A comunicação, por ser um sistema de “propagação” de informação que o homem pode “confeccionar” consigo mesmo ou com outros indivíduos, desagua em contextos de permuta e de partilha. Logo, e em linha directa de raciocínio, podemos afirmar que existe a comunicação intrapessoal e a comunicação interpessoal.
A comunicação, principalmente através da televisão, tem uma influência bastante significativa no público infantil. Em diversas ocasiões, as agências publicitárias aproveitam o “feitiço” que os desenhos animados exercem sobre as crianças e, de forma contraproducente, estruturam as suas próprias mensagens publicitárias. A agregação do entretenimento dos filhos com o gosto do regresso à infância dos seus pais faz, e apesar dos espectros consumistas que a publicidade hospeda, com que os anúncios, por exemplo de brinquedos, se transformem numa representação gaudiosa quer para os mais velhos, quer para os mais novos. O público infantil, por se identificar com este ou aquele desenho animado, coloca-se no papel de determinada personagem, aspirando, deste modo, a fazer parte integrante daquele universo “prestidigitador”. Será que a publicidade infantil deve ser formatada segundo os desejos anímicos da criança? Será que não deve existir uma preocupação constante na efectiva adequação das mensagens publicitárias ao seu público-alvo?
A publicidade representa o cenário urbano e desafia os cabimentos caseiros e familiares, assim como as dimensões públicas. Em vez de se capitanear pela reflexão e raciocínio humano, o chamamento da publicidade dirige-se ao desejo de conforto, de facilidade, de refinamento e de requinte que, segundo os seus “criadores”, nos transporta para uma condição de satisfação integral.
Contemporaneamente as crianças estruturam e criam as suas próprias opiniões e, na maioria das vezes, influenciam os adultos no acto da compra. A verdade é que a televisão teve a capacidade de se adaptar às necessidades dos telespectadores, que, para além dessa insígnia, também são os “fregueses”, os consumidores e o público-alvo dos profissionais da comunicação.
No universo globalizado em que vivemos, as disposições e as orientações metamorfoseiam-se velozmente, e, neste sentido, os anúncios têm quase a obrigatoriedade de escoltar não só o espírito do consumidor, como também as suas precisões e expectativas. Conservar uma imagem ininterruptamente “fashion” e descortinar as “afinidades” do cliente consiste numa empreitada espinhosa, na medida em que vulgarmente os anseios, gostos e paixões não são imóveis. Pelo facto de o comércio publicitário estar cada vez mais fragmentado, quanto mais a publicidade for específica, especial e singular, mais eficaz e perspicaz ela será para “afectar” ocasionado segmento.
Em convivência e proximidade com os outros, as crianças asseveram a sua identidade e personalidade. Esta “socialização” está intimamente conectada com a incorporação das mesmas na comunidade, sendo, concomitantemente, guarnecida por uma separação das crianças em relação aos seus progenitores. A necessidade que as crianças têm de crescer, de se desenvolver e de se comparar aos seus pais, poderá constituir uma condição visceralmente ligada à emancipação prematura das mesmas. Neste delineamento, é seguramente oportuno afirmar que a publicidade também se apresenta como um veículo através do qual as crianças inauguram os papéis dos crescidos, tornando-se, deste modo, uma “propina” relevante para a estruturação e configuração da sua personalidade.
As crianças, na sua esmagadora maioria, não estão indumentadas de uma colossal habilidade de leitura, e, por essa razão, torna-se mais espontâneo e agradável assistirem às imagens e sons, em simultâneo, que desfilam nas televisões do que propriamente descobrir um livro ou ler uma revista. Neste contexto, a bússola dos profissionais da publicidade e da gestão orienta-os, com a finalidade do lucro, para uma aplicação maior do seu orçamento neste meio de comunicação.
O brinquedo, por ser um desfecho de uma configuração alicerçada na auscultação e observação da sua correspondência com o meio, é uma realização humana, oferecendo, segundo alguns padrões modistas e legislativos, uma reprodução de uma determinada vivência humana. Nos ecrãs os brinquedos adquirem um diploma de imagem e “afiguração” sendo consumidos como produto. Em anúncios sobre brinquedos facilmente constatamos a comparência de crianças que se divertem através da interacção com o produto publicitado. Esta realidade outorga aos brinquedos uma existência, uma acção e um diálogo, enfim uma dissertação humana.
Já que em algumas matérias indecorosas somos “habilidosos” a importar ideias, porque não agasalhar entre nós uma legislação, à semelhança daquilo que acontece em alguns Países europeus, que proíba a publicidade vocacionada para o público infantil.