Heráclito, filósofo grego da antiguidade (500 anos antes de Cristo) já refletia, concluindo que a natureza é composta por uma constante mudança. Camões, dois mil anos depois, também escreveu: “todo o mundo é composto de mudança”. E a mudança é hoje apresentada como o maior desafio das organizações e empresas, que a ela têm de continuadamente se adaptar para assegurarem a própria sobrevivência.
Já aqui escrevemos que as coisas vão mudar no setor terciário – dos serviços – não porque tivesse mesmo de ser, mas porque é assim mesmo. Por vezes as mudanças surgem e nada as pode parar. Despoletado o processo, seja uma onda ou uma moda, o certo é que leva tudo e todos pela frente, dando lugar a estratégias emergentes.
Alguns consultores dizem que “nada ficará como antes” e as notícias parecem caminhar para a sustentação desse facto. São muitas notícias desencadeadas pela crise sanitária. Agora, são sobretudo notícias económicas, financeiras e sociais. Desemprego, recessão, défice e endividamento voltaram ao léxico comum. Em quase todas as atividades, mesmo naquelas que em princípio estariam mais salvaguardadas, a crise far-se-á sentir. A economia gera muitas interdependências, algumas que não vislumbramos num primeiro momento.
Pequenas, médias e grandes empresas preparam-se para os embates. O Verão que antes salvava o ano, está cheio de nuvens no horizonte. A abertura será gradual e progressiva; e isso quer dizer que após a queda não haverá gráfico em “V” para nenhuma atividade, antes parecendo impor-se vários “w”, que exigem paciência e capital próprio ou alheio, o que torna tudo mais difícil.
Das muitas oportunidades que as mudanças também proporcionam, destaco a alteração imensa do teletrabalho. Já se sabe que foi um quase-sucesso; que muitos querem repetir; que as empresas ponderam redução de custos fixos por esta via. Ora, também sabemos que trabalhar em casa não é assim tão bom. Uma coisa são algumas semanas, outra coisa são anos… creio pois que as vilas e as cidades médias se deverão preparar para terem espaços agradáveis destinados ao co-trabalho. Sítios aprazíveis, em ambientes inspiradores, bem servidos de comunicações digitais, que possam acolher profissionais liberais e trabalhadores por conta de outrem a custos simbólicos (da manutenção desses espaços), que se deslocarão de suas casas com facilidade – a pé, sobretudo – e onde já sabem que encontrarão outros profissionais com os quais poderão crescer em ideias e qualidade dos serviços apresentados. Há tantos edifícios públicos sem utilização…jardins, Escolas antigas, Museus, Edifícios municipais…
Será desafiante, conseguir ter nos territórios milhares de profissionais a trabalhar para outros territórios. Será também um problema para as rendas de escritórios das cidades que vão perder esses trabalhadores e para os pequenos negócios associados (junto a uma Direção-Geral ou sede de uma empresa há sempre um bar ou um restaurante…).