A escolaridade obrigatória agasalha a obrigatoriedade e a gratuitidade. Todavia, a gratuitidade não tem conseguido “revestir” algumas despesas adjacentes à escolaridade obrigatória e as famílias mais desguarnecidas continuam a ser muitíssimo afectadas. Apesar de muitos encargos serem velados pelas instituições, a realidade é que não são totalmente gratuitos. Ainda existem muitos jovens a ingressar no mercado de trabalho para ajudar a família. O rendimento económico das famílias acaba por ter uma conexão directa com a continuidade dos alunos na escola. Alguns obstáculos financeiros são: a alimentação, devido à deslocação e permanência nas escolas; a inconciliabilidade de horários com a restante família; e a perda de rendimentos familiares.
Na realidade, a tutela incrimina os professores, os docentes culpam os pais, os discentes acusam os pais, os pais culpam os professores e os docentes incriminam a tutela. O planeamento escolar precisa que todos os protagonistas sociais aconcheguem as mesmas conveniências e motivações. Será que os portugueses têm a consciência das verdadeiras razões da existência da escola, assim como do significado e importância que a mesma agasalha na sociedade?
A educação, assumida como uma “regalia” de todos e para todos, provocou um género de massificação do ensino que acabou por contribuir para a dilatação quantitativa do abandono escolar. Será que a massificação escolar foi concretizada com reorganizações ajustadas e verdadeiramente calculadas? Será que a imputação do abandono escolar no aluno e no núcleo familiar não consentiu que a escola aparecesse em tons de desculpabilização? Será que a escola, ao proporcionar igualdade de acesso a todos os alunos, não procurou deixar transparecer a imagem de que o fenómeno do abandono escolar era um problema unicamente individual e nunca institucional?
Comummente, a origem social é desenhada pelo escalão económico e cultural da família. Os discentes com mais dificuldades escolares acabam por pertencer, na maioria das ocasiões, a grupos sociais mais desprotegidos. Contudo, à medida que os discentes progridem nos degraus da escolaridade, esse tipo de influência diminui, o que deixa transparecer um alargamento dos resultados da socialização escolar. Salientar também que o grau de escolaridade dos pais também é uma condição relevante no aproveitamento escolar dos alunos, especialmente no apoio fora da escola.
A população estudantil é altamente heterogénea, uma vez que a mesma é procedente de dissemelhantes conjunções sociais, com culturas, instruções, experiências e conhecimentos variados. Assim, compete à escola criar mecanismos profícuos para estar à altura de toda esta pluralidade, incorporando os alunos no “argumento” e encadeamento escolar. Alguns alunos que abandonaram a escola tiveram problemas com a mesma. Será que a escola nunca os abandonou? Será que as particularidades do aluno, a disposição escolar e as políticas educativas nacionais foram alvo de ponderadas análises e de rigorosos planeamentos? Será que no seio do sistema de ensino não existem desigualdades que a escola não tem competência para combater?
Torna-se elementar compreender quais são as implicações e concatenações que este fenómeno acarreta para o mercado de emprego, uma vez que o nível de escolaridade é um factor essencial para o mesmo. O abandono escolar não só agasalha efeitos imediatos, como também resultados que somente terão concretização no futuro, prejudicando, de forma decidida e avassaladora, a “fecundidade” de toda uma Nação.
O abandono escolar potencial envolve todos os alunos que de alguma maneira já começaram a perder o interesse pela escola e que unicamente estão à espera de uma ocasião para a abandonar. O levantamento intensivo e abrangente deste tipo de contextos assume uma colossal importância para a edificação de projectos precaucionais que procurem restituir nos alunos o bom paladar pela escola. Será que a caracterização dos jovens que abandonam a escola não é algo imprescindível para se identificarem, de modo atempado, os alunos que efectivamente estão em risco de abandono? Será que não se podiam já ter evitado algumas situações reais de abandono escolar?
Para circunscrever o problema, torna-se indispensável a perfilhação de algumas medidas como sejam: a reestruturação pedagógica e didáctica da escola; a reformulação estrutural das actividades extracurriculares que a lei de bases apelida de complemento ou suplemento curricular; a valorização da extensão curricular que é composta pelas disciplinas, projectos, metodologias e sistemas de avaliação; o acolhimento de estratégias universais de providência na escola; o reconhecimento precoce dos impedimentos individuais; o acompanhamento particularizado; a assistência psicológica aos alunos; a concepção de um “miradouro” que descubra prematuramente os discentes que se encontram mais próximos do abandono escolar; a maior responsabilização da família em relação à educação dos filhos; a maior disponibilização de material didáctico para motivar os discentes; o reconhecimento das cláusulas e circunstâncias que promovem o abandono escolar; o acompanhamento mais próximo de todas as laborações desenvolvidas na escola; e a identificação do grupo alvo deste fenómeno.
Como se percebeu o abandono escolar tem a sua origem na escola, família, sociedade e mercado de trabalho. O método mais eficaz de o reprimir passa, necessariamente, pela sua prevenção. É crucial conhecer as vertigens do abandono escolar para agir no presente e no futuro, bem como contrariar a propensão, contemporânea e inconsequente, de “mitigação”.