A ATN tem como missão a conservação da natureza na região dos vales do Côa, Águeda e Douro

Ana Berliner – Presidente da Direcção da Associação Transumância e Natureza Ana Berliner é a Presidente da Direcção da Associação Transumância e Natureza, com sede no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Tem 36 anos, é natural de Lisboa, reside e trabalha em Figueira de Castelo Rodrigo. Em 2000 criou a Associação Transumância e Natureza, […]

Ana Berliner – Presidente da Direcção da Associação Transumância e Natureza

Ana Berliner é a Presidente da Direcção da Associação Transumância e Natureza, com sede no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Tem 36 anos, é natural de Lisboa, reside e trabalha em Figueira de Castelo Rodrigo. Em 2000 criou a Associação Transumância e Natureza, uma entidade sem fins lucrativos, que tem como missão a conservação da natureza na região dos vales do Côa, Águeda e Douro, centrando-se na gestão de habitats e espécies com maior valor de conservação.


A Guarda: Quem é Ana Berliner?

Ana Berliner: Uma bióloga de 36 anos, nascida em Lisboa e que reside e trabalha em Castelo Rodrigo (gere uma casa de turismo rural www.casadacisterna.com)

A Guarda: Qual a sua ligação a Figueira de Castelo Rodrigo?

Ana Berliner: A família do meu marido é de Figueira de Castelo Rodrigo. Em 1996 eu vim viver para cá no âmbito de um projecto de investigação sobre biologia de conservação de aves necrófagas (neste caso grifos), nos anos seguintes tive possibilidade de continuar a trabalhar como bióloga na região do Douro Internacional. Outro facto importante na escolha de Figueira de Castelo Rodrigo como local para viver teve a ver como o facto da família do meu marido que também é biólogo, ser deste concelho.

A Guarda: Como é que foi o seu percurso académico?

Ana Berliner: Fiz o curso de biologia na Faculdade Ciências da Universidade de Lisboa, que incluiu o estágio de licenciatura em Figueira de Castelo Rodrigo sobre a biologia e ecologia da população de grifos dos vales do Douro e Águeda Internacionais. E ainda duas pós-graduações, uma na Universidade de Salamanca e outra na Universidade de Coimbra.

A Guarda: Como é que apareceu a Associação Transumância e Natureza?

Ana Berliner: A Associação Transumância e Natureza, com a sigla ATN (criada 6 de Junho de 2000 por publicação em Diário da República (III Série), de 25 de Julho de 2000, pg 15886), é uma entidade sem fins lucrativos, que está classificada como Equiparada a Organização Não Governamental de Ambiente (Agência Portuguesa de Ambiente).
A ATN tem como missão a conservação da natureza na região dos vales do Côa, Águeda e Douro, centrando-se na gestão de habitats e espécies com maior valor de conservação. Desenvolve por isso projectos de reflorestação, revitalização de actividades agro-pecuárias tradicionais, agricultura biológica, sensibilização, educação e divulgação ambientais. A alusão à extinta Transumância, no nome da associação, deriva da fundação holandesa STN (Stichting Transhumance en Natuur) que deu origem à ATN e com quem mantemos uma parceria formal.
A ATN tem sede em Figueira de Castelo Rodrigo, é uma associação aberta a todos os que queiram colaborar nos seus projectos, e possui presentemente 151 sócios. A associação está profissionalizada e a sua pequena equipa inclui 3 técnicos (1 biólogo, 1 engenheiro florestal, 1 engenheiro do ambiente) e 2 trabalhadores não especializados que são responsáveis pelos trabalhos de campo.
A criação da Associação Transumância e Natureza (ATN), em Junho de 2000, teve como principal motivação, formar um suporte para a implementação de um projecto de conservação do Britango e da Águia de Bonelli na região Nordeste de Portugal.
Devido à participação de sócios fundadores ligados a 3 organizações internacionais de conservação da natureza (WWF, Fund de Intervencion por les Rapaces – FIR, MAVA Foundation), as acções de conservação dessas espécies e dos seus habitats basearam-se noutros projectos de conservação de aves rupícolas, que estavam em curso noutros pontos da Europa (França, Espanha, Itália). Assim, a estratégia desenvolvida pela ATN no Nordeste de Portugal começou por 3 conjuntos de acções: I – aquisição de terrenos importantes para aves (destinados a garantir autonomia nas acções no terreno, reduzindo perturbação de actividades humanas, abrindo oportunidades de gerar recursos para sustentar acções de conservação), II – alimentação artificial (repovoamento de pombais e alimentadores de abutres); III – sensibilização da população local (reduzir conflitos entre população humana e espécies protegidas).

A Guarda: Quais as principais actividades que são desenvolvidas pela Associação?

