em que Vergílio Ferreira justifica à Censura a importância da obra e consegue convencê-los a deixarem publicar essa mesma obra”.
Entre os documentos disponibilizados contam-se igualmente os que dizem respeito à “vigilância que a polícia política fazia de Vergílio Ferreira, recolhendo informação, que, a partir deste ano, [será] disponibilizada pelo Arquivo Nacional, assim como cerca de 18 milhões de imagens que nós [os arquivos], neste momento, disponibilizamos gratuitamente”, indicou.
Silvestre Lacerda, que falava à agência Lusa no final da sessão solene comemorativa do centenário do nascimento do escritor, explicou que a informação acessível contém “apontamentos inéditos, pela mão de Vergílio Ferreira, mas sobretudo a recolha de informação” sobre o escritor.
Era documentação que “se encontrava inédita, que nunca tinha sido consultada no Arquivo da Polícia, e que nós estamos neste momento a disponibilizar”, acentuou.
Silvestre Lacerda disse ainda que são disponibilizadas cerca de 300 reproduções de documentos, destinados ao “público em geral, mas, naturalmente, com interesse particular para os investigadores, para aqueles que se dedicam ao conhecimento mais aprofundado de Vergílio Ferreira”.
A Câmara Municipal de Gouveia está a realizar, até sábado, um ciclo de atividades, que marca a abertura das comemorações do centenário do nascimento do escritor Vergílio Ferreira, a decorrer durante um ano, até janeiro de 2017.
O autor de “Manhã Submersa” nasceu na aldeia de Melo, no concelho de Gouveia, distrito da Guarda, a 28 de janeiro de 1916, e morreu a 01 de março de 1996.
O filho do escritor, o psiquiatra Virgílio Kasprzykowski, disse à Lusa que está a participar nas iniciativas, que também incluíram a reposição do busto do escritor na praça de São Pedro, na cidade de Gouveia, “com uma grande alegria, uma grande satisfação e, até, uma grande honra”.
O presidente da autarquia de Gouveia, Luís Tadeu, anunciou hoje que, até janeiro de 2017, serão realizadas iniciativas que darão a conhecer ao público “as paixões” de Vergílio Ferreira pela pintura, pela música, pela sua terra e pela Serra da Estrela.
No segundo semestre deste ano, a Biblioteca Nacional de Portugal também irá realizar uma exposição, com documentos que o escritor guardou, “dando relevo à especificidade dos processos de escrita e a testemunhos da sua intervenção sociocultural”, segundo a instituição.
A Universidade de Évora, por seu lado, vai realizar o congresso “Vergílio Ferreira: entre o silêncio e a palavra total”, nos dias 29 de fevereiro a 02 de março, dedicado à obra do escritor, sem esquecer a sua ligação à cidade, onde lecionou.