As memórias atropelam-se. O corte do forcão e o encerro. O rufar do tambor, o “passeio” e o “bandear da bandeira”. A “espera” do primeiro boi da tarde, e o olhar intenso e açucarado das moças.
Ritual que se repete ano após ano. Sentimos as investidas dos bois. Ouvimos o som da galha a rachar. Com um “vaso de vino” à mistura, partilhamos e comungamos a nossa maneira de ser.
Amigos e convidados são principescamente tratados. A uns e a outros está-lhes vedado o pagamento de quaisquer “copos”. Tradição que motiva muita estranheza e admiração aos forasteiros. Características tão genuinamente nossas.
Cumprir a nossa identidade e fugir à escravatura contemporânea. A Raia moldou-nos a todos. Deu-nos tudo aquilo que fomos e tudo aquilo que somos. Ligação umbilical à “terra”.
À volta do forcão, todos dependemos de todos. O destino de todos está nas mãos de cada um. A sorte de todos está refém de um pé cruzado. De um passo errado ou de uma galha levantada, mal medida, face à investida do boi.
Tal como o vinho, a Capeia Arraiana também é uma configuração de alma, tradição, amor e verdade. Molhar a palavra e transformá-la em luz, honrar o vinho. Conversas bem regadas outorgam sentido à vida, beber vinho em todas as ocasiões. Brindar com vinho e homenagear todos aqueles que feneceram nas praças da raia.