Morreremos quando a saúde faltar ou o infortúnio sobrar. Quando Deus quiser. Seja.
Considerando que a esperança média de vida ronda os 83 anos para as mulheres e 78 para os homens, significa que aquele número de anos é o saldo estatístico provável para cá andarmos e fazermos as coisas acontecer, incluindo para sermos felizes e realizados.
Nesses anos, temos de aquirir formação e competências para as desenvolvermos a favor de nós próprios, temos de constituir família, filhos e netos, pelo menos, e temos de viver e de fazer algo de útil para a sociedade.
Sabendo que nos primeiros anos da idade adulta teremos forças para mudar o mundo, sabemos também que nos últimos anos de vida vamos penar e sofrer de alguma doença, seja esta intensificada por nós (vida demasiado arriscada) ou herdada da família. É assim a vida.
Ou seja: há um crédito de vida que parcialmente se consome todos os dias, semanas, meses e anos até atingir aquela soma de anos médios.
Obviamente que, tratando-se de esperanças médias de vida à nascença, alguns felizardos – ou não tanto assim se não tiverem saúde – hão-de felizmente ultrapassar aqueles valores, que não são limites máximos; são apenas médias.
Desde pequenos que todos sonhamos e queremos muito para as nossas vidas. Sonhamos ser mecânicos, bombeiros, polícias, advogados, médicos, atores, professores ou empresários de sucesso. E nem sempre somos bem sucedidos na realização dos nossos sonhos, que por muitas razões não se realizam…
Daquele crédito de vida, vamos consumindo parcela a parcela, sem nos apercebermos dos limites. De tempos em tempos fazemos uma reflexão e olhamos para o lado, para os outros, ou então para nós mesmos, de fora, contemplando-nos, e concluimos que haverá um ou outro sonho que vai ficar certamente na gaveta dos não realizados. Essas reflexões costumam surgir em final de ano ou em datas de aniversários.
A mim, confesso, acontece-me.
E, por vezes, a seguir à reflexão pensamos poder estar aí um bónus de tempo à nossa espera…mas tal não depende só de nós. Nós apenas intensificamos ou reduzimos o risco no que à saúde respeita.
Ora, matematicamente, os bónus não são para todos. E por isso aquele contador diz-nos, em cada ano, o quanto temos pela frente para as realizações em falta.
Se, por exemplo, se tratar de uma leitora e tiver 41 anos, poderá pensar que tem outros tantos pela frente – e tem – mas não serão iguais aos primeiros, nem em energia nem em vivacidade e muito menos em saúde…
Se o leitor for homem e estiver a entrar nos 50, terá uns meros 28 anos para tudo o que lhe faltar fazer: as viagens de sonho, o tempo para a família ou para amigos, a escrita de um ivro…
Em ambos os casos, mulheres e homens, diz-nos também a estatística – maldita – que os últimos 10 anos de vida poderão não ser de grande animação, atentos os problemas de saúde que entretanto, e quase certamente, surgirão. Serão anos a correr para os centros de saúde e hospitais, anos de diagnósticos, análises e exames médicos.
Uma forma de contar os anos poderá ser responder, quando questionados pela idade que temos, com os anos que temos de crédito em cada momento. Ou seja, mais do que avaliar o tempo que já passou, interessa tentar antever o tempo que falta para consumir o tal crédito. Um homem de 50 responderia: tenho 28 (de crédito), Um de 47 responderia: tenho 31. Uma mulher de 40 responderia: tenho 43, e assim sucessivamente.
É uma ideia provavelmente insignificante, mas não deixa de ser uma ideia que põe pressão nas nossas vidas para em cada momento sabermos como vai ser o cenário envolvente das nesmas.
O futuro começa todos os dias…