A pandemia Covid-19 trouxe alterações profundas ao nosso dia a dia e também às organizações. Portugal é um país onde o setor terciário, dos serviços, impera e hoje muitas das pessoas deste setor trabalham a partir das suas casas. O trabalho remoto terá estado na base do sucesso português nesta primeira “onda pandémica”. Trabalhadores do Estado e de empresas privadas passaram desde meados de março a prestar serviço remotamente. Em breve saberemos o resultado desse desempenho. Para já, lemos muitos textos em que todos dizem estar a trabalhar mais.
Também já tivemos algumas empresas, banca, seguros e distribuição, a melhorarem os seus canais comerciais, com novas aplicações e portais, mais fáceis, intuitivos e comercialmente apelativos, desaconselhando as deslocações físicas aos respetivos balcões e serviços e possibilitando as compras e utilizações on-line. Outras empresas, muito conhecedoras e vanguardistas, como a Alphabet (dona da Google) e a Facebook, adiaram o regresso dos seus colaboradores ao trabalho presencial para janeiro de 2021.
Eles, se tomam essa decisão, terão mais dados do que nós, mas verdadeiramente, ninguém quer acreditar por agora que a pandemia possa subsistir mais 8 meses… Poderão, outrossim, estar a preparar as respetivas organizações para um futuro sem presença física dos colaboradores num mesmo escritório, antecipando-se.
Quantifiquemos os custos com instalações, impostos sobre as mesmas, comunicações, segurança, estacionamentos, limpeza e energia de cada posto de trabalho. Nas grandes cidades em que o preço m2 dos escritórios pesa, esse custo será elevado. Poderá oscilar entre 20 e 40% do salário do trabalhador. Imaginem agora que a empresa, com capacidade de medir o desempenho (absoluto e relativo) dos trabalhadores em trabalho remoto, chega à conclusão que não houve perdas – para além das resultantes das externalizações negativas da pandemia – e que está mesmo em condições de premiar a partir de janeiro de 2021 os colaboradores que decidirem continuar a prestar trabalho à distância, com uma parte daquela poupança em custos fixos com instalações. Quantos regressariam voluntariamente aos moldes pré-Covid?!
Verdadeiramente, num futuro não muito distante, os escritórios vão ser desnecessários? Passaremos a trabalhar onde quisermos e de tempos em tempos reuniremos para “bater bolas”?! As empresas e as organizações poderão remunerar melhor os seus quadros com o valor das poupanças daí resultantes?! Os trabalhadores vão ter poupanças ao nível de transportes e despesas de representação?!
Paralelamente a estas tomadas de decisão, a internet das coisas, potenciada pelo 5G nas comunicações vai permitir melhorar as reuniões por videoconferência?! Vejam como estas se tornaram “banais” com miúdos do primeiro ciclo de estudos a tratar por tu a Teams, a Colibri Zoom, ou o Skype…
Em Portugal, 7 em cada 10 trabalhadores são já do setor terciário. Sendo verdade que muitos destes não conseguirão desempenhar o trabalho remotamente, muitos haverá, desse conjunto, que o poderão fazer. Já o fazem hoje em resposta a uma ameaça emergente. Transformar ameaças em oportunidades sempre foi a grande façanha dos gestores. No dia a dia, podemos com maior segurança e racionalidade agir sobre os pontos fracos da organização, eliminando-os e empoderando os recursos humanos para posicionamentos competitivos em função da estratégia traçada. Mas os grandes saltos, só se conseguem quando conseguimos lidar com a ameaça e a transformamos numa oportunidade. Não é fácil. A história está cheia de desastres nas empresas e organizações. Também há alguns sucessos a registar. Mas esses são em menor número e dão muito trabalho. Só no dicionário o sucesso vem antes do trabalho…
Se a Alphabet e o Facebook tomam já esta medida que nos parece para já antecipada e até infundada, é porque há algo a acontecer. Porventura já terão medido o desempenho dos seus colaboradores nestes tempos pandémicos e já estarão aptos a tomar decisões estratégicas disruptivas, como é seu atributo.