Desde 2015, ganhar eleições não significa governar. Governa quem o Parlamento quiser e deixar. E isso pode ser um grande problema para o PSD.
Do último resultado eleitoral (2019) à maioria absoluta – o único resultado que lhe permitiria formar governo, sem mais – faltam-lhe uns quantos votos e mandatos. Muitos. Quase um milhão de votos. E nada fáceis de conquistar. O CDS não teve mais de 221 mil nas últimas eleições. Somados ao PSD faltariam sempre uns 700 a 800 mil votos.
São muitos votos… não é tarefa fácil, ainda por cima quando “a manta é curta”. Se se aproxima do centro, deixa a direita “destapada” para a IL e o Chega (que parece estar a subir muito nas intenções de voto) e para o CDS que agora começa uma vida nova, depois de ter perdido 19 deputados de 2011 para 2019.
Assim, mantendo-se as mesmas regras eleitorais (que por cá nunca mudam…), vai ser muito difícil o regresso do PSD ao poder num quadro de estabilidade. Acresce que o número de mandatos urbanos está a crescer, ganhando Setúbal, Lisboa e Porto mandatos perdidos em Santarém, Guarda e Viseu. Viana do Castelo poderá ser o próximo círculo eleitoral a perder um deputado para os grandes centros urbanos.
Alguém acredita que é possível, agora que chegou a fragmentação política ao nosso país, e os eleitores estão mais dispersos por novos partidos (PAN, Chega, IL, Livre e Aliança, por exemplo) que o PSD passe de 1 457 704 votos, para os 2 300 000 votos, necessários para a maioria absoluta?!
É verdade que Cavaco Silva conseguiu maiorias absolutas para o PSD e em 2011, com Passos Coelho, o PSD e o CDS juntos obtiveram mais de 2,8 milhões de votos, o que lhes deu confortável maioria absoluta, em coligação pós-eleitoral. Mas o quadro atual não é o mesmo de então. Mudaram os líderes, a estratégia e as agendas, apresentando-se muito mais atomizado o quadro das opções partidárias. Antes também havia muitos pequenos partidos, mas estavam quase todos em queda (excecionando o BE). Agora os pequenos partidos parecem estar todos em crescendo. É uma grande mudança.
Há um outro fenómeno político, que nos diz que os eleitores gostam de estar com quem vence. Se a vitória de alguns parecer distante ou improvável, os eleitores tenderão a alinhar-se pelos potenciais vencedores afastando-se dos que não serão poder.
Vão, pois, ser necessários novos compromissos, novas agendas e muita energia, inteligência, estratégia e vivacidade para o PSD disputar o poder, seja ao centro, seja à esquerda ou mesmo à direita, que seria o espaço mais razoável atenta a sua tradição.