A população nacional caiu em 86% dos concelhos desde 2011. Nestes 86% uns perderam mais outros menos. Os poucos que conseguiram ganhar habitantes localizam-se maioritariamente à volta de Lisboa e Porto. Todos os municípios da B. Interior perderam entre 4.2% e 17.5% num total de 29.3 mil habitantes ou 8.3%. Ou se investe fortemente nos próximos tempos nos cerca de 80% dos municípios do interior através da criação de um ‘FEDER’ específico para estas regiões ou não tarda nada teremos 20% do país a crescer, todo no litoral e à volta das 2 maiores cidades, e teremos uma imensa coutada de caça nos restantes 80% do interland. Que alguém nos acuda enquanto é tempo…
Evolução da população 2011-2019 – sinais de alarme em todo o país: Entre 2011 e 2019 Portugal perdeu cerca de 246,5 mil habitantes, o que corresponde a uma redução de 2,34% na população do país, segundo as estimativas do INE para 2019. Em 264 municípios (85,7% do total) o número de residentes diminuiu. O período ficou marcado pela entrada da troika no país, em 2011, e pelas políticas de austeridade que impôs e crise social que se lhe seguiu. A crise levou a uma redução na chegada de imigrantes, mas também a um aumento da emigração de portugueses que procuraram oportunidades de emprego noutros países, saída esta estimulada pelo próprio 1º Ministro da altura. Nestes oito anos acentuou-se também uma tendência de perda mais acentuada de população no interior do país, sendo que os concelhos que registaram as maiores descidas no número de habitantes (em termos percentuais) se localizam praticamente todos no interior, fazendo quase uma “faixa” ao longo da fronteira com Espanha. Mas também cidades como Lisboa e Porto registaram reduções assinaláveis na população. Na capital o número de residentes encolheu em quase 33 mil pessoas, uma queda de 6%. Enquanto na Invicta, os habitantes decresceram 7%, o que representa menos 16.455 pessoas. Em ambos os casos, a pressão dos preços da habitação “empurrou” a população para os concelhos da periferia, tendo alguns destes registado aumentos significativos na população, como por exemplo Odivelas, Mafra, Loures, Amadora, Cascais, Oeiras, Seixal e Maia, concelhos onde, agora e curiosamente, a pandemia da Covid’19 mais se tem feito sentir.
Grande Lisboa ganha população, Grande Porto perde: A Área Metropolitana de Lisboa (AML) viu a população no conjunto dos seus 18 municípios aumentar em 1,3%, o que representa um acréscimo de 36,2 mil habitantes entre 2011 e 2019, praticamente os perdidos por Lisboa. Na Área Metropolitana do Porto (AMP), contudo, o cenário é quase simétrico, com um decréscimo de 1,75% no total da população, o que corresponde a menos 30,7 mil residentes, bastante mais do que o perdido pela cidade do Porto. Apesar do aumento na população, a AML conta com cinco municípios a apresentarem um saldo negativo: Almada, Barreiro, Lisboa, Moita e Setúbal. Alcochete (10,44%), Montijo (10,06%) e Odivelas (9,63%) são os concelhos da AML com maior crescimento populacional nestes oito anos. Já dos 17 municípios que integram a Área Metropolitana do Porto apenas Valongo (3,03%), Maia (2,23%) e Vila do Conde (0,04%) viram a população crescer, sendo que no caso de Vila do Conde se trata somente de mais 35 habitantes, num município com quase 80 mil residentes.
Na chamada província quase todas as capitais de distrito perdem habitantes: Das 18 capitais de distrito de Portugal continental apenas os concelhos de Aveiro e Braga registaram aumentos insignificantes da população, de 0,8% e de 0,3%, respetivamente. Nos restantes distritos todas as capitais sofreram perda de habitantes, com destaque para Portalegre, cuja população diminuiu 9,9%, e Guarda -7,5%. Um sexto dos concelhos com queda superior a 10%: São 51 os municípios – praticamente um em cada seis – que registaram decréscimos individuais superiores a 10% na população entre 2011 e 2019. O caso mais dramático é o de Alcoutim, com uma redução de 23,3% no número de habitantes. O concelho algarvio perdeu 657 residentes no espaço de oito anos, passando de 2.816 habitantes em 2011 para 2.159 no ano passado. No Alentejo são três os municípios – Gavião, Nisa e Mora – que perderam mais de 15% da população face a 2011. Ainda com quebras superiores a 15% existem mais três concelhos: Almeida, Castanheira de Pêra e Idanha-a-Nova. O município de Arruda dos Vinhos regista um aumento de 12,5% na população face a 2011, o que corresponde a mais 1.710 residentes, num concelho que conta agora com 15.412 habitantes. Arruda dos Vinhos é o concelho com maior aumento. Seguem-se Alcochete (10,4%), Montijo (10,1%), Odivelas (9,6%) e Mafra (8,4%), todos na periferia de Lisboa. A sexta maior subida pertence ao concelho com menos habitantes do país: o Corvo. O município açoriano viu a população crescer de 431 para 464 em oito anos, o que representa um incremento de 7,7%. (Fontes: INE e Jornal de negócios)
E a Beira Interior?
