Na Europa medieval dominava o Cristianismo. A religião era a conjunção que mais absorvia e “neutralizava” os indivíduos. Erguiam-se amiudadamente catedrais e a hierarquia eclesiástica, com prédicas em latim, habitava no topo da sociedade.
A religião desfrutava de uma notoriedade em grande escala, uma vez que toda a existência humana estava direccionada para o “além”. Infelizmente, e incompreensivelmente, as maiores batalhas, impiedades e atrocidades que se cometeram ao longo da história da humanidade tiveram a chancela da religião, ou seja, fundamentos religiosos.
Será que esta cnjuntura não sofreu elevadas metamorfoses com o decorrer dos tempos? Qual é a trama que domina o Ocidente? E o Oriente? Será que actualmente a crença na ciência e na técnica não ocupa o topo da pirâmide?
Será que os cientistas não estão no cume da hierarquia social? Será que contemporaneamente a língua comum não é a ciência? Será que o tesouro do século XXI não é o conhecimento?
Será que o homem actual não perfilhou os cânones da tranquilidade e do conforto? Será que os cidadãos contemporâneos não adoptaram os catálogos da interrogação e da interpretação?
Será que as ilustrações da ciência e as ilustrações da fé não são profundamente distintas? Será que o conhecimento científico não é verdadeiro?
A “discussão” sobre a função, sinuosidade e relevância da religião na sociedade moderna acaba por constituir um conteúdo de carácter público. Por essa razão, podemos afirmar que a mesma é parte integrante dos vértices e debates das ciências sociais.
Todavia, nos tempos mais recentes despontaram avolumadas dificuldades em compreender, enquanto textura social, os mecanismos e as dinâmicas da religião. Será que o conhecimento científico não pode ser degustado como um instrumento auxiliar e clarificador fundamental para os crentes?
Será que não é importante desobscurecer os prefácios e caminhos da fé? Será que os dogmas não devem ser defendidos somente depois de serem bem explicados e compreendidos?
No entrecorrer da história, a religião católica acabou por se institucionalizar a partir da estruturação e edificação do Vaticano como Estado. Deste modo, surgiu uma excessivamente robusta associação oligárquica capaz de influenciar a sociedade nos campos político, social e, sobretudo, económico.
Será que não existem algumas semelhanças entre a teia assestada pela religião católica e o archote armado pela religião muçulmana? Será que a verdade e o conhecimento só estão presentes no seio da religião católica?
Será que as outras religiões não encerram a verdade? Será que existe alguma religião que aconchegue elevadas doses de verdade? Será que essas verdades não podem ser consideradas autênticas ilusões e fantasmagorias?
Como já referi, os assuntos de pigmentação religiosa continuam a estar ubíquos na nossa sociedade. Contudo, e sem entrar em nenhuma espécie de contradição quanto à sua omnipresença, a religião, tendo como pano de fundo as sociedades modernas, vacila persistentemente entre a invisibilidade e a visibilidade, ou seja, entre a inexistência e a comparência.
Talvez esta posição algo “contraditória” colabore para embaraçar um esclarecimento proveitoso sobre a “localização” da religião nas sociedades modernas europeias.
Não há, nem tão pouco pode haver, uma fórmula social finalizada, pois a sociedade sofre constantes, e por vezes avantajadas, metamorfoses. Essas transformações acabam por ser imprevisíveis, uma vez que estão subordinadas ao uso autónomo que os indivíduos fazem dos seus padrões de inteligência, compreensão e “expugnação”.
A leitura de encíclicas e a leitura bíblica, bem como as dissertações sonolentas e monótonas da “palavra” de Deus constituem requisitos que já não são suficientes para confeccionar uma norma social católica. Será que não é fundamental que os cidadãos tenham um conhecimento penetrante, obviamente sem manipulação, sobre o conjunto de tradições que indumentam a Igreja Católica?
Será que não é igualmente elementar para as comunidades usufruir do conhecimento oriundo da ciência, da técnica e da filosofia? Será que a “omissão” não é um dos maiores pecados da Igreja católica e, consequentemente, dos católicos?
