Podemos contemplar as confrarias gastronómicas como autênticos, fidedignos e perfumados parceiros dos produtores, dos produtos regionais, das Juntas de Freguesia, das Câmaras Municipais, dos agricultores, das tradições, das memórias e do património gastronómico português. Estas associações também desempenham um papel educativo. As confrarias gastronómicas, sempre numa óptica de proximidade e tradição, procuram evidenciar as peculiaridades e especificidades do nosso vasto património gastronómico. Na verdade, as confrarias têm conquistado todas as faixas etárias. Será que através das confrarias não se edificam índices salutares de competitividade? Será que com as mesmas não se aprimoram a qualidade e o paladar dos produtos? Será que as confrarias não constituem elementos de referência para os pequenos produtores? Será que as mesmas não divulgam, em grande estilo, as tradições de cada região?
Uma região também se explica pela sua cultura gastronómica. A curiosidade, a intromissão e a indispensabilidade primária de testar, provar, testemunhar e saborear os alimentos confeccionados constituem contextos relevantes para que a gastronomia fique cada vez mais ilustrada, palatável, pigmentada, interessante e prazenteira. Será que a maior inquietação existente no talento de confeccionar alimentos não é a de oferecer um superior deleite e contentamento nos períodos das refeições? Será que os produtos regionais não hospedam a chancela do passado, da colectividade, da cronografia, da narrativa e da história a que pertencem? Será que a capacidade de compreender paladares não acaba por determinar as nossas predilecções e propensões de consumo?
Uma confraria gastronómica jamais pode ser “degustada” como um grupo de amigos que se juntam, uma vez por ano, em redor de uma mesa para, em configurações glutonas e diálogos triviais, comerem. As confrarias devem ser verdadeiros movimentos culturais e concentrar os seus índices de actividade, determinação e energia em redor dos produtos que agasalham as insígnias tradicionais. Concomitantemente à promoção dos produtos, também está a promoção e recomendação de uma localidade, de um concelho ou até de um País. A nossa gastronomia tem forçosamente que ser contemplada por todos como autêntico património cultural. Da mesma forma que o cinema, o teatro, a pintura, os museus e os edifícios classificados, a gastronomia também é cultura. A conservação, consolidação e valorização da gastronomia constituem condições que deverão ser saboreadas no mesmo patamar de importância às de qualquer outra ambiência de património cultural. Será que a maior parte dos cidadãos tem essa percepção? Será que o Ministério da Cultura não aquartela a função de asserção da identidade nacional através da gastronomia?
As confrarias vão conseguindo amiudadamente entronizar alguns jovens. Os jovens aconchegam um papel fundamental na preservação do património gastronómico nacional. É fundamental que os jovens não percam as reminiscências e memórias, assim como se acostumem às sensações e fragrâncias que estão adjacentes aos produtos regionais. Será que as confrarias, com o objectivo de conquistar os jovens, não aconchegam a incumbência de vulgarização da sua própria sapiência?
Estar inserido no meio de uma identidade cultural verdadeira, representa o descobrir, o encontrar e o recuperar, bem como o ser dissemelhante em relação às condutas e fragrâncias padronizadas e globalizadas. Neste sentido, será pertinente asseverar que os patrimónios culturais imateriais são fidedignos patrimónios de cultura, espelhando o enorme, colorido e expressivo conteúdo do encadeamento entre identidade e multiplicidade da cultura. Será que o património, material ou imaterial, não é o espelho da personalidade, compleição e temperamento dos povos?
Nas confrarias, os trajes desempenham um papel importante, devendo os mesmos ter uma clara identificação com a “matéria” da própria confraria. A concepção da indumentária é fruto da investigação sobre o vestuário tradicional da região à qual a confraria pertence. Ser confrade é obedecer a certos princípios, conviver com outros confrades, saborear aquilo que há de bom na nossa gastronomia e promover os produtos tradicionais.
O património cultural material e o imaterial, no sentido inverso ao da cultura de massas, não dispensam o desenho democrático. As políticas públicas sociais que procuram valorizar, valorar, estimular e difundir a pluralidade cultural das populações assumem uma colossal relevância para a preservação e promoção do património. É fundamental ter a noção de que os desejos, ambições, gostos, requintes, estilos e erudições adquiridas nos diferentes usos sociais tanto podem avizinhar, como espaçar os cidadãos.
O turista contemporâneo procura atracar nas práticas e hábitos locais, assim como perfilhar a cultura local. A gastronomia é um pertinente e relevante atractivo turístico, pois cria e desenvolve oportunidades, fazendo com que os territórios progridam economicamente, produzam mais empregos, avoquem mais turistas, alberguem maiores índices de empenho e contentamento, e sejam bastante mais divulgados e conhecidos. Por estes acessíveis raciocínios é presentemente impensável projectar o desenvolvimento turístico vindoiro, sem ter em linha de conta as configurações, as feições e os formatos da gastronomia local.
Existem três tipos de confrarias: as gastronómicas; as báquicas; e as que amalgamam os dois “predicados”, recebendo, por esse motivo, as duas denominações. Alguns pratos típicos desfrutam de um enorme significado para a sociedade, uma vez que aos mesmos foram agregadas algumas texturas de valores e apreços. As confrarias são importantes parceiros na protecção, eleição e aperfeiçoamento dos nossos destinos turísticos. Contudo, a gastronomia necessita de apoios e aplausos para o seu “indigitamento”. Quanto maiores forem os índices de qualidade que se desejam para o turismo, maiores contextos de qualidade se têm que depositar no seu vértice cultural. Será que não compete às confrarias gastronómicas adoptar um papel zeloso e activo em relação ao turismo?
O Concelho do Sabugal é abastado em tradições e em talentos culinários. Estes vértices devem ser afagados e desenvolvidos, uma vez que outorgam um contributo favorável para o progresso económico e prestígio das terras raianas, tanto a nível nacional, como internacional. A Confraria do Bucho Raiano tem a finalidade de preservar e promover não só o bucho em si, como também tudo aquilo que o envolve. Apesar de discutível, o bucho talvez seja o “produto” mais peculiar do enchido raiano, o fragmento gastronómico mais genuíno, sincero e legítimo de toda a raia sabugalense. É preparado com carne de porco, mais concretamente pedaços oriundos da cabeça, orelha e rabo que depois de colocados em vinha de alhos dão recheio e enchimento à tripa mais larga. Depois de cheio pendura-se com o restante enchido nos varais de fumeiro. Confecciona-se, introduzindo o mesmo, sempre embrulhado em tecido “linheiro” para impedir que rebente durante a ebulição, numa ampla e já bastante usada panela de ferro. O bucho raiano, para além de excelente, é uma autêntica e saborosa dissertação sobre o contentamento à mesa. Como Confrade do Bucho Raiano juro uma vez mais, a primeira foi na cerimónia de entronização do dia 9 de Fevereiro de 2013, promover e divulgar constantemente essa magnífica “peça” de enchido.
No próximo dia 14 de Fevereiro, na cidade do Sabugal, irá decorrer o VI Capítulo da Confraria do Bucho Raiano. Divulgar o Bucho Raiano é promover um produto de excelência, assim como toda uma região.