Na Beira Interior (BI) entendida esta como todos os municípios dos Distritos de Castelo Branco e Guarda, impendentemente de nalgumas classificações poderem pertencer a outras regiões administrativas, entre 2011 e 2019, perdeu cerca de 29.255 mil habitantes, o que corresponde a uma redução de 8.3% na população da região, segundo as estimativas do INE. Em todos os 26 municípios da BI (8.4% do total do país) o número de residentes diminuiu. As medidas de austeridade impostas pela entrada da troika no país, em 2011, deixaram profundas marcas, se bem que o processo regressivo populacional e de abandono das zonas do interior já venha dos anos 50-60 do século passado quando se iniciou a vaga de emigração sobretudo para França. Mas as crises das dívidas soberanas e depois geral iniciadas em 2008 levaram a uma redução na chegada de imigrantes (que eram entre 4 a 5 mil na BI), e, sobretudo, a um aumento da emigração de portugueses, geralmente bem-formados, que procuraram oportunidades de emprego noutros países. Nestes oito anos acentuou-se também uma tendência de perda mais acentuada de população em termos relativos nos municípios mais raianos: Almeida-17.5%, I.Nova-15.9%, Penamacor-14.9%, Sabugal-14.3% e C.Rodrigo-10.3%; a estes junta-se uma segunda faixa menos raiana e mais interior mas com taxas de variação muito parecidas constituída por municípios como: Pinhel-10.4%, Meda-10.4%, Manteigas-11.6%, Gouveia-10.8%, A.Beira-14%, P.Nova-11.4%, Oleiros-11.4%, VVRódão-10%, VNFCõa-9.9% e Trancoso-9.6, C.Beira-8.9%,F.Algodres-8.8%%; são como que 2 faixas asfixiantes que impedem estes concelhos de respirar e de sustentar os seus residentes; e, num terceiro grupo vêm depois as capitais de distrito e outras cidades mais populosas como Seia-9.12%, Covilhã-8.61%, Fundão-8.45%, Guarda-7.49% e C.Branco-6.5%, as ‘maiores’ cidades da região que registaram igualmente reduções assinaláveis nas populações residentes (entre -6.5% e -9.1%).
Em síntese, podemos dizer: que na Beira Interior todos os concelhos perderam população de 2011 para 2019; que a perda acumulada foi de 29.3 mil habitantes ou 8.3% face aos habitantes aqui residentes em 2011 (censo); que os concelhos que mais perderam em termos relativos foram Almeida (-17.49%), seguido da Idanha a Nova -15.92, de Penamacor -14.86% e do Sabugal -14.3%, 2 municípios em cada um dos distritos; e ainda que os concelhos que menos sofreram em termos relativos foram Vila de Rei -4.24%, Belmonte-6% e Castelo Branco-6.5%.
Numa altura que se preparam afanosamente os programas eleitorais dos partidos para as eleições autárquicas do próximo ano é urgente ter bem presente a realidade dramática acima descrita e pensar num ‘Plano Marshall’ ou num ‘Programa Feder’ totalmente virado para estas regiões e municípios. A não ser assim, a meta pré-anunciada dos 7 milhões de futuros habitantes do país será uma realidade bem mais rápida do que se espera e então o país real será uma imensa coutada de caça a cobrir 80% da área do país onde os habitantes do interior, reformados e em cadeiras de rodas, lançam as aves ao ar para serem abatidas a tiro por endinheirados do litoral e/ou estrangeiros sentados numa cadeirinha a carregar no gatilho e a comer depois o produto da sua colheita de fim de semana. Que alguém nos acuda enquanto é tempo…