Poema da minha autoria que espelha os maus tratos infantis e os “gabinetes macios”.

Valentina
Amor sem ressonância
Ruína em ruína
Sonho negro e trovas de morte
Não ser amada e aconchegada, capital infortúnio.

Telas de ódio, repulsa e desgraça
Texturas tenebrosas e lacerantes
Sorriso abandonado e solidão imunda
Caixão de bálsamo.

Ver padecer o padecimento em incessantes trajes de dor e desamor
Lágrimas que abrasam a paisagem azul e molham o meu rosto
Pesado sentimento de culpa
Pensamento desarrumado e cáustico.

Página vazia e sórdida
Não ter oportunidade de sentir algo que não seja sofrimento
Colo longínquo e água turva
A dor na absoluta ausência de amor.

Esperança desenhada em tons escuros
Nascente ensanguentada
Silêncio ruidoso
Vínculos ausentes.

Gelo e frio que me afogueiam
Crueldade e perversidade
Desconhecer e desprezar o sentido da vida
Actores decorativos e dança sem cadência.

Persistem as perguntas e a mágoa
Não há respostas
Contradição da existência
Fragmentos cinzentos.

Tempo deteriorado, e olhos de chuva e de vento
Brisa de alegria que só os crescidos sabem devastar
Coração naufragado num Inverno gélido
Monstruosa passividade e gabinetes macios.

Impulsos e asas da reminiscência
Nota musical descompassada
Lodaçal feroz
Paladares sepulcrais.

Espaço sem flores e nada harmonioso
Filha e menina de ninguém
Petiza de caracóis com olhos de meiguice
Espírito puro e alvura que o futuro não viu crescer.