Para atender às necessidades, a associação precisa de seis “mães sociais”, com idades entre os 30 e os 50 anos, o 12.º ano e disponibilidade, para substituir alguns casos de reforma e abrir casas que estão fechadas.
A tarefa de encontrar alguém com a dedicação necessária para abraçar esta missão não é fácil, como conta à agência Lusa Anabela Carreira, que vive há cinco anos na aldeia de Bicesse, em Cascais, um espaço com dez vivendas, rodeadas por pequenos jardins, onde vivem 65 crianças.
“Têm vindo muitas candidatas e já tive muitas em minha casa para ver se gostam e se é isto que querem”, mas acabam por desistir, porque são “muito novas” e percebem que têm de abdicar de muito para se dedicarem às crianças.
Isto “não quer dizer que não tenham namorado (…), mas para fazer uma vida não dá. É mesmo uma missão”, diz Anabela, que esperou que o filho biológico casasse para concretizar o sonho de ser “mãe SOS”.
No verão de 2014, Elsa Ministro, de 35 anos, tomou uma decisão que mudou a sua vida: Deixar a família no Alentejo para ser mãe social.
Tudo começou quando viu uma reportagem sobre as aldeias: “Fiquei entusiasmada, era um projeto diferente. Pensei muito bem e candidatei-me”, conta.
“No primeiro dia que vim à entrevista senti logo que queria ficar”, recorda, com um sorriso rasgado, a mãe mais jovem da aldeia.
Antes de assumir o papel de mãe no passado dia 1 de março, Elsa foi “tia social”, tomando conta dos meninos nas folgas das oito mães que vivem em Bicesse, a primeira aldeia inaugurada em Portugal, em 1967.
Nessa altura conheceu os quatro irmãos, com três, cinco, seis e 11 anos, que viriam a ser os seus filhos: “Foi amor à primeira vista, eles é que me adotaram”, lembra, enquanto mostra orgulhosa as fotografias dos meninos, que se encontravam na escola quando a Lusa visitou a aldeia.
Elsa está convicta que fez a “escolha certa”. “Perdemos certas coisas com a família e com os amigos”, mas “não podemos pensar naquilo que vamos deixar, mas naquilo que vamos ganhar”.
Sobre a reação dos pais e dos amigos, Elsa diz que aceitaram bem e que os meninos já fazem parte da família.
“Passámos a Páscoa no Alentejo e também estou a pensar lá ir no Dia da Mãe”, porque há uma festa na minha terra “e gostava de estar com a minha mãe e com eles”, conta.
A vida nas aldeias SOS, em Bicesse, Vila Nova de Gaia e Guarda, onde vivem 125 crianças, é igual à de qualquer família, mas sem a figura paterna.
No início “não é fácil”, porque estamos a “reeducar jovens” com um “historial complicado”, mas depois de tudo organizado “faz-se muito bem”, afirma Anabela, que começa o dia às 06:00 para preparar o pequeno-almoço para os 10 filhos.
“Tanto arranjo o lanche para os de 18 anos como para os pequeninos, acho que tem que se dar estes miminhos, é a minha maneira de ser”, diz Anabela, já apressada para ir fazer o almoço para um dos filhos que vinha a casa no intervalo da escola.
Confessa que nunca pensou “agarrar-se tanto” à aldeia: “Cheguei a estar seis meses sem ir a casa e nós temos folgas todos os meses”, mas “afeiçoamo-nos de tal maneira às crianças que não as conseguimos deixar”.
Anabela diz, contudo, não recear o dia em que os filhos vão deixar a aldeia, porque voltam sempre para visitar a família e celebrar as datas importantes, como o Natal, a Páscoa e o Dia da Mãe.
“As mães sociais acabam por ser as avós dos meninos e quando precisam de ir a algum lado vêm pôr os meninos à aldeia”, diz, com graça, contando que a aldeia também os ajuda quando têm alguma dificuldade.
Fundadas em 1949 por Hermann Gmeiner para acolher órfãos da II Guerra Mundial e meninos abandonados, as mais de 500 aldeias em todo o mundo acolhem 60.000 crianças, sob o lema “Amor e um lar para cada criança”.