Os barcos teimam em não retomar o seu lugar

A arte da tristeza
Molha a madrugada
Mudo e de cara fechada, cismo
Os barcos teimam em não retomar o seu lugar
Mar sinistro
Amarroto as ondas
Abandono as palavras
Curvo-me de frio
Espelho silencioso
Abraço o vazio
Afasto-me dos sonhos
Céu sem luzes
Janelas sem rostos
Não falo de amores
Passos distantes da poesia
Ritmos sem ternura ou paixão
Paladar da escuridão
Perguntas iminentes e dilacerantes
Água salgada
Vogar sem rumo
Aurora sempre hesitante
Adiar o coração
Semear pedras
Paisagens sepulcrais
Marés de agastamento
As lágrimas que ninguém vê
Vida trajada a ilusão
Lábios que suspiram
Náusea da muralha
Refúgio finito
Fantasmas ágeis
Frutos sem sabor
Longe de ti
Longe de mim
Longe de nós.