Ana Berliner: Os primeiros 3 anos da vida da ATN (2000-2003) foram integralmente dedicados ao projecto de salvaguarda do Abutre do Egipto (actualmente designado por Britango) e da a Águia de Bonelli, contando com o apoio técnico e financiamento da Fundação MAVA (sendo presidente desta organização o Dr. Luc Hoffman, co-fundador da WWF, ex-vice-presidente da UICN, ex-presidente da WWF International). Nesse período adquiriram-se terrenos em 3 locais importantes para as 2 espécies de aves de rapina, com uma área de cerca de 67 hectares. A maioria desses terrenos localizam-se nas margens do Rio Côa (ZPE do vale do Côa), na freguesia de Algodres e esta área passou a constituir o sítio preferencial de actuação da ATN. A partir de 2003, e centrando-se nos terrenos do Vale do Côa, a ATN continuou a desenvolver acções de conservação de aves rupícolas, e nesse âmbito foram adquiridos mais 200 hectares (na margem direita do Côa) e 180 hectares (na margem esquerda, freguesia de Cidadelhe), a que se juntam cerca de 100 hectares arrendados. Entre 2003 e 2008, o financiamento das acções resultou do apoio de ONGs holandesas, mecenato nacional e estrangeiro, e receitas de uma campanha de venda de azeite biológico. No caso da compra da propriedade da margem esquerda do Côa, esta foi possível através de empréstimo concedido pelo Banco Espírito Santo (com juros reduzidos), estando presentemente a ser desenvolvida uma campanha de angariação de apoios para pagar o empréstimo.
Actualmente são cerca de 526 hectares contínuos geridos pela ATN, incluindo os locais de nidificação e zonas de alimentação de um dos núcleos mais importantes de aves rupícolas da ZPE do Vale do Côa, e um conjunto importante de habitats protegidos e muito raros nesta região.

A Guarda: Quantos sócios tem a Associação?

Ana Berliner: Cerca de 200.

A Guarda: O que é necessário para ser sócio da Associação?

Ana Berliner: Gosto pela conservação a natureza e vontade de inscrever-se como sócio (www.ATNatureza.org), dando o contributo de 20€ por ano que podem ser convertidos em trabalho voluntário. A ATN quer crescer em sócios tornando-se uma associação regional em que os cidadãos (nomeadamente os que vivem na região) participem activamente nos seus projectos, que são projectos eminentemente práticos e direccionados para conservação da natureza.

A Guarda: O que é a Reserva da Faia Brava?

Ana Berliner: A área de intervenção do projecto “Reserva da Faia Brava”, (abreviatura RFB) corresponde a uma área de 615,8 hectares, com um perímetro de 19 869 m, situada na área central da Zona de Protecção Especial do Vale do Côa (PTZPE0039). A Faia Brava abrange 397,7 hectares na freguesia de Algodres, 19,3 hectares da freguesia de Vale de Afonsinho, ambas do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, e 198 hectares na freguesia de Cidadelhe, concelho de Pinhel.

A Guarda: Quem visita o local o que é que pode encontrar?

Ana Berliner: Esta área abrange um troço do vale do Rio Côa com cerca de 5 Km de extensão, com orientação Sul-Norte, e encostas de grande declive, onde afloram rochas graníticas escarpadas. O clima apresenta um aspecto continental seco, com grandes amplitudes térmicas e fraca pluviosidade média.
O coberto vegetal é dominado por matos de Giesta-branca Cytisus multiflorus, por vezes arborescentes com presença de Sobreiro Quercus suber e Azinheira Quercus rotundifolia. As encostas mais termófilas estão cobertas de Piorno Retama sphaerocarpa, Oliveira-brava Olea europea var. silvestris e Cornalheira Pistacia terebinthus.
Nas margens rochosas e arenosas do rio Côa desenvolvem-se maciços de Tamujo Securinega tinctoria. A fauna do vale do Côa é diversificada, estando assinalado um total de 149 espécies de vertebrados, nomeadamente 6 peixes (1 espécie ameaçada), 9 anfíbios, 9 répteis, 100 aves (11 espécie ameaçadas), e 25 mamíferos (3 espécies ameaçadas). O sub-grupo faunístico que reúne maior número de espécies com elevado estatuto de ameaça corresponde ao das aves rupícolas. A ocupação agrícola destes terrenos baseia-se no cultivo da oliveira, mas com pouca expressão territorial. As principais actividades humanas são a pastorícia de ovelhas, a olivicultura e a extracção de cortiça.

A Guarda: Como é que está o processo de classificação da Faia Brava como a primeira área protegida privada portuguesa?

Ana Berliner: Neste momento está a aguardar aprovação pelo ICNB. Em Julho de 2009 tivemos a visita do Sr. Secretário de Estado do Ambiente Dr. Humberto Rosa, que ficou sensibilizado pelo projecto, pelo seu carácter pioneiro em matéria de gestão privada da conservação da natureza e da biodiversidade, tendo afirmado que se empenharia em apoiar a classificação desta área protegida.

A Guarda: O que é que pensa sobre a iniciativa “7 maravilhas naturais de Portugal”?

Ana Berliner: Excelente iniciativa. Em Portugal há uma deficit de iniciativas promovidas por cidadãos (sociedade civil) e para os cidadãos, e por isso iniciativas como esta ou como a Limpar Portugal, por exemplo, são fundamentais para o despertar dos portugueses para a temática da protecção do ambiente e da necessidade de haver conservação da natureza.


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