O “Clube de Oralidade – Pensar Alto” é fruto de um protocolo de colaboração entre a Município da Guarda e o Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, nomeadamente entre a Divisão de Educação, Intervenção Social e Juventude, e o Grupo de Filosofia da Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
O Executivo da Câmara Municipal, assim como os professores demonstraram, uma vez mais, enorme sensibilidade para enlaçar este projecto e compreender a pertinência do mesmo junto dos alunos.
O “Clube de Oralidade – Pensar Alto” decorreu entre os meses de Novembro de 2023 e Maio de 2024, com alunos de várias turmas do 10º, 11º e 12º ano. Os temas debatidos em sala de aula foram: “o culto ao corpo” e “os jovens e a política”.
De salientar o compromisso e a disponibilidade, por parte dos professores de Filosofia, para que o projecto seja uma realidade há vários anos. Neste particular, agradeço aos professores, que juntamente comigo dinamizaram este projecto de continuidade, António Madeira, Luísa Fernandes, Aureliano Valente, Albertino Vaz, e Lurdes Alves.
De referir que o “Clube de Oralidade – Pensar Alto” foi alvo de candidatura por parte do Município da Guarda, tendo sido aprovado pelo Conselho Científico da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras. Apresentei o projecto, em Torres Vedras, dia 10 de Novembro de 2023, no IX Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras.
As salas de aula, tal como se desejava, continuaram a ser genuínos espaços de debate, de aprendizagem e de participação activa dos estudantes. Tal como sucedeu em anos anteriores, as capacidades discursivas e argumentativas, no domínio da oralidade, foram promovidas. É fundamental impulsionar o pensamento crítico e as competências de comunicação.
Não tivemos auto-estimas inflamadas, nem tão pouco verdades absolutas. Ninguém colocou em causa os caminhos da liberdade de expressão. Os alunos tiveram opiniões perspicazes, incisivas e enérgicas sobre os temas propostos. Os jovens não são actores decorativos! Longe disso!
A liberdade, inerente às opiniões dos alunos, proporciona o envolvimento dos mesmos em diversos caminhos, sem que para isso exista a necessidade de se inquietarem com os destinos que escolhem nesses próprios “itinerários”. Não houve opiniões sem rosto, mas sim opiniões de alunos reais e audazes.
Os alunos atentos, exigentes e informados conseguem, mais facilmente, fazer escolhas conscientes e verdadeiramente livres. Os nossos jovens devem exigir um futuro melhor e, simultaneamente, ajudar a construir esse próprio futuro.
Necessitamos de massa crítica exigente e perseverante para acreditar. O pensamento individual tem obrigatoriamente de ser impulsionado. É importante palmilhar a cidade, a região, o país e o mundo. É fulcral voar em vez de rastejar e abandonar o açaime.
Tal como nos ensinou Eduardo Lourenço, necessitamos de construir sem dependência ou submissão, de perceber o significado das coisas, de ver mais adiante. Necessitamos de ter liberdade e audácia para aparecer, analisar o evidente e exigir o incomum. Necessitamos de irreverência no labirinto. Necessitamos que a nossa mente permaneça tranquila e inquieta.
Em Janeiro de 2024, em parceria com o Estabelecimento Prisional da Guarda, iniciámos a “Oficina de Declamação – Livres na Prisão”.
No Estabelecimento Prisional da Guarda, trabalhamos com cerca de 30 reclusos. Ainda não sabemos o dia, nem tão pouco o mês, mas os participantes vão actuar no Teatro Municipal da Guarda. O espectáculo irá juntar a poesia, a música, as vozes, as teclas e as cordas. Os participantes são fantásticos, estão bastante motivados e têm compromisso com a Oficina.
Todas as pessoas têm talento, bem como capacidade para criar e fazer acontecer. É relevante ter e dar novas oportunidades, sabendo que o hiato que existe entre estar deste lado ou estar institucionalizado é bastante franzino.
A declamação é o oposto da leitura “mecânica”. Declamar é interpretar. Declamar é uma arte que precisa de técnicas de dicção e entoação, mas sobretudo de emoção. De modo a transmitir a mensagem e a provocar sentimentos nos ouvintes, é necessário que o declamador esteja ligado emocionalmente aos poemas. Sentir os poemas, é o critério principal.
A Oficina de Declamação acaba por ser uma voz de compromisso, de confiança, de firmeza, de dedicação, de auto-estima, de motivação e de sorrisos francos. Constituem autênticos espaços de revelação, de libertação e de superação, nos quais viajamos, corremos, saltamos, rimos, aplaudimos, caímos, levantamo-nos e trabalhamos.
Tal como nos indica o poema “Urgentemente”, de Eugénio de Andrade, é pertinente construir e disseminar o amor, a amizade, a felicidade, a alegria, o sorriso, a fraternidade e a claridade. É urgente acabar com o silêncio, a solidão, o ódio e a guerra, assim como venerar a presença do outro, e celebrar a paz e a harmonia.
É seguramente importante fomentar a inclusão social, e melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos grupos através de práticas artísticas. Um território verdadeiramente inclusivo e educador promove um conjunto de iniciativas de intervenção social, através da arte e da cultura, junto de crianças e jovens, reclusos, pessoas com deficiência e cidadãos com problemas de saúde mental. A inclusão, a reflexão, o pensamento crítico, a valorização da diversidade cultural, o aperfeiçoamento das capacidades cognitivas e sociais, a ligação à literacia, a amputação dos preconceitos e a diminuição da discriminação em relação às pessoas mais vulneráveis constituem condições que devem ser constantemente avigoradas. A cultura também deve ter o papel de organizar as práticas pedagógicas. É relevante conceber novos artistas!
A “Oficina de Declamação – Livres na Prisão” estimula as capacidades criativas individuais e colectivas dos participantes, as competências pessoais e de interacção em grupo, sendo potenciadora de novas experiências emocionais e artísticas. Constitui um espaço libertador de sentimentos e reminiscências que combate a “sociedade descartável” que teima em amamentar a trivialidade, a aparência, os chavões e os estereótipos.
Para terminar, no âmbito da “Oficina de Declamação – Livres na Prisão” e no que diz respeito ao Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, de referir que o Grupo de Intervenção Cultural “Reflexo Imperfeito”, constituído por Albino Bárbara, Alexandre Gonçalves, Daniel Lucas, Luís Baptista-Martins e Pedro Correia, levou “Sentir Abril” ao Grande Auditório da Escola Secundária Afonso de Albuquerque, ao Parlatório do Estabelecimento Prisional da Guarda e ao Salão da Escola Básica de Santa Clara.
No próximo ano lectivo, vamos dar continuidade aos projectos!