Na medula da história dos rankings, há casos em que os alunos considerados como menos capazes ou menos aptos são desconvencidos a apresentarem-se a exame para que a imagem do estabelecimento de ensino não seja prejudicada. O ensino vai muito para além da mera realização de exames, pretendendo-se que o mesmo seja cada vez mais diversificado, tendo em conta a especificidade dos alunos. Qual é a influência da configuração tecnológica na oferta educativa das escolas? Será que a taxa de mobilidade do corpo docente não compromete o sucesso escolar? Será que devemos misturar resultados pessoais com qualidade de serviço prestado? Será que os rankings têm em consideração o modo como os alunos são preparados para exame, designadamente no que respeita ao recurso às explicações particulares? Será que essas explicações particulares são acessíveis aos mais desfavorecidos economicamente? Será que as mesmas não desvirtuam os resultados em exame? Será que em determinadas ocasiões os rankings não espelham mais os atributos dos explicadores do que propriamente os do estabelecimento de ensino? Será que os rankings de escolas avaliam os indicadores de esforço, bem como os progressos alcançados? Será que esta circunstância não pode metamorfosear os rankings em matéria altamente desmotivadora e incongruente? Será que os rankings avaliam a qualidade global dos estabelecimentos?
No nosso País o regulamento de matrícula nas escolas públicas desagua na residência, pelo que a eventualidade de preferência fundamentada no ranking de escolas se circunscreve aos agregados familiares mais endinheirados. Somente os mais favorecidos economicamente é que podem ingressar no ensino privado. Não existe ninguém que desconheça que a educação enfrenta variadíssimos dilemas e problemas. Porém, a esmagadora maioria da população agasalha a noção de que ordenar as escolas em rankings, tendo como único alicerce os resultados em exame, não é a solução para dissolver os problemas da educação. Será que em determinadas situações, os rankings de escolas não podem exacerbar os problemas existentes?
Os rankings de escolas, ainda que de forma bastante epidérmica, podem ser considerados impulsionadores: de práticas de acountability no ensino; de planos de melhoria; de métodos mais rigorosos na gestão de recursos; e de contextos de competição entre escolas.
Será que a função socializadora da escola é avaliada em exame? Será que essa função não é uma das mais relevantes da escola? Será que o papel da escola se resume ao ensino formal, ou seja, à simples transmissão de conhecimentos?
Na realidade, é na especificidade e na multiplicidade que reside o tesouro de uma comunidade. Somente um ensino bastante diversificado, pouco “controlado” e pouco concentrado se traduz em mais e melhores aprendizagens. O passado já demonstrou que ensinar e avaliar em formatos iguais e homogéneos não é sinónimo de sucesso escolar, sendo unicamente o caminho para a desmotivação e para o retrocesso. Será que o sucesso em exame não é apenas um dos vértices da “equação”? Será que o mesmo serve para tirar conclusões sobre a eficácia de uma escola? Será que não há configurações particulares e específicas que são passíveis de fomentar a eficácia de uma escola? Será que as escolas não podem assinalar algumas diferenças substanciais em relação ao género de ensino proporcionado aos alunos?
A questão da eficácia escolar é bastante debatida e escaramuçada na esmagadora maioria das sociedades desenvolvidas. A sociedade portuguesa não é obviamente excepção. Na realidade, as críticas à planificação, à eficácia e ao funcionamento das escolas são inúmeras e sempre com tendência para aumentar. Será que as observações e as apreciações da sociedade em relação à educação e aos seus resultados não são constantes e “pertinazes”? Será que esta configuração não edifica algumas superfícies de controvérsia e de instabilidade?
Os aspectos mais relevantes na avaliação da eficácia de uma escola acabam por estar relacionados com a gestão; a liderança pedagógica; a mobilidade do seu corpo docente, a articulação dos currículos; a organização social; as telas de desenvolvimento e de envolvimento de todos os profissionais; o compromisso e o apoio dos pais; o reconhecimento do sucesso académico por parte da comunidade em que a escola está inserida; o tempo dedicado à aprendizagem; os apoios oficiais e estatais; o sentimento de pertença em relação à comunidade; a definição de regras em conjunto com os professores; a presença da comunidade dentro da escola; as regras, a ordem e a disciplina instituídas; a definição transparente de objectivos de comportamento académico e social; a partilha e aceitação dos objectivos por parte da comunidade; a transmissão da ideia de exigência, sempre alicerçada em critérios de justiça, de interesse e de dedicação; as expectativas dos professores em relação ao seu próprio desempenho; os trabalhos de casa; e as expectativas por parte de todos os intervenientes.
A eficácia de uma escola está visceralmente associada à existência de articulação entre os métodos empregues dentro da sala de aula e as dinâmicas desenvolvidas ao nível da organização escolar. Portanto, e de uma forma resumida, podemos certamente asseverar que a eficácia está intimamente e fundamentalmente coligada à qualidade do ensino no interior da sala de aula; à precauciosa e criteriosa coordenação dos programas e dos currículos; e à capacidade para conceber e preservar um conjunto de sentimentos fortes e uma vincada cultura de valores. A cultura de valores deverá ser perfilhada e compartilhada pelos discentes e docentes. Será que os exames contribuem, de modo significativo, para a concretização de práticas inovadoras de ensino e de avaliação? Será que os mesmos contribuem para avaliar o sistema educativo e para melhorar a tomada de decisões a todos os níveis? Será que os rankings de exames alertam e encaminham as escolas para a necessidade de melhorarem os seus projectos educativos? Será que os mesmos fornecem indicações valiosíssimas às escolas, aos professores e aos alunos relativamente às matérias mais importantes? Será que os exames não se concentram unicamente nos conhecimentos académicos? Onde está a equidade na avaliação em exame de alunos com necessidades educativas especiais? Será que os exames não se distanciam das competências úteis? Será que essas competências não estão catalogadas com a vida real? Será que os exames não influenciam os propósitos, as estratégias, o grau de envolvimento e o comportamento dos alunos em relação aos próprios métodos de aprendizagem? Será que os rankings de exames não podem promover práticas fraudulentas? Será que os mesmos não podem instigar as escolas a centralizarem os seus esforços e recursos nos alunos que têm mais possibilidades de ter sucesso em exame? Será que os exames não discriminam os alunos? Será que os exames integram os alunos?