Carta de amor publicada em livro.

Contigo as marés estão tranquilas e as oportunidades surgem. Amor e amizade são sensações soalheiras onde os ventos frios não emergem e os contextos de sintonia permanecem. As tuas observações, gestos ou gargalhadas constituem espaços prazenteiros. Ao contrário dos comuns usurpadores, idolatramo-nos sempre com autenticidade.


Por vezes um gesto mais infeliz ou uma conversa de fronteira acabam, ainda que momentaneamente, com esse encanto. Fazem-me caminhar para terras onde nunca fui e em solo de ninguém acabo por procurar em silêncio o meu recanto e pensar em ti. Olhares molhados, golpeados e imobilizados pretendem novamente a cumplicidade.


A afeição que nos liga não é ficção. Perfilhamos constantemente argumentos tingidos a tons cristalinos, vítreos e certeiros. O teu olhar é travesso, arteiro e ensolarado. Transmites toda a realidade mesmo nos instantes em que já a revelaste enquanto adormecias.

O vigor dos vocábulos desponta do nosso âmago. Tudo tem o seu momento, caso contrário o deslumbramento fenece. Na aresta do olhar tens um lagrimejar de alvura quando agarras o teu orago. És como um rio que encaminha e descarta a angústia para o oceano, isso só te enobrece.


Nos teus olhos há como que uma flama colorida a cintilar que desofusca o teu corpo e o teu meditar, configurações de outros universos que te ascendem a alma em tons flamejantes. Tu és a pigmentação, a palpitação da humanidade e o sol que se remontou sem hesitar.


És topografia sagrada e diferenciada. Ao longo de ti esboço o pecado e desenho a condescendência, a benignidade e a compaixão. Com um toque celestial, faço da derme o nosso destino e o caminho do amor e da paixão. Sentes com agrado o meu corpo quando percorremos os lençóis.


O pavilhão dos desfiles e o atelier de beleza vão abrir só para ti. Todas as melodias que escutares e os odores que sentires flutuam só por existires. Adoro vestir a tua inquietude. És uma localidade abrigada com capacidade de sempre satisfazer. Em determinadas circunstâncias a minha voz sóbria esconde um demente em infinito prazer. Em nós não existem telas do efémero e do veloz, ao teu lado sinto-me uma espécie de embarcação com bússola, cadência e fortuna.


Numa mélica e inevitável atracção sem adeus, entrelaças a excitação dos meus braços nos teus. Gosto quando tapas os olhos em cortinados de afecto e saboreias a suavidade dos meus lábios carnudos nesse trajecto. Adoro despir-te, murmurar coisas perversas e escrever acerca dos teus lábios de mel. Cobre o meu corpo de beijos e ternuras enquanto esculpo configurações simétricas nas tuas curvas quentes e maduras. No alto do meu capricho dissemino flores nos teus pressentimentos. É formoso o efeito que o teu decote exerce quando o teu corpo se movimenta na nossa cama. A tua derme riçada e cálida escorrega pela minha e faz furor, sendo o momento de construir a “derradeira” jogada e chamar toda a tua atenção.

Sei qual é a cor que vai colorir a minha vida. Eu estou aqui! Amo-te!