A fixação de movimentos económicos e financeiros hegemónicos à escala universal, a “insurreição” dos meios tecnológicos, a revolução na comunicação e a dilatação de uma reflexão singular constituem condições que tornam os reptos cada vez mais complexos e ambíguos. Há a necessidade de reavistar o conhecimento alcançado, opulentando a interpretação dos fenómenos e ocorrências que entrelaçam a realidade observável e escondida. As renovações que aconteceram nos últimos tempos abrangem inúmeras concepções, actualizando ininterruptamente a sua acepção e importância.
A libertação feminina tornou-se pública a partir do século XX, quando razões históricas associadas às causas políticas, ao aperfeiçoamento industrial, ao desenvolvimento dos meios de comunicação e ao “desenrolamento” científico matricularam as mulheres num mundo de soberania masculina.
Proprietário da verdade, da informação e do conhecimento das políticas públicas, o homem sempre se retratou como um sujeito responsável, consciente, informado e autoritário. No outro vértice, a presença feminina sempre foi escrita com esferográficas de debilidade, de incompetência e de irresponsabilidade.
A história da mulher sentenciou-a, durante um longo período de tempo, a uma nebulosa segregação intelectual. Os fundamentos empregues como o do afogo feminino, versus soberania masculina, devem ser desviados e calcinados tanto pelo seu âmago, como pela sua circunscrição, e, simultaneamente, permutados pela reflexão e investigação das intercessões espaciais e temporais em que qualquer “império” se constrói. Todavia, fazer um esforço para interpretar e assimilar a conjuntura da época, auxiliará de uma forma natural e espontânea o aclaramento dos factos.
Para muitos indivíduos a fragrância essencial para a efectiva libertação feminina é o trabalho. Convém não deslembrar que a comparência das mulheres no universo laboral na modernidade é assinalada por constantes movimentos de abeiramento e de separação em relação ao próprio trabalho. É seguramente profícuo referir que na primeira etapa da industrialização, as mulheres, tal como os homens, foram incorporadas nas desengraçadas fábricas. Estas laborações aconchegavam enormes decotes de exploração. Tendo em conta esta conjuntura começaram as pelejas e reivindicações operárias por melhores vencimentos e horários mais franzinos. Muito mais tarde os trabalhadores conquistaram o apelidado ordenado familiar que possibilitava aos homens auferirem o indispensável para sustentar toda a linhagem. A sociedade capitalista foi fundando uma analogia epidermicamente estética entre precarização e mulher, concebendo configurações discriminadas de evulsão do trabalho remanescente. Por um lado, libertaram-se as mulheres da exploração capitalista “espontânea”, por outro, essa situação provocou a continuação e o aprofundamento da dominação masculina, acabando também por facilitar o fortalecimento da exploração da labuta masculina.
No panorama contemporâneo aniquilaram-se, em certa medida, os obstáculos inultrapassáveis entre homem e mulher, bem como as funções diferenciadas e discriminatórias. Contudo, a conexão entre mulher e incumbências de chefia ainda é uma área que hospeda uma ausência de “certificação”, de afirmação e de segurança. Inicialmente as poucas mulheres detentoras de cargos de direcção “apropriavam-se” de particularidades masculinas, perfilhando, como estratagema de continuidade no mercado altamente competitivo, comportamentos “despóticos” e indumentárias masculinas, num claro paradigma de descaracterização subjectiva e ilusória.
O poder é um termo polissémico, podendo ser interpretado e contemplado como uma espécie de “dinamismo” social que nasce das relações díspares e que é construído ao longo das décadas. O poder, analisado pelos interesses económicos, políticos ou sociais, alberga uma panóplia de encadeamentos que se vão edificando na comunidade, nas organizações, nas empresas e em todas as agremiações humanas.
Na sua própria promoção, as mulheres têm vindo, com mais ou menos contrariedades, a alcançar novos patamares de realização profissional e pessoal. Apesar, de nas gerações actuais existir uma maior convergência entre homem e mulher, o papel da mulher na família ainda condiciona de uma forma significativa a sua vida profissional. Por responsabilidade do adágio patriarcal que “ornamenta” a nossa sociedade, são constantes as anedotas, as publicidades, os filmes e as novelas que propagam “figurações” infamantes e desacreditadoras do papel das mulheres na sociedade, transportando-a em variadíssimas ocasiões para uma pintura denominada “mulher objecto”.