Será que os católicos não devem abandonar as zonas de acomodação e de falso conforto? Será que os católicos estão em consonância com o mundo actual? Será que os mesmos não devem anunciar uma titanesca esperança? Será que não é inquietante o bem que os católicos deixam de fazer?
Na superfície religiosa, as gerações mais novas pretendem ter experiências trajadas com vigorosas sensações. Quando as mesmas não se encontram na Igreja Católica, acabam por se procurar em outros cabimentos.
Será que a Igreja Católica se harmonizou aos tempos modernos? Será que a mesma não se fechou numa concha? Será que a Igreja Católica não mente descaradamente? Será que a época da razão absoluta não foi ultrapassada?
Será que o racionalismo não pode ser saboreado como um pilar das comunidades? Será que todos os cristãos acreditam nas discutíveis e dúbias verdades da fé? Será que os progressos científicos não ajudam o homem a conhecer-se substancialmente melhor?
Alguns grupos religiosos transformaram-se em autênticas máfias políticas e económicas. Desafortunadamente, boa parte do rebanho que conserva financeiramente esses grupos é composto por famílias com rendimentos exíguos.
A ostentação, presente por exemplo na Igreja Católica, não era, segundo aquilo que está escrito, o estilo de vida do Senhor. Apesar da minha descrença, e tendo unicamente em conta aquilo que está grafado, o Senhor doutrinou aos seus discípulos uma vida despretensiosa, modesta e sem traços de ganância.
Será que o Vaticano, assim como as suas “ramificações” não constituem um verdadeiro paradoxo em relação à “palavra” do Senhor? Será que os “intérpretes” da Igreja Católica não agasalham e exprimem elevadas doses de ganância?
Será que a Igreja Católica não é altamente pretensiosa, arrogante e imodesta? Será que é difícil decifrar: “Não possuais ouro nem prata, nem cobre em vossos cintos”? Será que a Igreja Católica tem algum argumento convincente para fundamentar o seu estilo de vida nada humilde?
Será que a mesma não é uma autêntica fraude ao erário público? Será que a Igreja Católica não adulterou os mandamentos do Senhor? Será que os “pastores” da fé não se transformaram em verdadeiros mercenários da fé?
Será que a profissão eclesiástica não serviu apenas os interesses de alguns grupos sociais? Será que a mesma não está embebida em licores putrefactos?
Incitadas pela intelectualidade e pelo movimento criador do homem, as transformações constantes que ocorrem na sociedade recaem sobre o próprio homem, sobre os seus objectivos individuais e colectivos, bem como sobre as suas formas de raciocinar e actuar.
Continuam a existir transfigurações sociais e culturais que influenciam o “espírito” religioso. Quando os indivíduos pretendem restringir a ciência à fé, facilmente e irreflectidamente abdicam da razão.
Em abono da verdade, temos que admitir que contemporaneamente há um declínio ininterrupto da prática religiosa, e um afastamento gradual em relação à fé e às verdades, ou inverdades, religiosas.
A mentalidade científica regula não só a cultura, como também os estilos de raciocínio. Esta “regulação” é executada de um modo totalmente dissemelhante daquele que desfilava no passado.
Não serão certamente as dissertações ideológicas deste ou daquele quadrante, nem as teologias de acomodação que apresentarão novos e proveitosos itinerários à sociedade e à própria Igreja. É imprescindível reconhecer a independência, assim como o direito de meditar de uma forma livre.
A modernidade, através do seu culto à razão, acabou por se concentrar na subjectividade. Será que a Igreja Católica não necessita de um maior número de revisões críticas?
A religião pode ser contemplada como uma conveniência social para os políticos e um acontecimento “comum” para as populações. Todavia, defendo, aqui e agora, que a mesma já não constitui para ninguém um sentimento consciente e fecundo.
Será que não estão a aumentar, consideravelmente, as atitudes de indiferença para com a Igreja Católica?
Torna-se indispensável que os homens aquartelem uma inteligência crítica que ouse traduzir, se é que ela existe, a mensagem de Cristo. Será que outrora o cristão tinha condições para se decidir como cristão?