A sessão Cineconcerto decorre logo no primeiro dia, 5 de outubro, e foi especialmente concebida para o festival. Das horas de espanto à possibilidade de comunicação, encontramos nestes filmes um país a descobrir-se. A música do pianista e compositor Filipe Raposo é o fio condutor de narrativas de especulação, interpretação e perceção dos modos de observar, reter e tratar os corpos físicos, naturais e geográficos que, ao longo do tempo, documentam, também, a memória que o cinema ajudou a inventar.
Segundo a organização “estes filmes incentivam à reflexão da nossa relação com a paisagem e, no caso do mar enquanto elemento central de um imaginário nem sempre realista. Foram escolhidos pela singularidade que, à época, permitiam que se descobrissem novas fronteiras para a escala humana e, através da possibilidade de fuga, constitutivas de uma resistência às condições adversas da própria natureza, ao regime em início de ação, e à própria atuação humana”.
A sessão do Cineconcerto é composta pelos seguintes filmes:
SERRA DA ESTRELA (Raul de Caldevilla, 1921).
MATA DO BUSSACO (Hans Berge, 1919)
TOSQUIA DE OVELHAS NO PAÚL DA SERRA, MADEIRA (Manuel Luís Vieira, 1937)
LAGOA (Filmes Castello Lopes, 1929)
A INDÚSTRIA BALEEIRA (João César de Sá, 1932)
NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES (Leitão de Barros, 1929) – composição original de Filipe Raposo (2020)
Destaca-se o diálogo entre SERRA DA ESTRELA (1921) e MATA DO BUSSACO (1919?). MATA DO BUSSACO é um raro e misterioso filme, do qual se sabe muito pouco, a não ser tratar-se de um documento assinado Hans Berge, um pioneiro do cinema norueguês que veio a Portugal no final da década de 1910. Este filme foi encontrado há um ano nos arquivos da Biblioteca Nacional da Noruega, um dos países doadores do projeto FILMar e é apresentado em colaboração com a Nasjonalbiblioteket (Biblioteca Nacional da Norueguesa) e o Norsk Film Institutt (Instituto do Cinema da Noruega).
Com exceção de NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES, onde Filipe Raposo interpretará a partitura de sua autoria, encomendada pela Cinemateca Portuguesa em 2020, o acompanhamento dos restantes filmes será feito com uma composição inédita.
Esta sessão tem o apoio do projeto FILMar, desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema e operacionalizado pela Direção-geral do Património Cultural, no âmbito do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024.
Outro dos destaques da programação deste ano é a celebração dos 50 anos do filme clássico fundador do cinema novo português, Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha, exibindo-o numa sessão dupla com Onde Fica Esta Rua ou Sem Antes Nem Depois? (2022), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.
No filme Onde Fica Esta Rua ou Sem Antes Nem Depois? os dois cineastas deixaram-se guiar através do olhar cinematográfico e da planificação de Paulo Rocha, observando “camadas geológicas, urbanas e sociais sucessivas de Lisboa”, e filmando em locais da cidade agora sitiados pela pandemia. Os mesmos planos, as mesmas cenas, a ruralidade da capital urbanizada em avenidas novas – meio século depois que Lisboa vimos e vemos?
A sessão dupla Verdes anos, maduros anos: 1963 – 2023 abre caminho à redescoberta fantástica de uma obra que continua a moldar o cinema moderno português, como acontece neste novo ‘filme espelho’ de uma dupla de cineastas contemporâneos.
João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata estarão presentes, acompanhados de Isabel Ruth, atriz com uma icónica presença em Onde Fica Esta Rua ou Sem Antes Nem Depois? e que interpreta Ilda em Verdes Anos.
Sobre o CineECO
A 29ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela irá decorrer de 5 e 13 de Outubro, em Seia, na Casa Municipal da Cultura e este ano assenta numa maior aposta em obras cinematográficas.
Concorreram cerca de 300 filmes dos vários cantos do mundo, tendo sido selecionados 66, de 27 países diferentes.
No festival, é já frequente poder assistir-se a antestreias nacionais ou mundiais de alguns filmes dedicados ao tema ambiental, como aconteceu com EO de Jerzy Skolimowski em 2022, ou mesmo a filmes que se revelaram depois ser o primeiro filme candidato a Óscar, como foi o caso de Ice Merchants de João Gonzalez, em 2022.
O CineEco é um evento cultural de natureza internacional de temática ambiental, organizado pelo Município de Seia desde 1995 de forma ininterrupta. Em todas as edições e em todas as secções ou atividades a entrada é gratuita, prestando um serviço público.
É o único festival de cinema exclusivamente ambiental em Portugal e um dos festivais de cinema de ambiente mais antigos do mundo. Através das experiências multiculturais, o CineEco ajuda a descrever e compor um panorama do pensamento mundial atual sobre estas questões e proporciona aos espetadores momentos de conhecimento e reflexão, com a ambição de gerar comportamentos transformadores e de participação.
Ao longo de cada edição, para além das várias secções competitivas, organiza um conjunto de atividades, onde se incluem conversas com realizadores, exposições, ações de educação ambiental com escolas, entre outros, contribuindo para uma cidadania ativa no domínio do desenvolvimento sustentável e valorização do território e enriquecimento do conhecimento ambiental e cinematográfico.
Realiza ao longo do ano, uma vasta rede de extensões por todo o país, proporcionando ao público filmes desta temática, constituindo-se como um dos muitos fatores diferenciadores do festival.
O CineEco é membro fundador da Green Film Network, uma plataforma de 39 festivais de cinema ambiental.
O CineEco 2023 é organizado pelo Município de Seia e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas. Conta ainda com a Lipor como patrocinador principal e com o apoio financeiro da DGArtes.